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São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2003

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Comunicação e poder

Do B - Crônicas Críticas para o "Caderno B" do "Jornal do Brasil"
Eugênio Bucci
Record (Tel. 0/xx/21/2585-2000)
304 págs., R$ 35,00

O autor incorpora o papel do espectador ingênuo para criticar não só o nível dos programas como a passividade do espectador que não faz valer seus direitos de cidadania. Sua perspectiva nunca perde de vista que a televisão é concessão pública que se renova sem nenhuma avaliação periódica. Não se trata de adotar a posição moralista dos que se limitam a exigir uma censura rigorosa. Essa, de fato, já existe e é implacável: são os próprios detentores da mídia que a exercem, sempre em razão de critérios mercadológicos. Os formadores de opinião, livres de qualquer controle social, atuam sobre suas vítimas, reforçando nelas os preconceitos e o conformismo. As subjetividades, aí, não flutuam aleatoriamente, como querem os pós-modernos, mas obedecem à férrea lei do interesse econômico, não regulado socialmente. Em geral, os artigos jornalísticos, escritos no calor da hora, cumprem sua função imediata, perdendo todo o interesse, quando reunidos em livro. Não é o caso: o autor, ao tratar da miséria televisiva, faz comentários argutos sobre nossa sociedade e seus habitantes -vítimas e cúmplices da alienação. Maria Rita Kehl, em belo prefácio, afirma que o antepassado mais próximo desse devastador documento de nossa época seria o Barthes de "Mitologias". Justo argumento, convite à leitura.

Elementos para a Crítica da Cibercultura
Francisco Rüdiger
Hacker (Tel. 0/xx/11/3735-7028)
160 págs., R$ 24,00

Qual é o objeto das ciências da comunicação? As respostas a essa pergunta parecem ter envelhecido subitamente. Falar em objeto pressupõe, evidentemente, um sujeito. O estruturalismo já havia decretado a morte do sujeito; na sequência, o pós-modernismo pretendeu dissolver a própria realidade. Os estudos recentes sobre a comunicação, herdeiros dessas vertentes, pretendem assegurar sua autonomia diante das ciências sociais: as transformações tecnológicas estariam dando início ao ciberespaço e à figura do ciborgue, produto da fusão entre homem e máquina, vida e tecnologia. A desintegração de sujeito e de objeto ocorre simultaneamente, na visão prospectiva de um mundo inteiramente cibernético, em que restariam apenas "subjetividades flutuantes". Apoiado em vasta bibliografia, o autor apresenta, com erudição e clareza, os contornos do debate contemporâneo entre os comunicólogos. A fascinação pelos novos desafios teóricos e por seus ideólogos convive, em surpreendente tensão, com um referencial crítico apoiado em autores tão diferentes como Martin Heidegger e Theodor Adorno.

A Lógica do Capital-Informação
Marcos Dantas
Contraponto (Tel. 0/xx/21/2544-0206)
262 págs., R$ 30,00

O valor da informação é o eixo que estrutura o livro. Para Marcos Dantas, no capitalismo atual, a criação do valor se transfere da produção material para a "produção social geral". O que se produz, em medida crescente, é informação social. Daí o papel estratégico das telecomunicações. A partir desse enfoque teórico, o livro aborda a implantação dos diversos sistemas de comunicação nos países centrais, mostrando a relação tensa entre Estado, monopólios e interesse público. A formação dos diversos modelos é o referencial para o enfoque da situação das telecomunicações no Brasil. Em alentado prefácio, faz-se um balanço crítico do desmembramento da Telebrás.

Por uma Outra Comunicação
Dênis de Moraes (org.)
Record (Tel. 0/xx/21/2585-2000)
414 págs., R$ 38,00

Dezoito autores nacionais e estrangeiros integram essa antologia, dedicada a investigar as relações entre mídia, globalização, cultura e poder. A informação e a tecnologia, ao configurar uma nova modalidade de hegemonia, apresentam desafios que deixam perplexas as forças oposicionistas. Ponta de lança do capitalismo globalizado, a mídia cria um mundo à sua imagem e semelhança pela via da desagregação das culturas nacionais. Assim, incorpora e neutraliza tais culturas, ao mesmo tempo em que incentiva a resistência. Cultura é mercadoria, todavia ela precisa diferenciar-se das mercadorias materiais. Por isso reivindica seu caráter único, que se torna tanto objeto de desejo do capital como referência de valor para a resistência. A mesma tensão reaparece na internet, separando os interesses mercantis da contestação. Democracia eletrônica e novas formas de cidadania são temas subjacentes aos textos de David Harvey, Naomi Klein, Ignacio Ramonet, Edgar Morin, entre outros.

CELSO FREDERICO


é professor na Escola de Comunicações e Artes da USP.

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