São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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Crise e ruína

A Crise Não Moderna da Universidade Moderna (Epílogo de "O Conflito das Faculdades")
Willy Thayer
Tradução: Romulo Monte Alto
Ed. UFMG (Tel. 0/xx/31/3499-4650)
199 págs., R$ 25,00

Na atualidade, o conhecimento e a política transitam para o mundo único e disperso do mercado pós-estatal, que tudo abarca na liberalidade factual e ilimitada dos circuitos da telemática, mundo do capitalismo tardio sem exterioridade, que se instala sobre as ruínas da herança moderna. Determinada pelos acontecimentos, a universidade vive a crise da universalidade filosófica, crise da unidade do saber e da indagação sobre suas bases, da centralização nacional do controle da produção de conhecimento. Nesse processo, implode a arquitetônica kantiana da universidade moderna, crítica e autônoma, capaz de progredir pelo conflito entre a determinação das especialidades profissionais e a reflexão filosófica dos fundamentos, constituindo-se como sujeito do seu saber e do seu não saber. Para o filósofo chileno, que busca o caminho da teorização entre sistemas categoriais despotencializados, a universidade pós-moderna aloja-se na heteronomia como universidade tecnológica, que não sabe de seu saber, não sabe de si e perde-se na facticidade eficaz de seus produtos e efeitos.

O Apelo da Educação - A Ética Acadêmica e Outros Ensaios sobre Educação Superior
Edward Shils
Tradução: Gilson César Cardoso de Sousa
EDUSC (Tel. 0/xx/14/ 235-7111)
366 págs., R$ 35,00

Sociólogo e conselheiro da Universidade de Chicago, Shils defende a tradição acadêmica de devoção à busca desinteressada da verdade contra o utilitarismo econômico e, principalmente, a politização institucional, responsáveis por graves perturbações que atingem a universidade na democracia liberal. Da ótica do liberalismo tradicionalista convicto, a ação afirmativa que impõe critérios sociopolíticos de seleção de alunos e professores, coordenada por um Estado que assume a tarefa de promover a igualdade, atinge o cerne da autonomia e fere de morte a liberdade e a ética acadêmicas. Nessa chave, o livro expõe temas essenciais da atual inquietação institucional, como a burocratização, a hiperespecialização, o relativismo epistemológico, a desagregação da civilidade interna, a estrita visão profissionalizante de partes do corpo docente e discente. Seis textos aguerridos, que reafirmam a integridade de um sólido conservadorismo que não oculta limites ao propor, contra o espírito do tempo, a recuperação da dimensão moral da profissão universitária.

Norte-Americanos no Brasil. Uma História da Fundação Rockefeller na USP (1934-1952)
Maria Gabriela S.M.C. Marinho
Autores Associados/Universidade São Francisco
(Tel. 0/xx/11/ 7844-8371)
196 págs., R$ 22,00

Desde sua criação, a USP sofre a ascendência da cultura norte-americana por intermédio da ação direta e indireta da filantropia científica da Fundação Rockefeller, em suas estruturas organizacionais e áreas de pesquisa. Deixando as ciências humanas à influência francesa, a Fundação volta-se primordialmente para as ciências básicas e naturais, com vultosas dotações para a institucionalização, no Brasil, da pesquisa em áreas como a física nuclear e a biologia genética. Bem documentada, a descrição das instâncias de articulação interinstitucional detém-se nos principais parceiros locais da agência, os catedráticos Ernesto de Souza Campos e Zeferino Vaz. A reconstrução de suas trajetórias expõe um processo de transferência de concepções de mundo e de instituições científicas marcado, ao final do período, pela política: a perseguição ao comunismo na universidade, pela qual o cenário científico paulista ajusta-se à hegemonia norte-americana do pós-guerra.

Pedagogia dos Sonhos Possíveis
Paulo Freire
Organização: Ana Maria Araújo Freire
Ed. Unesp (Tel. 0/xx/11/3242-7171)
300 págs., R$ 35,00

Os ensaios, comentários, diálogos, entrevistas e cartas reunidos neste livro abordam a prática educacional libertadora, vinculando perspectivas pessoais, disciplinares e políticas que delineiam a amplitude humanista da militância pedagógica freiriana pela criação coletiva do possível inexistente. Contra o fatalismo neoliberal da inexorabilidade histórica, da redução mecanicista da subjetividade à adaptação ao que existe e da doutrina da educação como treinamento tecnológico, a formação crítica e progressista pauta-se pela consciência ética e política da responsabilidade humana em recriar a esperança de intervir no real. No diálogo com os destituídos, a educação reinventa-se como trabalho coletivo de descoberta do papel da subjetividade na história: pedagogia do desejo que visa ao sonho coletivo que se engaja na luta pelas suas condições de possibilidade, a partir de uma leitura do mundo que revela o futuro como historicamente problemático, palco possível do encontro da liberdade com a justiça, da democracia com o socialismo.

SYLVIA GEMIGNANI GARCIA
é professora de sociologia na USP e autora de "Destino Ímpar - A Formação de Florestan Fernandes" (Ed. 34).



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