|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Com a propaganda eleitoral, imagem substitui a política
LUIZ GUILHERME PIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Com o início da propaganda na TV e no rádio, os candidatos entram no que tende a
ser a reta final da campanha.
Embora seja relativamente
longa (de 17 de agosto a 30 de
setembro), nessa reta não
costuma haver ultrapassagem na disputa pela primeira
posição, a julgar pelas eleições presidenciais anteriores. Por isso, a vantagem com
que Dilma chega à última
curva -8 pontos, no último
Datafolha, a apenas 3 pontos
da vitória em primeiro turno- é muito importante.
Para ela, que vem crescendo à medida que se torna conhecida e, mais do que isso,
identificada como candidata
de Lula, a propaganda eleitoral permitirá apresentar-se à
fatia do eleitorado que ainda
não a conhece. Depoimentos
e cenas em que ela e Lula surgirão juntos, massivamente,
aos olhos e ouvidos do público poderão arrebanhar os votos de que ela precisa para
vencer no primeiro turno.
Para Serra, que largou na
frente, segurou a ponta muito tempo e agora está numa
situação de risco, atrás de
Dilma, a propaganda eleitoral é a última chance para recuperar velocidade e ao menos forçar o segundo turno.
Seus programas deverão tentar confrontar seu nome com
o de Dilma, evitando o discurso relativo a Lula. O tema
da experiência governativa
deve ser preponderante, explícita ou liminarmente.
O período de propaganda
eleitoral pode ser visto como
uma fase pós-política da
campanha. O jogo real de
alianças, composições, estruturações internas e posicionamentos segundo posições ideológicas ou partidárias -a política propriamente dita-, que foi o combustível até aqui, cede quase todo
o espaço à guerrilha virtual
de imagens, tanto visuais
quanto verbais (daí a importância de clipes e jingles).
Dadas a popularidade de
Lula e a forma como ele deverá se fundir à imagem de Dilma, parece mais factível que
Dilma seja beneficiada pela
propaganda eleitoral. A
chance de Serra desmontar a
imagem de Dilma era bem
maior antes do período que
se abre agora, quando ela era
menos conhecida e menos
identificada com Lula.
A propaganda eleitoral
também abriga a tentação de
fazer uso de denúncias e escândalos, cuja repercussão é
imensa por rádio e TV. Mas
trata-se de recurso de alto risco, por poder se voltar contra
quem o usa. Mesmo assim,
nem sempre os candidatos
têm resistido a usá-lo.
LUIZ GUILHERME PIVA, economista e
cientista político, é diretor da LCA
Consultores e autor de "A Miséria da
Economia e da Política" (Manole).
Texto Anterior: Dilma e Serra disputam na TV "continuidade" de Lula Próximo Texto: Na TV, Dilma usa "vacina" e fala da prisão Índice
|