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Outro lado

'Espera caiu em quatro anos', diz secretário

Stenio Miranda diz ver o SUS como solução e que a maioria dos pacientes de UBDS não precisa de atendimento imediato

DE RIBEIRÃO PRETO

O secretário da Saúde de Ribeirão, Stenio Miranda, reconhece que o maior problema do setor são os atendimentos de urgência -o pronto-atendimento-, mas afirmou que a situação melhorou nos últimos anos e que a saúde na cidade é boa.

Em entrevista à Folha, ele elogiou o sistema público de saúde e listou entraves que afetam a melhoria dos serviços prestados, como recursos públicos insuficientes para atender as demandas, a complexidade de se disponibilizar consultas com especialistas e a falta de informação da população que procura atendimento emergencial.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

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Folha - Por que o maior problema está na demora do atendimento nas unidades de urgência e emergência?

Stenio Miranda - No passado, em Ribeirão Preto, a espera por esse tipo de atendimento era de oito a dez horas. Isso há quatro anos. Hoje, o tempo médio é de duas a três horas. Temos trabalhado com o número ideal de profissionais nessas unidades, mas existem momentos em que há picos de demanda, aí pode demorar um pouco mais do que a média.

Faltam médicos?

Sim. Esbarramos numa limitação de disponibilidade de profissionais no mercado. Para proporcionar um atendimento melhor nas unidades de pronto-atendimento, precisaríamos de 300 médicos. Hoje, temos 250. Tentamos suprir esse deficit com ampliação da jornada de trabalho e plantões extras.

Por que existe essa limitação de profissionais no mercado?

Porque é um profissional com certo grau de especialidade, um emergencialista. Se você chega hoje para um médico de consultório e oferece um plantão numa unidade de pronto-atendimento, ele não quer, não aceita. Tem medo, porque vai enfrentar situações de politraumatismo, pacientes com infarto agudo, com quadros infecciosos a esclarecer. Nem todos [os médicos] querem enfrentar esse tipo de situação.

Muitas pessoas procuram as unidades de pronto-atendimento...

O pronto-atendimento, de fato, é o ruim do sistema. Mas as pessoas querem fast-food [comparando tempo de atendimento]. E vale lembrar que de 75% a 80% dos pacientes que procuram essas unidades fazem queixas absolutamente superficiais. De 2.500 pacientes que atendemos nesses locais, solicitamos suporte hospitalar para 100. A maioria não precisa de atendimento imediato.

O senhor tem plano de saúde?

Não, mas minha filha tem. E ela está com dor de ouvido há uma semana. Orientei a procurar atendimento, mas marcou consulta num dia para ser atendida em outro. Agora, isso não existe no SUS. O cara tem dor de ouvido, ele quer ser atendido no dia e na hora. Se atrasar duas horas já é morosidade.

Algumas consultas demoram três, quatro, cinco meses.

É um problema. Temos a obrigação de oferecer o pacote completo de assistência à saúde. É nossa obrigação, mas a missão principal é oferecer atenção básica de qualidade. Sobre consultas com especialistas, defendo contratarmos. Fazer convênios com hospitais, que possuem mais facilidade para lidar com esses profissionais. Temos trabalhado de forma improvisada e insatisfatória com especialidades próprias. Precisamos contratar, porque não temos a expertise para isso.

Como o senhor avalia o SUS?

Não vejo como problema, vejo como solução. O sistema público tem um formato que veio para solucionar grandes e crônicos problemas de saúde no Brasil.

O que o SUS solucionou?

Reduziu significativamente os índices de mortalidade infantil. Erradicou doenças como a poliomielite e o sarampo. Até 1988 somente tinha acesso ao serviço público de saúde quem fosse registrado em carteira, trabalhador formal. Depois da Constituição, todos passaram a ter o direito a saúde.

Faltam recursos?

Sim, principalmente para o município, que é obrigado a arcar com o ônus do sistema. Vem a verba da União, a verba do Estado, mas as cidades precisam disponibilizar os recursos que faltam para garantir os serviços de saúde com qualidade.

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