São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2010

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Patricinha de Barueri

Candidata a musa do Congresso, a novata tucana Bruna Furlan se vale da força do clã do pai prefeito para alcançar terceira maior votação à Câmara

Adriano Vizoni - 29.set;10/Folhapress
Bruna discursa ao lado de Serra em evento em Barueri

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Ao que tudo indica, por enquanto Bruna Furlan é apenas mais um rostinho bonito na política.
Aos 27 anos, sem nunca ter disputado uma eleição, foi escolhida deputada federal pelo PSDB de São Paulo com 270 mil votos, terceira maior votação do Estado -atrás somente de Tiririca (PR), 1,3 milhão de votos, e Gabriel Chalita (PSB), 560 mil.
Se não é jocosa nem escrachada como o palhaço campeão nem tem o apelo fácil do educador-religioso-conselheiro espiritual Chalita, o que explica, então, a enxurrada de votos de Bruna?
O sobrenome ajuda a compreensão do fenômeno. O pai de Bruna, Rubens Furlan (PMDB), é prefeito pela quarta vez de Barueri, município na Grande São Paulo.
O tio Celso Furlan é secretário de Educação da cidade.
Outro tio, Toninho Furlan, é presidente da Câmara de Vereadores, dominada pelo grupo político da família.
Os Furlan têm aliados em várias cidades da região, como Osasco, Itapevi, Carapicuíba, Santana do Parnaíba e Jandira, entre outras.
Os apoios renderam a Bruna "dobradas" com políticos tarimbados, como o ex-prefeito de Osasco Celso Giglio (PSDB) e o ex-prefeito de Barueri Gil Arantes (DEM), ambos eleitos para a Assembleia Legislativa paulista.
A deputada eleita declara-se interessada pela militância política desde pequena, mas nunca teve mandato ou ocupou cargo público.
A opção por um primeiro voo tão alto se deve à intrincada teia de alianças do pai -havia muitos correligionários tentando vaga de deputado estadual.
Bruna era do PMDB. Foi convidada a se mudar para o PSDB por José Serra.

VOLUNTÁRIA
Advogada formada pela Unip, com pós-graduação em gestão de cidades pela Faap, Bruna lista como experiência a atuação em projetos sociais na região e como diretora voluntária da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).
"Sei que tenho muita coisa a aprender, mas tenho muita boa vontade, muita boa intenção e tenho esperança de poder contribuir, com a minha juventude, na discussão de assuntos de interesse nacional", disse Bruna à Folha.
Entre os temas que diz pretender levar à Câmara, ela cita a reforma política e a reforma tributária. Questionada sobre qual proposta defende em relação ao primeiro assunto, foi evasiva, afirmando que a corrupção é o "câncer" da política. Citou o voto distrital, mas se confundiu com as diferenças deste para o voto em lista.
Disse que irá trabalhar também "no sentido de endurecer as leis para o meio ambiente". "Tenho muita vontade de me aprofundar nessa questão."
Bruna afirmou que tem "algumas ideias na questão da AACD, para a gente poder ajudar a AACD, que desenvolve um trabalho muito bonito".
"Sempre tinha vontade de levantar a bandeira das pessoas especiais."
Bruna contou que está se esforçando para chegar menos verde a Brasília.
"A minha primeira atitude depois da eleição foi ler o regimento interno da Câmara, para saber como funciona a Casa. Já li no meu último ano da faculdade, mas, como já faz uns quatro ou cinco anos, eu vou reler, para ter a noção exata do funcionamento."
De acordo com ela, "são muitas regras, é muito burocrático, para entender vai levar um tempo".
A futura parlamentar disse que ficou "muito triste" com a eleição de Tiririca, porque "nós precisamos eleger pessoas comprometidas". "Lá é a casa do povo, são os representantes da população que têm de estar lá, e não uma pessoa que foi usada."

MUSA
Com um tipo que mistura a beleza selvagem de Cindy Crawford (também tem uma pinta do lado esquerdo do rosto, acima da boca) com o estilo patricinha-religiosa de Sandy ou Sofia Alckmin, Bruna já desponta como candidata a musa do novo Congresso. Não gosta do rótulo. "Não tenho vaidade, não acho que isso acrescenta.
Quando puder mostrar o meu trabalho, acho que os comentários podem mudar.
Não sei como agir com tanta coisa que está acontecendo.
Estou feliz, mas um pouco assustada."
Nos vídeos de sua propaganda política, aparecia sendo fotografada como uma modelo, agitando o cabelo comprido e liso.

EVANGÉLICA E SOLTEIRA
Bruna é evangélica, da Congregação Cristã. Adora malhar e "essa questão da alimentação". "Se não fosse política, eu faria educação física, nutrição, fisiologia do exercício, gosto muito dessa parte", afirmou.
É solteira e não tem namorado. "É difícil namorar uma pessoa que se doa tanto à vida pública. É muito cansativo, não tem fim de semana nem feriado, você abre mão da vida pessoal. Eu me entrego totalmente. Meu pai me chama de animal político."
As semelhanças entre pai e filha podem ser vistas no exercício da política explícita, como no comício na quarta-feira passada em Barueri. No palanque, enquanto discursa, Bruna flexiona os joelhos e, com punhos cerrados, agita os braços para cima e para baixo. A única diferença é que Rubens Furlan costuma ficar com o dedo em riste.

BORDÕES
Nesses momentos, é comum ouvir alguns dos bordões da deputada federal de 270 mil votos.
Como: "É fácil mudar as pessoas de lugar; difícil e mais importante é transformar pessoas" [sempre que comenta sua experiência como voluntária em projetos de habitação popular].
Ou: "Costumo dizer que eu respiro política porque o meu pai exala política".


Colaboraram DANIELA LIMA e EVANDRO SPINELLI, de São Paulo

FOLHA.com
Leia íntegra da entrevista
folha.com.br/po810147


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