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Os 'olheiros' de Dilma
Como ministra, petista apontou pessoas de sua confiança
para postos-chave em estatais e dividiu o resto com partidos
RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO
Nos anos em que comandou o setor elétrico do país,
Dilma Rousseff montou um
arranjo delicado para lidar
com os grupos que mandavam na Eletrobras e nas outras estatais do setor antes da
chegada do PT ao poder.
Agora, escudeiros da candidata petista, como o ex-ministro da Fazenda Antonio
Palocci Filho, mencionam
essa experiência sempre que
alguém duvida da sua habilidade para administrar as
pressões que sofrerá dos partidos políticos que a apoiam
se for eleita presidente.
Como ministra de Minas e
Energia, Dilma apontou colaboradores de sua confiança
para postos-chave nas estatais e mandou que agissem
como olheiros, zelando para
que diretores apadrinhados
por outros partidos seguissem as diretrizes do governo.
A maioria dos cargos da
Eletrobras e das suas subsidiárias foi preenchida por indicações do PMDB e de outros partidos da base governista, mas nenhuma decisão
importante é tomada até hoje
sem a concordância dos diretores escolhidos por Dilma.
"Eu vi no governo como
ela articulou com maestria a
gestão do setor com o
PMDB", disse Palocci num
encontro com empresários
em São Paulo há duas semanas, como noticiou a coluna
Mônica Bergamo, na Folha.
AFILHADOS
Os diretores das áreas de
engenharia e construção da
Eletrobras e de suas subsidiárias foram quase todos escolhidos por Dilma no início
do governo Lula, em 2003.
Cabe a eles acompanhar
grandes obras e negociar
contratos com empreiteiras e
outros grandes fornecedores.
O afilhado mais influente
de Dilma é o diretor de engenharia da Eletrobras, Valter
Cardeal. Gaúcho como a ex-ministra, ele trabalhou com
ela no Rio Grande do Sul e é o
único dirigente da estatal
que se mantém no cargo desde o começo do governo.
Ele continuou se reportando diretamente a Dilma
quando ela virou chefe da
Casa Civil e o PMDB assumiu
o Ministério de Minas e Energia, em 2005. "Ele não faz nada sem falar antes com ela",
disse um empresário que tem
negócios com a Eletrobras.
Na Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco),
onde a maioria dos cargos foi
preenchida por indicações
do PSB, o homem de Dilma é
o petista José Aílton de Lima,
diretor de engenharia desde
2003. Na Eletrosul, seu aliado é Ronaldo Custódio.
Os amigos de Dilma acumularam muito poder, mas
entrevistas com várias pessoas que acompanharam sua
atuação nos últimos anos indicam que nem sempre o sistema criado pela ex-ministra
funcionou tão bem como
seus defensores sugerem.
Um dos primeiros colaboradores que ela recrutou
quando chegou ao ministério
foi afastado dois anos depois, acusado pela própria
Dilma de criar dificuldades
para partidos aliados ao governo, segundo duas pessoas
familiarizadas com o caso.
Escalado para a diretoria
de engenharia da Eletronorte, Israel Bayma teria vetado
projetos de interesse do
PMDB e do PTB, que na época fazia parte do bloco governista e hoje está na oposição.
Procurado pela Folha, Bayma não quis dar entrevista.
No lugar de Bayma entrou
Adhemar Palocci, irmão do
ex-ministro da Fazenda. Ele
continua até hoje na Eletronorte e é quem manda de fato
na estatal. O presidente e os
outros diretores da empresa
foram indicados pelo PMDB.
INCÔMODO
Alguns dos petistas que
ganharam posições destacadas nas estatais no início do
governo Lula saíram mais
tarde contrariados com mudanças feitas por Dilma no
setor e incomodados com o
loteamento das empresas.
O último a bater a porta foi
José Drumond Saraiva, ex-sindicalista que foi diretor financeiro da Eletrobras até
2007. Ele sugeriu a dois amigos que deixou o governo decepcionado, mas também se
recusa a dar entrevista. Drumond se desfiliou do PT depois de entregar seu posto.
Na campanha eleitoral,
sempre que é questionada
sobre a distribuição de cargos na máquina do governo,
Dilma afirma que não vê nada de errado com nomeações
políticas se os indicados tiverem competência técnica.
Mas o critério nem sempre
prevaleceu no setor elétrico.
Furnas, uma subsidiária da
Eletrobras que se tornou um
feudo do PMDB do Rio, foi
presidida durante um ano
pelo ex-prefeito Luiz Paulo
Conde, que é arquiteto.
"O PT prometia recuperar
essas empresas, mas preferiu
usá-las como instrumentos
para garantir o apoio dos partidos ao governo", disse o engenheiro Roberto D'Araújo,
que participou do conselho
de administração de Furnas
no início do governo Lula.
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