São Paulo, quinta-feira, 03 de novembro de 2011

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'Doutora Dilma' fez pressão para que Lula fosse a exame

Após saber da rouquidão do ex-presidente, ela orientou o cardiologista Roberto Kalil Filho a 'caçar o homem'

Quatro dias depois da conversa com Dilma, Lula foi ao hospital Sírio-Libanês com a mulher, Marisa Letícia

NATUZA NERY

DE BRASÍLIA

Antes de desembarcar em Manaus no último dia 24, Dilma Rousseff ficou ressabiada com o relato do ex-presidente Lula, seu companheiro de voo, sobre uma rouquidão estranha e persistente.
Naquela mesma segunda-feira, a presidente da República pediu à secretária uma ligação urgente assim que retornou a Brasília. "Kalil, você tem que caçar o homem. Ele não está legal." Do outro lado da linha estava Roberto Kalil Filho, cardiologista pessoal dos dois petistas.
Quatro dias depois do telefonema de Dilma, Lula aparecia no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Levava sua mulher, Marisa Letícia, incomodada havia dias por uma dor de cabeça.
O médico, então, aproveitou e examinou paciente e acompanhante.
Menos de 24 horas depois, uma equipe do Sírio anunciava o diagnóstico: o ex-presidente iniciaria rapidamente a quimioterapia para tratar um tumor na laringe.
Durante a viagem a Manaus, Dilma deu uma rara ordem ao padrinho político: "Nem pense nisso. Você vai ter de ir ao médico já!" Decidiu interferir ao desconfiar que o conselho não seria seguido. Lula temia confirmar o que suspeitava ser câncer.

PLANTÃO
O episódio apenas reforçou um dos apelidos da presidente: "Doutora Dilma".
Não foram poucas as ocasiões em que ela ligou para Roberto Kalil conduzindo assessores a seus cuidados.
No mês passado, o titular da Agricultura, Mendes Ribeiro, revelou à chefe a descoberta de um novo tumor no cérebro. Tinha cirurgia marcada para algumas semanas mais tarde.
Dilma fez um "não" com a cabeça, passou a mão no telefone e organizou a ida de Ribeiro ao Sírio-Libanês. No diagnóstico da "doutora Dilma", o procedimento deveria ser antecipado. E foi. Um avião do governo levou-o às pressas a São Paulo.
Dilma Rousseff costuma determinar checkups a assessores ao primeiro sinal de problema. E faz isso como quem ordena a elaboração de uma política pública.
Em junho, ela notou que o semblante do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) estava pálido. Mais uma vez, lançou a triagem clínica: despachou-o ao Sírio-Libanês, onde foi operado para tratar uma hemorragia.
Alguns dizem que o assunto "saúde" tornou-se caro a Dilma após a descoberta de um câncer no sistema linfático em 2009.
Já outras pessoas próximas lembram que a preocupação vem de antes.
Quando ministra da Casa Civil, ela ajudou a angariar fundos a fim de pagar uma UTI-aérea. Uma de suas auxiliares, grávida de sete meses, sofria de uma perigosa infecção no cérebro e precisava seguir às pressas para São Paulo. A paciente era Tereza Campello, hoje ministra do Desenvolvimento Social.


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