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Voto das mulheres ainda é calcanhar de aquiles de Dilma
Demógrafo do IBGE calcula que petista teria vencido no 1º turno se não fosse o "gap" de gênero em seu eleitorado
Campanha do PT volta esforços para eleitoras acima de 40 anos, mas candidata não decola
no público feminino
UIRÁ MACHADO
DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO
Assim como aconteceu
com Lula nas cinco eleições
presidenciais que disputou,
as mulheres são o calcanhar
de aquiles de Dilma Rousseff.
De acordo com cálculo do
demógrafo José Eustáquio
Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas,
do IBGE, a candidata do PT
teria sido eleita no primeiro
turno não fosse o "gap" de
gênero -a diferença de votos
entre homens e mulheres.
Com base em 45 pesquisas
eleitorais realizadas neste
ano por Datafolha, Ibope,
Vox Populi e Sensus, Alves
acompanhou a diferença de
intenção de voto entre o eleitorado masculino e o feminino ao longo da disputa.
De acordo com ele, a média das quatro últimas pesquisas realizadas antes do
primeiro turno davam a Dilma 51% entre os homens e
43% entre as mulheres.
A diferença de oito pontos
percentuais, diz o demógrafo, representou cerca de 4,2
milhões de votos.
Como Dilma teve 47,6 milhões de votos e precisava de
pelo menos 50,85 milhões
para ser eleita (considerando
o mesmo universo de 101,6
milhões de votos válidos),
"pode-se afirmar que foram
as mulheres que jogaram as
eleições para o segundo turno", diz Alves.
Apesar dos esforços da
campanha, que direcionou
ações específicas para seduzir o público feminino, o
"gap" de gênero que valeu
no primeiro turno permaneceu após o dia 3 de outubro.
Segundo a mais recente
pesquisa Datafolha (dia 21),
Dilma tem 55% de intenção
de voto entre os homens e
45% entre as mulheres.
A diferença, de dez pontos
percentuais, é maior -em
termos proporcionais e absolutos- que entre os eleitores
de José Serra (PSDB). O tucano tem 38% entre as homens
e 41% entre as mulheres.
ESTRATÉGIA
Para Alves, tudo leva a crer
que, se Dilma ganhar, "será
uma vitória liderada pelos
homens", e, se Serra vencer,
"liderada pelas mulheres".
Trata-se de uma "guerra invertida entre os sexos".
O PT conhece de longa data a resistência do eleitorado
feminino. Coordenadores da
campanha de Dilma ouvidos
pela Folha avaliam que está
nas mulheres adultas, principalmente acima de 40 anos,
o maior desafio da candidata
neste segundo turno.
Segundo eles, essas eleitoras têm uma resistência
maior a mudanças.
E, mesmo com o discurso
de que Dilma representaria a
"continuidade" do governo
Lula, o simples fato de ser ela
a primeira candidata à Presidência no país representaria
um risco.
Por isso, na tentativa de
formular um discurso para
atrair o voto feminino, desde
o início da campanha o partido exaltou características
próprias do universo das mulheres, como o fato de Dilma
ser "mãe" e, mais recentemente, "avó" -algo que desagradou a feministas (veja
texto ao lado).
Ainda focada nessa fatia
do eleitorado, a campanha
adotou como bordão a tese
de que ela cuidará do povo
com amor maternal. A estratégia será repetida à exaustão até o fim da campanha.
É que, na avaliação do PT,
esse estrato do eleitorado
-mulheres acima dos 40
anos que não declaram voto
na petista- será o último a
decidir por um dos dois candidatos. E são os indecisos o
grupo que pode alterar o rumo da eleição.
Para Alves, do IBGE, a estratégia da campanha petista
deu certo na pretensão de associar a Lula o voto em Dilma. No entanto, diz ele, o
preço foi a perda da autonomia feminina da candidata.
A maioria vota nela não porque ela é mulher, mas "porque é a sucessora indicada
pelo popular presidente".
Ele considera "simplistas"
explicações como as de que
mulheres são mais conservadoras ou a de "mulher vota
em mulher": "o gênero opera
no campo da cultura, e não
no terreno da natureza".
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