São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 2011

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ANÁLISE O DILEMA DA PRESIDENTE

Aprovação de Dilma guiará apoio de aliados

Desaceleração do país pode levar à queda na avaliação, o que trará dificuldades à aprovação de projetos no Congresso


FUTURO POLÍTICO DE DILMA DEPENDE DA CAPACIDADE DE ENTREGAR SERVIÇO PÚBLICO DE MAIOR QUALIDADE PARA A NOVA CLASSE MÉDIA

CHRISTOPHER GARMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

A postura firme que a presidente Dilma tem adotado com relação às acusações de corrupção no seu governo e a sua decisão de substituir nomeações políticas por técnicas têm raízes que vão além do seu perfil gerencial.
A reação do governo deve ser vista sob a ótica de uma nova demanda do eleitorado brasileiro, que surge com o crescimento da classe média.
A entrada de 30 milhões de brasileiros na classe C entre 2003 e 2009 é uma pequena revolução social, e terá repercussões políticas profundas.
Se há seis anos emprego e renda eram as principais preocupações do eleitor, agora pesquisas mostram que qualidade de ensino, saúde e segurança se tornaram as principais demandas.
Não basta a economia crescer. O futuro político do governo depende da capacidade de entregar um serviço público de maior qualidade para a nova classe média.
Por essa razão, a recente faxina nos ministérios representa algo que vai além de uma ação pontual. O custo político de ter ministérios mal geridos por nomeações políticas está subindo.
O grande dilema desse governo, portanto, é que o caminho para ter um Estado mais eficiente, capaz de suprir as demandas desse novo eleitorado, entra em choque com os requisitos de manter uma base de apoio parlamentar -o chamado presidencialismo de coalizão.
A boa notícia para Dilma é que a insatisfação na base aliada, que foi inflada pela contenção de gastos do governo, pode ser contornada.
A presidente goza de altos índices de aprovação, está no início de seu mandato e sua base aliada é maior que a de Lula. Portanto, Dilma tem gordura para "queimar".
Congressistas podem estar insatisfeitos, mas é muito cedo para abandonar o barco.
O fato de o Congresso ainda não ter instalado uma CPI da Corrupção é prova disso.
Mas também se pode dizer que este governo, muito mais que o anterior, necessita de um alto índice de aprovação para conter a insatisfação parlamentar. E a má notícia é que a aprovação da presidente provavelmente vai cair nos próximos seis a 12 meses.
Com a economia interna desacelerando e a internacional em dificuldades, a sensação de bem-estar econômico deve cair. E qualquer queda na aprovação do governo certamente se traduzirá em maiores dificuldades em aprovar projetos de interesse do Executivo.
Por ora, Dilma pode focar na eficiência do Estado sem pagar um custo político alto.
Mas esse equilíbrio será cada vez mais difícil de se manter.


CHRISTOPHER GARMAN é diretor para a América Latina da consultoria Eurasia Group.


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