São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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A revolução de 1905


Cinco artigos do físico Albert Einstein que mudaram a compreensão do Universo


HENRIQUE FLEMING

O Ano Miraculoso de Einstein
Organização e introdução: John Stachel
Tradução: Alexandre Carlos Tort
Ed. UFRJ (Tel. 0/xx/21/2295-1595)
224 págs., R$ 30,00

É concebível que, no futuro, a física, ou a ciência em geral, venha a ser obra de robôs. Alguns dizem que já o é, mas isso é ainda apenas uma das múltiplas formas de vilipendiar os cientistas. Mas chegaremos lá. Existe já uma área da matemática denominada "demonstração automática de teoremas", e o xadrez, forma muito elementar da matemática, já não nos pertence desde o episódio do "Big Blue" [supercomputador desenvolvido pela IBM].
A proposta recente de Stephen Wolfram, de que toda a natureza seja o resultado da iteração interminável de um algoritmo muito simples, seria um passo nessa direção (se correta fosse). Quando isso acontecer, a ciência deixará de ser "interessante". E cessará, também, a importância de que seja interessante: não haverá mais necessidade de atrair para ela jovens talentosos. Feita por homens, e subordinada às misérias da contingência humana, a ciência insere-se harmoniosamente na épica da humanidade: os "Principia" de Newton são um capítulo ilustre dessa épica, que, atendo-se às fontes preservadas, começou com a crônica de Homero da Guerra de Tróia. Feita por robôs, e, principalmente, ser for verdadeira a tese de Wolfram, não passará de uma grande aposta.
Albert Einstein, o autor aqui comentado, realizou uma grande revolução científica em 1905, trabalhando em condições que tornariam muito improvável qualquer sucesso científico, mesmo de pouca monta. Isolado e sem dispor de muito tempo, transformou o mundo com um artigo que, para pôr ordem no eletromagnetismo, terminou por atacar as pedras basilares da linguagem científica, as noções de espaço e tempo, destruindo-as e ressuscitando-as sob a forma do espaço-tempo indivisível; pouco depois mostraria ainda que esse espaço-tempo e, assim, o espaço e o tempo deixariam de ser o palco dos acontecimentos e, respectivamente, a sua cronologia para se tornarem sistemas físicos, isto é, sistemas sobre os quais podemos agir.
O crítico cético diria que o que isso prova é que as condições em que Einstein trabalhava não eram assim tão ruins. De fato, o seu emprego era de "especialista de primeira classe" no Birô de Patentes da Suíça, em Berna. Ora, Graham Greene, no script do filme "O Terceiro Homem", de Carol Reed (depois transformado em um livro, com o mesmo título), não fazia Orson Welles dizer que os suíços nada tinham inventado, senão o relógio cuco? Bem, fossem os suíços inventivos ou não, havia abundante trabalho para Einstein e para seu colega Besso, de quem voltaremos a falar. A indústria relojoeira inovava constantemente, e a poderosa indústria química suíça de hoje não nasceu de um dia para o outro.
Em um dia do final de junho de 1905, um jovem apressava-se, abrindo caminho entre os passantes, rumo ao seu emprego. Não via a hora de se encontrar com o seu colega, Michele Besso, e lhe contar que havia, finalmente, resolvido o problema de que se ocupava havia meses e que descrevera, anteriormente, como "um estudo aprofundado da teoria dos elétrons".


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