São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2010

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Os 'olheiros' de Dilma

Como ministra, petista apontou pessoas de sua confiança para postos-chave em estatais e dividiu o resto com partidos

RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO

Nos anos em que comandou o setor elétrico do país, Dilma Rousseff montou um arranjo delicado para lidar com os grupos que mandavam na Eletrobras e nas outras estatais do setor antes da chegada do PT ao poder.
Agora, escudeiros da candidata petista, como o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho, mencionam essa experiência sempre que alguém duvida da sua habilidade para administrar as pressões que sofrerá dos partidos políticos que a apoiam se for eleita presidente.
Como ministra de Minas e Energia, Dilma apontou colaboradores de sua confiança para postos-chave nas estatais e mandou que agissem como olheiros, zelando para que diretores apadrinhados por outros partidos seguissem as diretrizes do governo.
A maioria dos cargos da Eletrobras e das suas subsidiárias foi preenchida por indicações do PMDB e de outros partidos da base governista, mas nenhuma decisão importante é tomada até hoje sem a concordância dos diretores escolhidos por Dilma.
"Eu vi no governo como ela articulou com maestria a gestão do setor com o PMDB", disse Palocci num encontro com empresários em São Paulo há duas semanas, como noticiou a coluna Mônica Bergamo, na Folha.

AFILHADOS
Os diretores das áreas de engenharia e construção da Eletrobras e de suas subsidiárias foram quase todos escolhidos por Dilma no início do governo Lula, em 2003. Cabe a eles acompanhar grandes obras e negociar contratos com empreiteiras e outros grandes fornecedores.
O afilhado mais influente de Dilma é o diretor de engenharia da Eletrobras, Valter Cardeal. Gaúcho como a ex-ministra, ele trabalhou com ela no Rio Grande do Sul e é o único dirigente da estatal que se mantém no cargo desde o começo do governo.
Ele continuou se reportando diretamente a Dilma quando ela virou chefe da Casa Civil e o PMDB assumiu o Ministério de Minas e Energia, em 2005. "Ele não faz nada sem falar antes com ela", disse um empresário que tem negócios com a Eletrobras.
Na Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), onde a maioria dos cargos foi preenchida por indicações do PSB, o homem de Dilma é o petista José Aílton de Lima, diretor de engenharia desde 2003. Na Eletrosul, seu aliado é Ronaldo Custódio.
Os amigos de Dilma acumularam muito poder, mas entrevistas com várias pessoas que acompanharam sua atuação nos últimos anos indicam que nem sempre o sistema criado pela ex-ministra funcionou tão bem como seus defensores sugerem.
Um dos primeiros colaboradores que ela recrutou quando chegou ao ministério foi afastado dois anos depois, acusado pela própria Dilma de criar dificuldades para partidos aliados ao governo, segundo duas pessoas familiarizadas com o caso.
Escalado para a diretoria de engenharia da Eletronorte, Israel Bayma teria vetado projetos de interesse do PMDB e do PTB, que na época fazia parte do bloco governista e hoje está na oposição. Procurado pela Folha, Bayma não quis dar entrevista.
No lugar de Bayma entrou Adhemar Palocci, irmão do ex-ministro da Fazenda. Ele continua até hoje na Eletronorte e é quem manda de fato na estatal. O presidente e os outros diretores da empresa foram indicados pelo PMDB.

INCÔMODO
Alguns dos petistas que ganharam posições destacadas nas estatais no início do governo Lula saíram mais tarde contrariados com mudanças feitas por Dilma no setor e incomodados com o loteamento das empresas.
O último a bater a porta foi José Drumond Saraiva, ex-sindicalista que foi diretor financeiro da Eletrobras até 2007. Ele sugeriu a dois amigos que deixou o governo decepcionado, mas também se recusa a dar entrevista. Drumond se desfiliou do PT depois de entregar seu posto.
Na campanha eleitoral, sempre que é questionada sobre a distribuição de cargos na máquina do governo, Dilma afirma que não vê nada de errado com nomeações políticas se os indicados tiverem competência técnica.
Mas o critério nem sempre prevaleceu no setor elétrico. Furnas, uma subsidiária da Eletrobras que se tornou um feudo do PMDB do Rio, foi presidida durante um ano pelo ex-prefeito Luiz Paulo Conde, que é arquiteto.
"O PT prometia recuperar essas empresas, mas preferiu usá-las como instrumentos para garantir o apoio dos partidos ao governo", disse o engenheiro Roberto D'Araújo, que participou do conselho de administração de Furnas no início do governo Lula.


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