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EUA avaliam que submarino nuclear é "elefante branco"
Diplomata diz em telegrama confidencial que pode haver "buraco negro" de verba
Revelação faz parte de leva de documentos da diplomacia americana vazados pela WikiLeaks a que a Folha teve acesso
FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA
Dois telegramas produzidos pela Embaixada dos EUA
em Brasília no início de 2009
fazem duras críticas à Estratégia Nacional de Defesa lançada pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, em dezembro de 2008.
Em um desses dois despachos aos quais a Folha teve
acesso, ambos assinados pelo então embaixador norte-americano no Brasil, Clifford
Sobel, há uma contestação
sobre como as Forças Armadas brasileiras serão empregadas no futuro, sobretudo
na proteção do mar territorial
do país por causa da descoberta das reservas de petróleo da camada do pré-sal.
"Não há (...) informação
sobre as possíveis ameaças a
áreas de reserva de petróleo e
a que a Marinha terá de responder contra-atacando, tornando difícil, por exemplo,
avaliar a declaração contida
na estratégia de que um submarino nuclear será necessário para proteger essas instalações", diz o telegrama, datado de 9 de janeiro de 2009.
A diplomacia norte-americana classifica como "consistente" o objetivo de modernizar o setor militar no Brasil,
mas faz então uma ressalva:
"Deixando de lado elefantes
brancos politicamente populares como o submarino movido a energia nuclear".
O desejo da Marinha de ter
um submarino nuclear é citado sete vezes nos dois telegramas da diplomacia dos
EUA. Ao final, esse equipamento é jogado numa lista de
itens que podem impedir a
concretização da Estratégia
Nacional de Defesa.
"Há (...) sérias questões sobre o quanto desse plano será realizado, particularmente
com outras supostas prioridades estratégicas, incluindo (...) submarinos nucleares
e apoio governamental a empresas do setor de defesa que
não sejam competitivas, algo
que pode provocar o surgimento de buracos negros que
vão sugar todos os recursos
disponíveis", diz o telegrama, confidencial.
A compra dos submarinos
foi fechada em setembro de
2009. São quatro modelos
convencionais Scorpène e o
desenvolvimento do casco e
da integração de um reator
brasileiro a uma unidade
com propulsão nuclear. O
negócio soma 6,5 bilhões de
euros (R$ 14,5 bilhões pela
cotação de ontem).
Os dois documentos (um
total de 12 páginas) a que a
Folha teve acesso ontem fazem parte de um grande lote
de telegramas dos diplomatas dos EUA que estão sendo
vazados desde domingo pela
organização não governamental WikiLeaks.
As informações estão surgindo no site da entidade:
http://cablegate.wikileaks.org/. A Folha.com criou
uma seção especial sobre o
caso: folha.com.br/103334
Os telegramas lidos pela
Folha são dedicados a analisar a Estratégia Nacional de
Defesa do Brasil.
Os textos chamam a atenção para o fato de que o governo "permite "parceiros estratégicos", mas esses são
vistos como os países que
aceitam transferir tecnologias que tornarão o Brasil
mais independente, não como um colaborador em operações de segurança".
MANGABEIRA
O então embaixador dos
EUA escreve em um trecho
que "parece que Lula dá
atenção" ao que dizia o então
ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger. Na verdade, a
influência dele -hoje fora do
governo- era mais retórica
do que prática.
Colaborou IGOR GIELOW, de Brasília
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