Ribeirão Preto, Domingo, 1 de novembro de 1998

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VIOLÊNCIA
Número de inquéritos contra policiais tem queda após crimes cometidos em favela na Grande São Paulo
'Efeito Diadema' reduz investigação de PMs

LUCIANA CAVALINI
da Reportagem Local

A investigação sobre a atuação de policiais militares na região de Ribeirão Preto vem caindo após a divulgação dos crimes na favela Naval, em Diadema, ocorridos em março do ano passado.
Segundo levantamento da Seção de Justiça e Disciplina da Polícia Militar, a média mensal de IPMs (Inquéritos Policiais Militares) abertos na cidade caiu 25% de 96 para 97, passando de 8,9 para 7,1. Do ano passado para este ano, a queda foi de 29%, caindo para 5,5.
Apesar disso, proporcionalmente ao total do efetivo, o índice de inquéritos na região ainda é elevado. Na região, 20% do efetivo já foi investigado, contra 9% do Estado.
Para o tenente Marco Antônio Seabra, oficial da Seção de Justiça e Disciplina em Ribeirão Preto, a redução do número de inquéritos foi um efeito imediato do caso Diadema na região. "Além de revoltar a população, dentro do própria PM, a reação foi de repulsa."
No ano passado, nos meses seguintes ao caso de Diadema, carros da PM foram apedrejados em Ribeirão Preto e policiais foram xingados durante o serviço.
Em março de 97, o ex-PM Otávio Lourenço Gambra, o Rambo, foi flagrado por um cinegrafista amador junto com outros nove policiais espancando pessoas que passavam por um bloqueio na favela.
Laudos periciais apontaram Gambra como o autor do tiro que matou Mário Josino. Os envolvidos foram expulsos da corporação. No início do mês, Gambra foi condenado a 65 anos de prisão.
Apesar de o número de IPMs ter reduzido, o ouvidor das polícias de São Paulo, Benedito Domingos Mariano, afirma não acreditar na redução da violência policial.
Entre os casos acompanhados pela Ouvidoria, está a investigação da chacina provavelmente cometida por PMs que resultou na morte de três jovens em setembro em Ribeirão. Para os familiares das vítimas, a matança revela que a violência policial não teve queda.
O tenente-coronel Edison Flora da Silva, comandante do 3º Batalhão da PM em Ribeirão, afirma que a queda é um reflexo das ações da corporação. "Este ano, por exemplo, todos os policiais da região passaram por reciclagem."
Segundo o comandante, os policiais têm aulas de direito e noções de direitos humanos. O batalhão também tem um psicólogo.
Todas as lideranças estão passando por um curso de logoterapia, área da psicologia voltada para o cuidado dos sentidos.
"A intenção do curso é desenvolver a consciência de responsabilidade e provocar uma mudança de atitude com a descoberta de valores", afirma a psicóloga Maria Bernardete Caritá-Stumpenhausen, responsável pelo curso.
Desde o ano passado, seguindo uma determinação da Secretaria da Segurança Pública, o policial militar que se envolve em ocorrências é obrigado a passar pelo Proar (Programa de Acompanhamento de Policiais Militares Envolvidos em Ocorrências de Alto Risco).
Pelo menos cem policiais já passaram pelo programa em um ano e meio. O Proar prevê o afastamento do policial das ruas por seis meses.



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