São Paulo, quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

Escolha no BC confirma manutenção do rumo

Convite a Tombini pode ser lida como vitória do perfil técnico sobre os "desenvolvimentistas" e "mercadistas"


ESCOLHA GERA BOA RECEPÇÃO POR PARTE DOS QUE TEMIAM UNS E OUTROS E EXCITAVAM O MERCADO

LUIZ GUILHERME PIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Até ontem, antes do convite da presidente eleita, Dilma Rousseff, a Alexandre Tombini, havia certa excitação política em torno da nomeação do próximo presidente do Banco Central.
Especulava-se, no noticiário e nos mercados, sobre a continuidade de Henrique Meirelles e sobre a sua substituição por alguém rotulado de "desenvolvimentista" (mais inclinado a reduzir juros) ou de "ortodoxo" e "mercadista" (menos avesso a subir juros).
Apesar dessa agitação provocar ganhos e perdas no mercado, politicamente ela não se justificava.
Primeiro, porque não se deveria crer que o governo viesse a alterar as diretrizes que vêm garantindo crescimento, estabilidade e distribuição de renda -além da popularidade do presidente Lula e da eleição de Dilma Rousseff.
Em 2002/2003, dadas as incertezas, essa era uma das possibilidades. Mas a condução dada por Lula, Meirelles, Antonio Palocci e Guido Mantega nesses oito anos enfraquece tal hipótese.
Segundo, porque não existem mecanismos políticos que façam o Banco Central adotar orientações nas quais não acredite -havendo ou não autonomia formal.
Terceiro, porque o presidente do BC não decide sozinho: as votações principais (sobretudo a da taxa de juros) são realizadas no Comitê de Política Monetária, o Copom, integrado pelo presidente e por sete diretores do Banco Central.
O presidente do banco ser "desenvolvimentista" ou "ortodoxo" vale, a rigor, apenas um voto. Por último, o Copom recolhe dados, projeções e sensibilidades do mercado para calibrar suas decisões.
A racionalidade e as circunstâncias tornam quase previsíveis (com diferenças de timing e de dose -que às vezes tensionam analistas e atores) as principais decisões da instituição.
No âmbito político, o que a agitação abrigava era um núcleo da trama da montagem do governo. Quem sobe, quem desce, quais são os personagens principais, os coadjuvantes, quem gosta, quem desgosta.
E, apesar de alguns momentos mais nervosos, nada sinalizava mudança no roteiro em cartaz.
A escolha de Alexandre Tombini, diretor oriundo da carreira do BC, para presidente deverá ser lida como a vitória do perfil técnico sobre os "desenvolvimentistas" e "mercadistas".
Isso é positivo porque gera boa recepção por parte dos que temiam uns e outros e excitavam o mercado. Mas seu sentido maior é o da confirmação política do rumo que a macroeconomia vem seguindo no país.


LUIZ GUILHERME PIVA é diretor da LCA Consultores. Publicou "A miséria da economia e da política" (Manole).


Texto Anterior: Ligada a José Dirceu, Belchior chefia PAC
Próximo Texto: Perfil: Funcionário de carreira, Tombini "não tem corrente"
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.