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Procurador acusa militar de torturar Dilma na ditadura
À Folha presidente eleita disse que capitão presenciou sessões, mas não a agrediu
Outros três integrantes das Forças Armadas são acusados em ação, que exige desculpas da União e do Estado de SP
FLÁVIO FERREIRA
DE SÃO PAULO
O Ministério Público Federal apresentou à Justiça uma
ação em que acusa um militar de ter torturado a presidente eleita Dilma Rousseff
(PT) e outras vítimas durante
o período da ditadura militar.
Na acusação formal, que
também pede a punição de
outros três militares, a Procuradoria reproduz um depoimento prestado por Dilma à
Auditoria Militar em 1970.
No testemunho, ela aponta Maurício Lopes Lima como
um dos torturadores da Operação Bandeirante, criada
em 1969 para reprimir opositores do regime.
Porém, em entrevista à Folha em abril do ano passado,
Dilma afirmou que Lima presenciou as torturas, mas não
realizou pessoalmente nenhuma agressão contra ela.
No depoimento de 1970,
usado pelo Ministério Público, a ex-ministra disse à auditoria: "na semana passada, dois elementos da equipe
chefiada pelo capitão Maurício compareceram ao presídio Tiradentes e ameaçaram
a interroganda de novas sevícias, ocasião em que perguntou-lhes se estavam autorizados pelo Poder Judiciário e recebeu como resposta
o seguinte: "Você vai ver o
que é o juiz lá na OB [Operação Bandeirante]'; (...) que
ainda reafirma que mesmo
no DOPS foi seviciada".
A Operação Bandeirantes
prendeu Dilma, que era militante de esquerda, em janeiro de 1970. De fevereiro a
maio daquele ano ela ficou
no Dops (Departamento de
Ordem Política e Social).
Em carta para uma comissão que analisou pedidos de
indenização para vítimas da
ditadura, Dilma relatou: "em
ambas as instituições, ou seja no Dops-SP, como na Operação Bandeirante, fui barbaramente torturada".
E descreve: "ou seja, choques elétricos, pau de arara e
palmatória, sendo várias vezes levada ao Hospital Central do Exército e para o Hospital das Clínicas devido a
hemorragias graves, tendo
inclusive perdido um dente".
Na ação, além de Lima são
acusados os militares reformados das Forças Armadas
Homero Cesar Machado, Innocencio Fabricio de Mattos
Beltrão e o capitão reformado da Polícia Militar de São
Paulo, João Thomaz.
Segundo a acusação, os
militares foram responsáveis
pelo assassinato de seis pessoas e pela prática de tortura
contra outras 20 vítimas no
período entre 1969 e 1970.
Se a acusação for aceita
pela Justiça, os militares passarão a ser réus na ação e poderão ser condenados a pagar indenização à sociedade
e a cobrir os gastos que a
União teve com ressarcimentos para as vítimas.
OUTRO LADO
Lima afirmou que Dilma
disse em entrevista não ter sido torturada por ele pessoalmente. Segundo ele, as acusações são infundadas.
Beltrão disse que só vai se
manifestar após ler a acusação da Procuradoria. A reportagem ligou para Thomaz e
Machado, mas eles não foram encontrados.
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