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Velha fôrma ajuda a gerar homem novo
da Reportagem Local
Embora o modelo de masculinidade esteja em mutação na maioria das sociedades do mundo -já
que o homem não é mais necessariamente aquele que põe dinheiro
em casa-, os meninos continuam
sendo criados à moda antiga.
Mesmo nas escolas mais caras de
São Paulo, professoras teoricamente bem formadas continuam
dizendo para crianças de 3 anos de
idade que "menino não chora".
Esse tipo de dupla mensagem
(esperar que o homem seja mais
sensível, mas exigir ao mesmo
tempo que ele seja "forte") é apontado como um dos principais obstáculos ao desenvolvimento saudável dos meninos, pelo psicólogo
americano William Pollack, da Escola de Medicina de Harvard.
Em um livro que tem feito sucesso nos EUA ("Meninos Reais -Resgatando nossos Filhos dos Mitos
da Infância", Random House, US$
25) Pollack afirma que os meninos
estão em crise.
"Ser um menino passou a ser definido por uma negativa: não ser
uma menina", diz ele. "E isso requer uma separação precoce do
mundo aconchegante da mãe e de
todas as coisas femininas e maternais -inclusive de sentimentos
ternos, como vulnerabilidade, empatia e compaixão".
"Os meus problemas, eu prefiro
passar sozinho. Às vezes, minha
mãe vê que eu estou meio estranho, mas eu acho que não leva a
nada falar sobre isso com ela", diz
um aluno de 12 anos da Escola Móbile (zona sul de São Paulo).
"Meu pai fica mais no mundo da
lua. Acho que ele nem sabe que eu
tenho boletim", acrescenta.
Para Pollack, "por trás de uma
fachada de confiança, os meninos
estão hoje escondendo sentimentos de solidão e isolamento".
A própria forma como são criados -separação precoce da mãe,
exigência de independência e coragem- limita a sua capacidade
de depois, como adultos, expressarem seus sentimentos -área de
amplo domínio das mulheres.
"As meninas estão melhores,
porque, se antes elas eram submetidas ao machismo, agora estão se
sentindo mais fortes", afirma o
psiquiatra de jovens Içami Tiba,
que acaba de lançar o livro "O Executivo e sua Família -O sucesso dos
Pais não Garante a Felicidade dos
Filhos" (Ed. Gente, R$ 18).
Mas isso também pode provocar
problemas. O primeiro é que o fato
de as mulheres trabalharem diminui o tempo que têm para os filhos.
Além disso, o modelo de "mulher maravilha" da mãe pode ser
mal interpretado pelas meninas.
Em estudo ainda não publicado,
conduzido com crianças de 6 e 7
anos de famílias de baixa renda em
São Paulo, as meninas apresentaram prevalência de transtornos relacionados à agressividade.
"A menina, tomando como modelo a mãe, já adota desde cedo essa postura agressiva", afirma o psiquiatra Claudio Torres de Miranda, chefe da disciplina de psicologia médica e psicologia social da
Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo) e coordenador da pesquisa. Boa parte das brigas entre
marido e mulher hoje também reflete esse tipo de confusão.
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