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PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010
Datafolha mobiliza 313 profissionais
Pesquisadores do instituto enfrentam desde barcos quebrados até ameaças de prisão para ouvir os eleitores
Data de publicação dos levantamentos não é conhecida pela maior parte da Redação até dias antes da veiculação
UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO
Uma hora e meia após zarpar do porto Boizão, em Manaus (AM), o barco The Flash
pifou e ficou à deriva no rio
Amazonas. Faltavam ainda
30 minutos para chegar a Manaquiri, cidade de 21 mil habitantes onde Maurício de
Aquino deveria entrevistar 14
pessoas para o Datafolha.
O resgate aos 50 passageiros veio uma hora depois na
forma da lancha Glória a
Deus, que navegava ao som
de Bruno e Marrone.
Embora mais rápida que o
The Flash, a nova embarcação não evitou o atraso.
Aquino chegou ao seu destino com pouco tempo para fazer as entrevistas.
"Precisei correr para conseguir pegar o barco de volta
para Manaus. Como a cidade
é pequena e cheguei quase
na hora do almoço, acabou
sendo fácil abordar as pessoas", conta Aquino.
No Datafolha desde 2003,
Aquino é um dos 192 pesquisadores externos que cobriram 162 cidades brasileiras
para a pesquisa publicada
ontem. Afora os resultados
em si, eles constituem a face
mais perceptível do instituto.
ESTRUTURA
Mas o trabalho do Datafolha é garantido por uma estrutura invisível que envolveu, no caso dessa pesquisa,
313 profissionais responsáveis pelo planejamento do
processo, recebimento e processamento dos dados e checagem das informações, entre outras tarefas.
Ao longo do ano, o instituto Datafolha conta com uma
equipe fixa de cerca de cem
pessoas e realiza aproximadamente 500 pesquisas, a
maioria das quais não são
eleitorais, mas de mercado.
Enquanto tocava a pesquisa de intenção de voto, o Datafolha mantinha outros 35
projetos em andamento.
Entre as primeiras reuniões para elaboração dos
questionários e a publicação
do resultado transcorreram
12 dias. Nesse meio-tempo, o
segredo foi uma das principais obsessões do instituto.
A data de publicação dos
resultados da pesquisa, por
exemplo, não é conhecida
pela maior parte da Redação
até dias antes da veiculação.
O segredo é ainda maior
quando se trata dos resultados da pesquisa: pessoas envolvidas diretamente na produção das reportagens e na
edição de textos e artes só
têm acesso aos números
duas ou três horas antes do
fechamento do jornal, às 21h.
O próprio editor-executivo
da Folha, Sérgio Dávila, só
soube dos resultados às
16h10 de sexta-feira, embora
Mauro Paulino, diretor-geral
do Datafolha, já conhecesse
os números na véspera.
"A gente trata esse processo como uma operação de
guerra. Eventuais vazamentos seriam muito graves. Isso
se justifica porque o mundo
político usa o Datafolha como verdadeira pedra de toque para confirmar ou negar
tendências no cenário eleitoral", afirma Dávila.
Entre as 18h e as 20h de
sextas-feiras que antecedem
a publicação, Paulino costuma receber telefonemas de
colunistas da própria Folha e
de outros veículos em busca
de informação. Em vão.
Na Redação, a "operação
de guerra" se mostra justificada. Por volta das 19h30, repórteres da Folha (que não
conheciam o resultado) eram
procurados por assessores de
políticos que tentavam saber
notícias sobre a pesquisa.
Há outras etapas menos visíveis do processo que exigem igual segredo.
É o que ocorre com o sorteio das cidades e dos pontos
de fluxo onde serão feitas as
pesquisas. Nesse caso, a intenção não é evitar vazamentos, mas garantir que ninguém tente interferir na aplicação dos questionários.
INCIDENTES
Quando o segredo é impossível, como quando os
pesquisadores já estão em
campo, pede-se discrição. Há
exemplos históricos de pesquisadores que acabaram
presos em pequenas cidades,
nas quais suas presenças
chamavam muita atenção.
Pequenos incidentes desse tipo são a contrapartida da
metodologia do Datafolha, o
diferencial do instituto na
opinião de seu diretor-geral.
"Fazemos pesquisa nas
ruas, e não em domicílio, por
ser mais rápido, mais ágil e
porque é cada vez mais difícil
entrar em condomínios de luxo ou em favelas. Assim conseguimos abordar eleitores
do topo e da base da pirâmide social que não seriam entrevistados de outra forma."
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