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A revolução de 1905
Cinco artigos do físico Albert Einstein que mudaram a compreensão do Universo
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HENRIQUE FLEMING
O Ano Miraculoso de Einstein
Organização e introdução: John Stachel
Tradução: Alexandre Carlos Tort
Ed. UFRJ (Tel. 0/xx/21/2295-1595)
224 págs., R$ 30,00
É concebível que, no futuro, a física, ou a ciência em geral, venha a ser obra de robôs. Alguns dizem que já o é, mas isso é ainda apenas uma das múltiplas formas de vilipendiar os cientistas. Mas chegaremos lá. Existe já uma área da matemática denominada "demonstração automática de teoremas", e o xadrez, forma muito elementar da matemática, já não nos pertence desde o episódio do "Big Blue" [supercomputador desenvolvido pela IBM].
A proposta recente de Stephen Wolfram, de que toda a natureza seja o resultado da iteração interminável de um algoritmo muito simples, seria um passo
nessa direção (se correta fosse). Quando
isso acontecer, a ciência deixará de ser
"interessante". E cessará, também, a importância de que seja interessante: não
haverá mais necessidade de atrair para
ela jovens talentosos. Feita por homens, e
subordinada às misérias da contingência
humana, a ciência insere-se harmoniosamente na épica da humanidade: os "Principia" de Newton são um capítulo ilustre
dessa épica, que, atendo-se às fontes preservadas, começou com a crônica de Homero da Guerra de Tróia. Feita por robôs,
e, principalmente, ser for verdadeira a tese de Wolfram, não passará de uma grande aposta.
Albert Einstein, o autor aqui comentado, realizou uma grande revolução científica em 1905, trabalhando em condições
que tornariam muito improvável qualquer sucesso científico, mesmo de pouca
monta. Isolado e sem dispor de muito
tempo, transformou o mundo com um
artigo que, para pôr ordem no eletromagnetismo, terminou por atacar as pedras
basilares da linguagem científica, as noções de espaço e tempo, destruindo-as e
ressuscitando-as sob a forma do espaço-tempo indivisível; pouco depois mostraria ainda que esse espaço-tempo e, assim,
o espaço e o tempo deixariam de ser o
palco dos acontecimentos e, respectivamente, a sua cronologia para se tornarem
sistemas físicos, isto é, sistemas sobre os
quais podemos agir.
O crítico cético diria que o que isso prova é que as condições em que Einstein
trabalhava não eram assim tão ruins. De
fato, o seu emprego era de "especialista
de primeira classe" no Birô de Patentes
da Suíça, em Berna. Ora, Graham Greene,
no script do filme "O Terceiro Homem",
de Carol Reed (depois transformado em
um livro, com o mesmo título), não fazia
Orson Welles dizer que os suíços nada tinham inventado, senão o relógio cuco?
Bem, fossem os suíços inventivos ou não,
havia abundante trabalho para Einstein e
para seu colega Besso, de quem voltaremos a falar. A indústria relojoeira inovava constantemente, e a poderosa indústria química suíça de hoje não nasceu de um dia para o outro.
Em um dia do final de junho de 1905,
um jovem apressava-se, abrindo caminho entre os passantes, rumo ao seu emprego. Não via a hora de se encontrar
com o seu colega, Michele Besso, e lhe
contar que havia, finalmente, resolvido o
problema de que se ocupava havia meses
e que descrevera, anteriormente, como
"um estudo aprofundado da teoria dos
elétrons".
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