São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Fortalecido nos Estados, PSDB se arma para enfrentar Dilma

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

A realização do segundo turno espantou o fantasma de uma derrota acachapante da oposição, que reagiu, se reaglutinou e sai da eleição sem a Presidência, mas governando dez Estados, que reúnem mais de 50% da população. Se não venceu, também não perdeu.
É com esse arsenal e com os cerca de 43,6 milhões de votos de José Serra que PSDB e DEM pretendem enfrentar o governo Dilma Rousseff a partir do dia 1º de janeiro.
Com um trunfo: ser oposição a Dilma tende a ser bem mais fácil do que ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma é a primeira mulher eleita presidente, mas não é, e dificilmente será, um mito como Lula.
O beijo de Aécio Neves em Serra no último comício, em Minas Gerais, foi recebido como um ritual de transição geracional no PSDB. O primeiro discurso de Serra depois do anúncio da vitória de Dilma, porém, não foi de quem está para se aposentar.
Aos 68 anos, esta foi provavelmente a sua última eleição para presidente, mas Serra deixou pistas de que se mantém no páreo.
Ao falar o quanto quer ser presidente, disse: "Quis o povo que não fosse agora". E encerrou com um grito de guerra: "A luta continua".
Essa disposição de Serra vai reabrir a disputa cada vez mais ostensiva pelo poder interno no PSDB, dissimulada durante o segundo turno. Eleito senador, Aécio já vinha sendo aclamado mesmo durante a eleição como o principal líder da oposição a Dilma e o próximo candidato tucano a presidente.
Mas tem um passivo: a derrota de Serra é debitada, entre outras coisas, à vantagem de quase dois milhões de votos de Dilma em Minas Gerais, considerado o Estado-chave na eleição. Foram 6,2 milhões a 4,4 milhões.
Além de Aécio, que será oposição num Congresso francamente governista, o PSDB tem as lideranças emergentes de Geraldo Alckmin, reeleito em São Paulo, e de Beto Richa, eleito no Paraná. Ambos venceram no primeiro turno.
Aécio, Alckmin e Richa serão o trio de ouro do que Aécio chama de "transição geracional" do PSDB. O partido tende a ser menos paulista, mais nacional.
Isso não significa que Serra seja simplesmente alijado, nem que Fernando Henrique Cardoso deixe de ser a principal referência tucana.
Além de debater o futuro, a oposição vai ter de se unir e trabalhar intensamente para evitar a sangria, diante de mais quatro anos longe do poder e de suas benesses.
As principais dúvidas recaem sobre DEM e PPS, que vêm minguando. O DEM está sem perspectiva e o PPS tende a acabar, sendo anexado pelo PSDB.
Aécio vai tentar não só segurar os partidos e os políticos aliados como também ampliar os horizontes da oposição, fortalecendo laços, por exemplo, com o ex-governador Ciro Gomes e parcelas do PSB.
O grande risco do líder oposicionista em ascensão nem é a disputa de agora com Serra, mas sim bater de frente com a candidatura Lula em 2014. O PSDB sentiu na pele o que o "fator Lula" representa numa campanha presidencial.


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