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Fim do caipira

Estudo diz que festas de peão como a de Barretos se americanizaram e viraram negócio, deixando o caipira e as tradições em segundo plano

Fotos Silva Junior - 25.ago.11/Folhapress
Peões oram antes do início das montarias na Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos
Peões oram antes do início das montarias na Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos

MARCELO TOLEDO
EDITORA-ASSISTENTE DE “FOLHA RIBEIRÃO"

Saem de cena o caipira, a música raiz e os pequenos vendedores. Em seu lugar, aparecem o caubói, o country e as grandes marcas.

Esse é o cenário atual da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos e de outros importantes eventos do gênero no país, aponta estudo acadêmico defendido na Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro.

A dissertação de mestrado do geógrafo Magno de Lara Madeira Filho tenta mostrar que temas como a cultura sertaneja, que engloba a catira (dança típica), por exemplo, estão cada vez mais deixados de lado nas grandes festas.

E Barretos, como principal evento do gênero no país, dita a tendência do segmento, que, segundo dados do circuito PBR (Professional Bull Riders), reúne cerca de 4 milhões de visitantes por ano somente nas 30 maiores festas de rodeio do país.

"A situação atual no que diz respeito à cultura e ao consumo não é um convite para ir [a Barretos]. A cultura virou entretenimento. As tradições foram abandonadas", afirmou Madeira Filho.

Além de Barretos, a coleta de dados foi feita em Americana, Jaguariúna -ambas entre as principais festas de peão- e Jaborandi, cidade natal do pesquisador.

O objetivo foi analisar a geografia do comércio e do consumo e entender de que forma um espaço que nasceu para valorizar a cultura caipira virou um local cercado por grandes marcas publicitárias e com espaço reduzido para as tradições sertanejas.

"O caipira ficou estigmatizado, na literatura e na TV. É o atrasado, que não progrediu, enquanto o que vem de fora, principalmente dos EUA, é mais fácil de se vender", afirmou.

MADE IN USA

Na questão do vestuário, por exemplo, o pesquisador aponta uma americanização das festas de peão.

Um exemplo é o próprio Monumento ao Peão em Barretos, de 27 m de altura e concebido em 2005 para celebrar o cinquentenário do evento, logo na entrada do Parque do Peão -recinto que anualmente abriga a festa e recebe ao menos 800 mil visitas.

"Ele não é um peão, apesar do nome. É um caubói, pois a vestimenta não é brasileira. O imaginário é o da cultura americana."

A organização da Festa do Peão de Barretos se defende ao dizer que a festa tem preços populares, espaço para pequenos comerciantes e preserva as tradições.

"No Parque do Peão existe o único memorial da América Latina voltado à exposição da cultura do sertanejo e peão de rodeio", disse Marcelo Murta, consultor de Os Independentes, associação que organiza a festa barretense (leia texto nesta página).

Outro ponto questionado é a música. Se em décadas passadas a música raiz de Tião Carreiro & Pardinho era o mote, a festa hoje é voltada ao sertanejo universitário e a estilos como o rock e até mesmo o samba carioca.

Foram 12 shows "universitários" em 2011 em Barretos, a maioria no palco principal.

"Isso é generalizado, não só em Barretos. Há festas com o próprio nome americanizado. O sujeito se identifica momentaneamente e veste o traje country, mas depois, na maioria dos casos, tira aquela 'fantasia'", afirmou.

De acordo com ele, a sua preocupação é com o consumidor, "que assiste a isso tudo passivamente e é adestrado pelos símbolos".

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