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Rússia entrega ao Brasil dossiê sobre Prestes
Arquivo Nacional receberá cópias de manuscritos, de artigos de jornais soviéticos e de fotografias do comunista
Filha de Prestes com Olga Benário, Anita Leocádia queria que documentos fossem para órgão presidido por ela
GRACILIANO ROCHA
DE PORTO ALEGRE
O governo russo vai entregar amanhã ao Brasil um
conjunto de documentos inéditos sobre o líder comunista
brasileiro Luiz Carlos Prestes
(1898-1990).
São cópias de manuscritos
de Prestes, de artigos de jornais soviéticos e de fotografias que serão encaminhadas
ao Arquivo Nacional.
A maior parte deles é do
período entre 1931 e 1934,
quando Prestes viveu exilado
na então União Soviética de
Josef Stálin (1878-1953).
O teor dos arquivos não foi
detalhado pelas autoridades
russas. A liberação do material foi decidida durante uma
reunião entre os presidentes
Luiz Inácio Lula da Silva e
Dmitri Medvedev.
A Folha apurou que Lula
interveio pessoalmente no
caso quando esteve em Moscou, em maio passado. Luiz
Carlos Prestes Filho, um dos
filhos do líder comunista,
acompanhou o presidente
em Moscou. Medvedev prometeu liberar o material, que
integra o acervo do Arquivo
Nacional Social e Político, sediado na capital russa.
Na sexta, o número 2 da diplomacia da Rússia, Andrey
Denisov, vai entregar os documentos ao diretor do Arquivo Nacional, Jaime Antunes da Silva, em cerimônia
no Itamaraty.
DISPUTA FAMILIAR
A destinação das cópias foi
decidida somente ontem. O
embaixador Serguey Pogóssovitch Akopov foi pressionado pelos herdeiros de Prestes, que travam disputa pelo
destino dos documentos.
A viúva Maria do Carmo
Ribeiro Prestes, com quem o
líder comunista teve nove filhos, apelou para os arquivos
serem encaminhados a uma
instituição pública.
"Para que seja salvaguardado para o futuro, o melhor
é abrigar no Arquivo Público
Nacional, uma instituição do
Estado brasileiro, e não uma
instituição x ou y", disse a
cientista política Ana Maria
Prestes Rabelo, 32, neta de
Prestes.
Já a historiadora Anita
Leocádia Prestes, 73, filha do
comunista com a alemã Olga
Benário (1908-1942), reivindicou a entrega dos documentos ao Instituto Luiz Carlos Prestes, que ela preside.
Anita Leocádia é autora do
livro "A Coluna Prestes" (Paz
e Terra), sobre a marcha liderada por ele entre 1925 e 1927.
Em carta dirigida a Akopov em setembro, ela protestou em tom duro por não ter
sido comunicada da entrega
dos documentos e pediu que
eles fossem encaminhados
ao acervo do instituto.
"Não só sou filha de Luiz
Carlos Prestes com Olga Benário Prestes como autora do
único trabalho de pesquisa
existente de caráter acadêmico sobre a Coluna Prestes [...]
Sinto-me, portanto, no direito de reivindicar a documentação", diz ela, em trechos da
carta.
ABRIGO DE STÁLIN
Após a Coluna, o então capitão Prestes, expoente do
movimento tenentista, exilou-se na Bolívia. Pouco antes da Revolução de 30, voltou a Porto Alegre e recusou
apoio a Getúlio Vargas no
golpe que o levaria ao poder.
Viveu exilado na URSS na
primeira metade da década
de 1930. Retornou ao Brasil
como enviado do Komintern
(organização dos partidos
comunistas) para articular a
ANL (Aliança Nacional Libertadora) e lideraria o fracassado levante que se tornaria conhecido como Intentona Comunista (1935).
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