São Paulo, terça-feira, 25 de janeiro de 2011
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ANÁLISE Entre a lei e o voto, instinto dos políticos escolhe o voto RUBENS FIGUEIREDO ESPECIAL PARA A FOLHA É possível encontrar deputados que passaram a Legislatura sem tomar a iniciativa de propor uma só lei. Mas deputado sem voto não existe. Entre a lei e o voto, o instinto de sobrevivência do político exige que ele fique com o voto. Sem lei, pode ser. Sem voto, nunca. É essa a explicação da inoperância da Assembleia Legislativa de São Paulo -e de outros Legislativos- em anos eleitorais. Os deputados, nesse período, precisam se jogar de corpo e alma na campanha política e muitas vezes suas bases eleitorais ficam distantes da Casa de leis. Mais que isso. Nos meses que antecedem as eleições, intensificam-se as viagens para encontros com prefeitos, vereadores, religiosos e outros líderes locais. São reuniões, caminhadas, cerimônias, almoços, jantares, visitas. Quem analisa o perfil de votação dos deputados eleitos percebe que um número expressivo teve votos em várias cidades. Para completar o quadro, muitas vezes o deputado se envolve pessoalmente na parte operacional de campanha, funcionando como o coordenador do processo. Financiamento, comunicação, eventos, contratação de cabos eleitorais, carros -é um mundo de providências que precisam ser tomadas. Mas tem o outro lado da moeda. Se a produção legislativa é pífia, o contato representante-representado aumenta exponencialmente. É o momento que o deputado mais "precisa" do eleitor. É quando presta contas do que fez, projeta o que vai fazer, promete, implora. Na verdade, a lógica institucional entra em flagrante descompasso com a racionalidade individual. Pelas boas regras da democracia, seria de esperar que os deputados colocassem as responsabilidades de sua função acima de tudo -e ficassem trabalhando para criar boas leis, promover debates frutíferos e fiscalizar os atos do Executivo. Mas a racionalidade individual reclama conduta oposta. Se o deputado quiser continuar deputado, ele precisa ter uma boa votação, que exige empenho e muito tempo. E aí sua atividade parlamentar fica necessariamente relegada a um segundo plano. Não tem jeito de ser diferente. RUBENS FIGUEIREDO, cientista político pela USP, é diretor do Cepac - Pesquisa e Comunicação e autor, entre outros, de "Marketing Político e Persuasão Eleitoral". Texto Anterior: Outro lado: "Assembleia não tem nada para votar", diz presidente Próximo Texto: Janio de Freitas: A hora dos silêncios Índice | Comunicar Erros |
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