São Paulo, sábado, 21 de agosto de 2010 |
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CLAUDIO WEBER ABRAMO Unanimidade sobre o vazio
AS ELEIÇÕES deste ano estão sendo acompanhadas de um fenômeno que parece inédito no país. Não tem sido possível encontrar-se opiniões discordantes entre aqueles que, habitual ou bissextamente, comentam o pleito nos veículos de comunicação. Todos, ou quase todos, os que escrevem sobre o assunto têm dito basicamente a mesma coisa: não há o que comentar sobre a campanha política, porque nesta campanha não há política. A referência usual é em relação ao pleito presidencial, mas o mesmo vale para as disputas em governos estaduais. O (pouco) que distingue os candidatos são detalhes gerenciais. Devido à pasteurização generalizada praticada pelos políticos, em outubro o eleitor brasileiro elegerá o equivalente ao gerente de um armarinho ou coisa assim. O noticiário desta Folha ("hard news", como se diz) mostra a mesma coisa. Já, já se verificará o fenômeno observado no jornalismo de grandes eventos, como Copa do Mundo ou guerras: à falta de assunto, jornalistas e comentadores passarão a entrevistar e a referir-se uns aos outros. Juntamente com a evidente falta de novas lideranças (participam das eleições as mesmas pessoas de sempre), a inapetência dos candidatos em abordar questões importantes é muito mau sinal. Significa que ninguém (fora os candidatos do PSOL e talvez os do PCO e PSTU, mas estes são geralmente vistos como livre-atiradores) está disposto a sair do lodaçal de mediocridade complacente em que todos chafurdam. É um retrato do país, é claro. O Brasil é assim, e os candidatos são o que o Brasil é. Mas eleições não são uma ocasião para propor mudanças, outras maneiras de ver as coisas, apontar caminhos? Não, ao menos para esses candidatos que estão aí e seus apoiadores. Na eleição presidencial, a candidata oficialista, como não poderia ser diferente, navega nas águas da ficção modernizada do "Brasil grande", motorizada por seu presidente-patrono. Acontece que seu principal opositor diz a mesma coisa, incluindo-se louvações ao presidente-patrono! Ora, se para o candidato opositor o Brasil anda tão bem, se tudo é tão bacana, se todo mundo está feliz como nos anúncios da Petrobras (e dos bancos, e da Vale etc.), que sentido haveria em alguém votar nele? Elas por elas, é melhor ficar com o que se conhece. O jogo é idêntico, embora com sinal trocado, em São Paulo, Estado que concentra 34% no PIB brasileiro e que, só por isso, mereceria uma atenção política muito maior do que se verifica. O candidato da situação não tem nada a dizer. Meramente simboliza a continuidade tucana, como se isso fosse um valor. Seu oposicionista petista faz a mesma coisa: nada tem a oferecer senão a proposição por "mudança". Mudança por mudança, melhor será votar no candidato do PCO. CLAUDIO WEBER ABRAMO é diretor-executivo da Transparência Brasil
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