São Paulo, sábado, 25 de dezembro de 2010

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Força no interior de SP foi lastro eleitoral, mas não levou ao Planalto

DE SÃO PAULO

Natural de Pedregulho (SP), onde nasceu em 18 de agosto de 1938, aos nove anos Orestes Quércia vendia melancias; aos 14, reformava e vendia bicicletas usadas; aos 18, era proprietário de uma mercearia e, depois, de uma fábrica de fubá e de compotas. Seus negócios se multiplicariam com sua entrada no mercado imobiliário na região de Campinas.
Iniciou sua vida pública no movimento estudantil campineiro, na Escola Normal Livre e na PUC local. Em 1959, passou a trabalhar em jornais e rádios da cidade.
Formou-se em direito em 1962 e, no ano seguinte, foi eleito vereador pelo Partido Libertador. Com a extinção do pluripartidarismo pelo Ato Institucional nº 2, de outubro de 1965, filiou-se ao MDB e elegeu-se deputado estadual em 1966.
Vice-líder da oposição, foi eleito prefeito de Campinas em 1968. Fez seu sucessor em 1972, num quadro de grande derrota nacional do MDB.
Empenhou-se em reestruturar o partido no Estado: aumentou os diretórios municipais de 204 (1969) para 371 (1974), o que lhe daria 80% dos votos na convenção do MDB, pavimentando o caminho para o Senado. Nas urnas, foi esmagadora a vitória sobre o candidato do regime, o senador e ex-governador Carvalho Pinto, com margem de 3 milhões de votos.
Era seu primeiro grande momento de projeção nacional. Nas palavras de Elio Gaspari em "A Ditadura Derrotada" (Cia. das Letras), "Orestes Quércia tinha 36 anos, bisavô e mãe italianos, costeletas de caminhoneiro e nariz de comediante. Prefeito de Campinas, saíra do nada. A rigor, nada era. Elegeu-se senador por São Paulo e tornou-se uma das encarnações da vitória do MDB em 1974".
No Senado, adotou perfil crítico ao governo Geisel. Em 1977, surgiriam acusações de corrupção na prefeitura.
Em 1979, fundou um jornal em Campinas, que em 1981 seria incorporado pelo "Diário do Povo" -um dos mais tradicionais da cidade-, do qual se tornou sócio. Seus negócios na área jornalística incluiriam, em 1988, a compra do paulistano "Diário Popular", que em 2001 seria vendido às Organizações Globo.
Vice-governador de Franco Montoro, eleito em 1982, Quércia teve influência modesta no governo. Não conseguiu impedir a escolha de Fernando Henrique Cardoso para a presidência do PMDB paulista, nem a indicação de Mário Covas para a Prefeitura de São Paulo, em 1983. Também não emplacou Almino Affonso como candidato a prefeito da capital, em 1985.
Dedicou-se então a fortalecer suas bases: em 1986, já controlava 70% da legenda no Estado. Com Covas e FHC concorrendo ao Senado, viu-se livre para tentar chegar ao Palácio dos Bandeirantes.
Mal colocado nas primeiras pesquisas, assumiu a liderança com o início do horário eleitoral. Venceu a eleição com 5.578.795 votos (36,1%) graças ao interior (perdeu na capital para Antonio Ermírio, do PTB). Naquele ano, no embalo do Plano Cruzado de José Sarney, o PMDB fez 22 governadores.

GOVERNADOR
No governo paulista, destacou-se por suas obras -duplicação de rodovias, metrô, modernização das ferrovias da Fepasa, construção da usina de Três Irmãos- e pelas acusações de corrupção, que levaram ao afastamento do auxiliar Otávio Ceccato.
Em 1988, viu a ala do PMDB liderada por Montoro, Covas e FHC deixar o partido para criar o PSDB. No ano seguinte, não arriscou a candidatura à Presidência, apesar da liderança nas pesquisas.
Em 1990, fez seu sucessor, Luiz Antonio Fleury Filho, mas deixou o Estado endividado e sem capacidade de investimento. Três casos tiveram ampla repercussão: supostas irregularidades na importação de equipamentos de Israel, a privatização da Vasp e o rombo do Banespa.
Desgastado pelas denúncias, assumiu a presidência do PMDB em 1991. Em 1994, foi escolhido candidato do partido à Presidência, derrotando Roberto Requião numa prévia, da qual José Sarney desistiu de participar. Teve, porém, mau desempenho nas urnas: em quarto, com 4,4% dos válidos, ficou atrás de Enéas Carneiro, do Prona.
Começava então a ver aliados como Alberto Goldman e Aloysio Nunes Ferreira bandearem para o PSDB. Em 1998, tentou novamente o governo paulista, mas obteve apenas 4,3% dos votos válidos. Covas foi reeleito.
Em 2002, aliado a Lula, não conseguiu voltar ao Senado, perdendo para Aloizio Mercadante (PT) e Romeu Tuma (PTB). Em 2006, tentou novamente o governo do Estado, obtendo 4,6% dos votos válidos. José Serra (PSDB) foi eleito.
Em 2008, aproximou-se de Serra e apoiou Gilberto Kassab (DEM) na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Em 2010, voltou a tentar o Senado, com apoio de Serra, mas desistiu ao descobrir o câncer de próstata que o mataria.


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