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ELIO GASPARI
Luiz Zidane Lula da Silva
O presidente não pode sair por aí dando cabeçadas des-leais nos adversários; no "dia da farsa", o farsante foi ele
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PARA FICAR NA METÁFORA de
Lula, seu comportamento ao comparar o ataque sofrido por José Serra no Rio ao teatrinho do goleiro
chileno Roberto Rojas foi semelhante ao do jogador francês Zinedine
Zidane quando deu uma cabeçada
no zagueiro italiano Materazzi, em
2006.
Lula deve desculpas a Serra.
Chamou-o de mentiroso sem ver os
vídeos que reconstituem o incidente. Se os tivesse visto, não teria mentido, pois só uma pessoa desonesta
(e as houve, muitas) não via que retratavam dois episódios, distintos.
Serra foi atingido duas vezes, por
uma bola de papel e por um objeto
mais pesado. A entrada de Nosso
Guia no debate foi um golpe desleal, demagógico.
Se tivesse ocorrido um "dia da
farsa", com Serra simulando uma
agressão, teria havido uma malfeitoria de candidato. Infelizmente o
farsante foi Lula, no exercício da
Presidência da República, função
que está obrigado a honrar até o dia
1º de janeiro de 2011.
LÉVI-STRAUSS, O DOS LIVROS, NÃO O DOS JEANS
Saiu nos Estados Unidos uma boa
biografia do antropólogo Claude Lévi-Strauss, morto em 2009, em Paris,
quando se aproximava dos 101
anos. Seu autor é o jornalista australiano Patrick Wilcken, que já escreveu "O Império à Deriva", contando
a passagem de d. João 6º pelo Brasil. Ele conseguiu uma proeza, um livro legível e movimentado sobre um
pensador recluso e seco, pai de uma
teoria chamada de "antropologia
estruturalista" que escreveu obras
intituladas de "As Estruturas Elementares do Parentesco" ou "O Totemismo Hoje".
Lévi-Strauss começou sua carreira acadêmica no Brasil, acompanhando durante oito meses a vida
de índios da Amazônia. Entre 1935 e
1939, conviveu em São Paulo com
Mário de Andrade (que manteve
uma correspondência sentimental
com sua mulher, Dina) e no mato,
acompanhando os bororo e os nambikwara. O pesquisador carregava
consigo a macaquinha Lucinda.
Dessa viagem resultou "Tristes Trópicos", seu livro mais famoso, publicado em 1955.
O segredo de Wilcken esteve em
separar, até onde foi possível, a
aventura da vida de Lévi-Strauss da
complexidade dos debates filosóficos em que se envolveu. O professor
lidou com mitos indígenas e sábios
gregos, numa linguagem sempre difícil, às vezes indecifrável para os
leigos. Wilcken mostrou um personagem vivo, a quem um garçom de
San Francisco perguntou, ao conferir o nome de quem reservara a mesa: "O da calça ou o dos livros?"
Wilcken trabalhou com as anotações pessoais de Lévi-Strauss, suas
cartas e o primeiro original de "Tristes Trópicos". Contou a vida de um
intelectual francês que, em 80 anos
de reflexões, foi da esquerda socialista parisiense e da boêmia do
Greenwich Village para um discreto
tradicionalismo. Nesse retrato está
a grande virtude do livro.
Aos 82 anos, Lévi-Strauss foi contra a entrada de mulheres na Academia Francesa, mas, durante a Segunda Guerra, teve a vida salva, ou
pelo menos a liberdade, porque exilou-se nos Estados Unidos. Colegas
seus do Museu do Homem foram fuzilados ou mandados para campos
de concentração.
Na segunda metade da biografia
Wilcken expõe a construção e as polêmicas que cercaram o estruturalismo. A leitura dessa parte exige um
interesse indispensável para quem
quer saber da vida do fundador de
uma relevante corrente filosófica,
hoje bastante esmaecida.
- "Claude Lévi-Strauss - The Poet
in the Laboratory" está disponível
nas lojas de livros eletrônicos da
Amazon e da Apple. Custa 14,99 dólares (R$ 25,50). Rompida a barreira
do idioma, o e-book é um grande negócio. Sai pela metade do preço de
um volume semelhante, em português.
DA PESADA
Uma investigação conduzida
pela Polícia Federal estourou
uma quadrilha que agia dentro
do setor de fiscalização da Delegacia da Receita Federal de São
Paulo. Há um auditor preso e quilos de documentação apreendida. Pelo comportamento dos incriminados, o que não lhes falta é
ousadia.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota, mas
acha que descobriu um método
para avaliar a importância de um
assunto. Se algum magano diz
que uma coisa é um "factoide", o
cretino convence-se de que há caroço naquele angu.
Segundo Eremildo, sua teoria
pode ser provada na voz dos poderosos: Dilma Rousseff, diante
das primeiras denúncias contra
Erenice Guerra: "É um factoide".
José Serra, diante de perguntas
sobre as denúncias relacionadas
com "Paulo Preto": "Não sei
quem é "Paulo Preto". Isso é um
factoide".
MADAME NATASHA
Madame Natasha adora aulas
magnas e está inconsolável por
ter perdido a palestra da professora Hélène Trocmé-Fabre na
FGV-SP relacionada com a necessidade de se "reinventar o ofício de aprender".
Num anúncio do evento informava-se que "imagens fractais
ilustram o extraordinário poder
organizador e recursos de criação dos acontecimentos mentais
da nossa vida cognitiva". A professora lida com "o conceito de
Aprendência" e "apresenta considerações fundantes sobre o valor da linguagem do vivente", explorando "a transição educativa
de aprendizagem recíproca e da
organização aprendente".
Natasha não tem a menor
ideia do que estão falando.
LULA 65
Neste final de campanha, Lula
levou aos palanques um bordão
imperial. Como completa 65 anos
na quarta-feira, pediu em pelo menos três comícios (no Piauí, no Pará e em Goiás) que os eleitores lhe
deem a eleição de Dilma Rousseff
de "presente de aniversário".
Noves fora a pobreza de associar o mandato de presidente da
República a um mimo afetivo, o
lance indica o grau de personalismo que Nosso Guia impôs a sua
atividade política. Desde o Império, quando se festejava o aniversário de d. Pedro 2º (2 de dezembro), nunca na história deste país
um governante transformou seu
aniversário em efeméride política.
CARIMBOS
É dura a vida dos jornalistas
obrigados a carimbar a personalidade política dos outros. Lula não
sabe, mas o repórter Larry Rohter,
que ele quis expulsar do Brasil, batalhou duramente para que o
"New York Times" deixasse de rotulá-lo como "esquerdista". Na semana passada, na coluna "Lex", o
"Financial Times" classificou José
Serra como "o candidato de direita". Em agosto, no mesmo jornal,
o PSDB era "centrista", mas em
outubro tornou-se de "centro-direita".
SILÊNCIO DE OURO
De cada dez sábios do tucanato
envolvidos na queima de patrimônio da Viúva durante o tucanato,
nove ficaram calados diante da
satanização da privataria pelo PT.
Ingratos, pois alguns deles são hoje pessoas riquíssimas.
NO LIMITE
O segundo turno foi para a resistência física de Dilma Rousseff
algo como a descoberta, por um
atleta, de que, ao final de uma corrida de mil metros, faltam mais
500. Tudo isso com um tornozelo
atucanado.
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