São Paulo, sábado, 12 de agosto de 2000


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Luminares e luminosos

RICARDO MUSSE

Antonio Candido - Pensamento e Militância
Organização: Flávio Aguiar
Humanitas/Fundação Perseu Abramo (Tel. 0/xx/11/571-4299)
336 págs., R$ 22,00

Resultado de um seminário organizado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, em 1998, por ocasião dos 80 anos de Antonio Candido, o livro foi em parte contaminado pelo caráter institucional do evento. Autoridades universitárias e partidárias substituem a indagação científica pelo panegírico oficial. No entanto, em meio ao laudatório, destacam-se alguns artigos notáveis: o testemunho de Decio de Almeida Prado sobre a geração "Clima", imprescindível para uma biografia -ainda por fazer- do homenageado; o ensaio de Octavio Ianni, que ilumina as marcas da teoria sociológica na compreensão de Candido da literatura como sistema e como emblema; a reflexão de Marilena Chaui sobre as atuais desventuras da universidade; e o módulo "Estudos Literários", em que as observações de Benedito Nunes, sobre as dificuldades da crítica contemporânea, e as de João Alexandre Barbosa, a respeito da dicotomia estudos extrínsecos/estudos intrínsecos, são complementadas pela proposta de Alfredo Bosi de retomar a dialética entre invenção e convenção. Nada comparável ao discurso em que Candido reconhece o fracasso de sua geração em atenuar a iniquidade social brasileira.

Ideais de Modernidade e Sociologia no Brasil - Ensaios sobre Luiz Costa Pinto
Organização: Marcos Chor Maio e Glaucia Villas Bôas
Editora da UFRGS (Tel. 0/xx/51/224-8821)
350 págs., R$ 25,00

Organizada de forma metódica, em módulos delimitados a partir de uma prévia ordenação dos principais conceitos da obra de Costa Pinto, essa coletânea não se fixa em leituras unívocas. Deixando de lado o pendor encomiástico, dá voz a opiniões conflitantes acerca da obra e do legado do homenageado. No bloco "Mudança Social e Ideais de Modernidade", Glaucia Villas Bôas apresenta Costa Pinto como um sociólogo comprometido com as mudanças sociais, mudanças estas interpretadas em clave distinta por Leopoldo Waizbort (como "tecnologia do social") e por José Maurício Domingues (como um projeto a ser reformulado). O módulo "Cor, Discriminação e Identidade Social" enfoca "O Negro no Rio de Janeiro", resultado de sua participação na pesquisa da Unesco sobre as relações raciais no Brasil, discutindo sua tese de que o preconceito racial surge da ascensão social do negro (apanhada em sua complexidade por Flávio dos Santos Gomes). Os artigos finais abordam os pressupostos metodológicos de Costa Pinto, historiando sua discordância, entre outros, com Arthur Ramos, Guerreiro Ramos e Florestan Fernandes. Abre o livro um texto do próprio homenageado sobre a pós-modernidade.

Estudos em Homenagem a Helio Jaguaribe
Organizadores: Alberto Venâncio Filho, Israel Klabin, Vicente Barreto
Paz e Terra (Tel. 0/xx/11/223-6522)
344 págs., R$ 39,00

Os organizadores cumpriram a tarefa de dar notícia da obra de Helio Jaguaribe, encomendando um texto ao próprio homenageado. Com notável concisão e lucidez, Jaguaribe informa-nos sobre seu percurso e sua produção intelectual (15 livros de sua exclusiva responsabilidade e 26 com outros autores), suas atividades empresariais e militância como homem público.
Ante o poder sintético das 30 páginas de "Breve Notícia sobre a Própria Obra", a maior parte do livro mostra-se tagarela e pouco satisfatória. As tentativas de avaliação -empreendidas, entre outros, por Arno Wehling, Candido Mendes, Celso Lafer e Bresser Pereira- soam esquemáticas e unilaterais. Os depoimentos (exceto o de Skidmore) pouco acrescentam, com os autores recaindo no hábito, frequente entre nós, de falar mais de si que do homenageado. Outra exceção: dois dos maiores economistas da América Latina, Aldo Ferrer e Celso Furtado, tratam com brilho do mesmo assunto -a nova fase do capitalismo-, valendo-se respectivamente dos conceitos de "globalização virtual" e "crise do capitalismo social".

O Pensamento de Ignácio Rangel
Organização: Armen Mamigonian e José Marcio Rego
Editora 34 (Tel. 0/xx/11/255-8808)
174 págs., R$ 17,00

Abre o livro um artigo de Bresser Pereira e Marcio Rego, que apresenta as várias faces da vida e da obra de Ignácio Rangel (1914-1994). Destaca, grosso modo, sua originalidade em campos essenciais aos estudos sobre o Brasil: na explicação da formação social, na análise da inflação e na elucidação das condições do desenvolvimento econômico. Essa distinção temática, no entanto, não foi levada em conta no restante do livro, atento apenas à teoria da dualidade básica como chave da formação social brasileira, seja por opção valorativa, seja por considerá-la princípio explicativo da totalidade da obra (a exceção cabe a Gilberto Paim, que destaca a especificidade da teoria do desenvolvimento de Rangel). Essa divergência é amplificada na avaliação do seu legado, configurado segundo tendências opostas por Pereira e Mamigonian, o que se explica, em parte, pela independência de Rangel ante os círculos pelos quais passou ao longo de sua formação intelectual -Aliança Libertadora Nacional, PCB, assessoria econômica do segundo governo Vargas, Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek, Grupo de Itatiaia, Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), BNDE etc.



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