São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2001

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Heranças da psicanálise



Da Pediatria à Psicanálise Obras Escolhidas
D.W. Winnicott
Tradução: Davy Bogomoletz
Imago (Tel. 0/xx/21/2502-9092)
455 págs., R$ 49,00


Reaparece, em nova tradução, este guia da trajetória de Winnicott -um pediatra que se formou muito jovem em psicanálise e a redesenhou em sua clínica com bebês, crianças e casos graves, operação realizada em grande parte em "settings" estranhos ao original freudiano. O mundo psicanalítico, bem como a cultura em geral, não se cansam de se surpreender com a abertura à vida que Winnicott operou na tessitura conceitual dessa disciplina.
Este livro remete Winnicott ao horizonte da história da psicanálise: nele vemos sua radical inscrição pessoal na via pulsional freudiana, suas peripécias com as fantasias psíquicas arcaicas kleinianas e um lento esboçar de problemas próprios, delineados em suas coordenadas principais: desde a não-integração egóica e psicossomática primeva, a descoberta da realidade psíquica do ambiente e do mundo do trabalho da devoção materna original, a ilusão fundante do humano, até a formulação mais radical dos objetos e dos fenômenos transicionais -tudo focalizado do ponto de vista do bebê.



A Histérica entre Freud e Lacan
Monique David-Ménard
Tradução: Maria da Penha Cataldi
Escuta (Tel. 0/xx/11/3865-8950)
183 págs., R$ 35,00


Ao lermos Monique David-Ménard, somos colocados no interior do trabalho mais abstrato (e material) do pensamento na metapsicologia, de Freud e Lacan. Somos convidados ao prazer das baixas cargas libidinais que buscam a identidade com a representação original do prazer e, de repente, numa frase nítida e resplandecente, em meio a sua interpretação, reconhecemos como o pensamento é substituto do ato e do gozo. Essa cuidadosa reconstrução das condições corpóreas e do sentido das histéricas freudianas, que propõe o corpo e o movimento como lugar de emergência do sentido do aparelho psíquico, desenha uma possível metapsicologia da conversão, articulada a uma discussão mais ampla do trabalho de conceituação psicanalítica. Ménard compreende que operar conceitos em psicanálise é sempre trabalhar as suas condições de possibilidade, reforçando a concepção de que a psicanálise seja talvez uma epistemologia clínica.



Anomia
Marilucia Melo Meireles
Casa do Psicólogo (Tel. 0/xx/11/3062 4633)
110 págs., R$ 13,00


A coleção "Clínica Psicanalítica", da qual faz parte este volume, é uma das provas da maturidade do pensamento psicanalítico brasileiro. Concebida por Flávio Carvalho Ferraz, delineia um estudo conciso das formas da psicopatologia contemporânea, levando em conta a tradição analítica e a fortuna crítica do tema abordado. O livro configura um problema e uma nova concepção a partir de sua reflexão: a já pressentida, mas ainda não inteiramente nomeada, condição de anomia, a perda de condições de orientação simbólica e de constituição humana quando as mudanças culturais são muito rápidas e intensas. Seu trabalho demonstra com clareza a necessidade atual de a clínica psicanalítica pensar o sujeito articulando-o com a ordem da cultura. O inconsciente, nesta psicanálise que se dialetiza, parece mais do que nunca habitar o ambiente.



Corpos de Passagem - Ensaios sobre a Subjetividade Contemporânea
Denise Bernuzzi de Sant'Anna
Estação Liberdade (Tel. 0/xx/11/3661-2881)
127 págs., R$ 18,00


Em 1935, Walter Benjamin pensou a existência de um "inconsciente ótico", derivado das novas percepções produzidas na grande metrópole e seu meio de comunicação por excelência, que foi o cinema. Este não estaria em contradição com o inconsciente pulsional freudiano, mas complementa-o. Com isso, abre-se a possibilidade de uma leitura da produção da subjetividade a partir da organização material e tecnológica do mundo, uma espécie de psicanálise dialética. O livro de Denise Sant'Anna é herdeiro da proposição de Benjamin. Em uma série de ensaios, inusitados e elegantes, sentimos nossa vida revelar uma fantasmagoria própria aos usos e estatutos do corpo operados no capitalismo avançado. A segunda natureza pensada por Marx chega agora a gerenciar e a fazer sonhar -ou a alucinar- os próprios corpos, redesenhando-os em um todo do qual pouco temos consciência, e cujas imagens parecem ser mais da ordem do trabalho do sonho que da razão eficaz que o mundo apregoa.
TALES A.M. AB'SÁBER


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