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Fim do caipira Estudo diz que festas de peão como a de Barretos se americanizaram e viraram negócio, deixando o caipira e as tradições em segundo plano
EDITORA-ASSISTENTE DE “FOLHA RIBEIRÃO" Saem de cena o caipira, a música raiz e os pequenos vendedores. Em seu lugar, aparecem o caubói, o country e as grandes marcas. Esse é o cenário atual da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos e de outros importantes eventos do gênero no país, aponta estudo acadêmico defendido na Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro. A dissertação de mestrado do geógrafo Magno de Lara Madeira Filho tenta mostrar que temas como a cultura sertaneja, que engloba a catira (dança típica), por exemplo, estão cada vez mais deixados de lado nas grandes festas. E Barretos, como principal evento do gênero no país, dita a tendência do segmento, que, segundo dados do circuito PBR (Professional Bull Riders), reúne cerca de 4 milhões de visitantes por ano somente nas 30 maiores festas de rodeio do país. "A situação atual no que diz respeito à cultura e ao consumo não é um convite para ir [a Barretos]. A cultura virou entretenimento. As tradições foram abandonadas", afirmou Madeira Filho. Além de Barretos, a coleta de dados foi feita em Americana, Jaguariúna -ambas entre as principais festas de peão- e Jaborandi, cidade natal do pesquisador. O objetivo foi analisar a geografia do comércio e do consumo e entender de que forma um espaço que nasceu para valorizar a cultura caipira virou um local cercado por grandes marcas publicitárias e com espaço reduzido para as tradições sertanejas. "O caipira ficou estigmatizado, na literatura e na TV. É o atrasado, que não progrediu, enquanto o que vem de fora, principalmente dos EUA, é mais fácil de se vender", afirmou. MADE IN USA Na questão do vestuário, por exemplo, o pesquisador aponta uma americanização das festas de peão. Um exemplo é o próprio Monumento ao Peão em Barretos, de 27 m de altura e concebido em 2005 para celebrar o cinquentenário do evento, logo na entrada do Parque do Peão -recinto que anualmente abriga a festa e recebe ao menos 800 mil visitas. "Ele não é um peão, apesar do nome. É um caubói, pois a vestimenta não é brasileira. O imaginário é o da cultura americana." A organização da Festa do Peão de Barretos se defende ao dizer que a festa tem preços populares, espaço para pequenos comerciantes e preserva as tradições. "No Parque do Peão existe o único memorial da América Latina voltado à exposição da cultura do sertanejo e peão de rodeio", disse Marcelo Murta, consultor de Os Independentes, associação que organiza a festa barretense (leia texto nesta página). Outro ponto questionado é a música. Se em décadas passadas a música raiz de Tião Carreiro & Pardinho era o mote, a festa hoje é voltada ao sertanejo universitário e a estilos como o rock e até mesmo o samba carioca. Foram 12 shows "universitários" em 2011 em Barretos, a maioria no palco principal. "Isso é generalizado, não só em Barretos. Há festas com o próprio nome americanizado. O sujeito se identifica momentaneamente e veste o traje country, mas depois, na maioria dos casos, tira aquela 'fantasia'", afirmou. De acordo com ele, a sua preocupação é com o consumidor, "que assiste a isso tudo passivamente e é adestrado pelos símbolos". Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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