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HISTÓRIA
Fotografias e cartas guardadas há meio século revelam relações estreitas entre ditador italiano e integralistas
Documentos ligam região a Mussolini
CRISTIANE BARÃO
enviada especial a Taquaritinga
Documentos guardados há pelo
menos meio século revelam estreitas relações entre líderes fascistas
da região, o ditador italiano Benito
Mussolini e a existência de um
centro integralista que engrossou
o movimento pela queda do presidente Getúlio Vargas, em 1938, no
Rio de Janeiro.
Fotos, cartas e um lenço de seda
pura autografado por Mussolini
escaparam da fogueira depois de
terem sido guardados no meio de
material de estudos do subtenente
médico das tropas italianas na 1ª
Guerra Mundial, Ernesto Pagliuso.
Ele nasceu em Taquaritinga, foi
para a Itália estudar Medicina e
acabou fazendo parte das tropas
italianas na 1ª Guerra Mundial.
Depois de pertencer ao 10º Regimento de "Besagliare", tropa de
elite do exército italiano, o mesmo
servido pelo ditador italiano, Pagliuso voltou a Taquaritinga em
1926 como secretário do fascismo.
O sistema político fascista foi
criado por Mussolini na década de
10 com inclinação direitista.
"Meu pai admirava Mussolini
por ter feito o território italiano se
expandir, mas, quando a Itália entrou na 2ª Guerra, ele chorou. Previa que o país seria derrotado",
conta o médico cardiologista Vitório Pagliuso, filho de Ernesto.
De acordo com o historiador Arnaldo Ruy Pastore, por ser um dos
principais alvos da migração italiana, Taquaritinga tornou-se um
centro fascista na região.
"Quando a Itália conquistou a
Etiópia, em 35, Ernesto fez uma
festa. O convite tinha as cores do
país, enfeitado com um pedaço de
queijo e um macarrão", conta Pastore, que era paciente de Ernesto.
No mesmo ano, o comandante
das Forças Armadas de Mussolini,
Pietro Badoglio, esteve no Brasil
para apenas duas visitas -uma
em Ribeirão Preto e outra à casa de
Ernesto. Como presente, Badoglio
entregou um lenço de seda pura,
autografado e enviado por Mussolini, com o discurso do ditador italiano sobre a conquista da Etiópia.
"O lenço foi um dos documentos
que restou. Quando a Itália entrou
na guerra contra o bloco do Brasil,
meu pai viajou à noite até Ribeirão
para levar todo o material", disse o
médico cardiologista.
De acordo com o historiador, os
líderes fascistas da cidade migraram para criar o movimento em
distritos, mais tarde transformados em municípios.
No entanto, a censura imposta
pela guerra acabou abafando o
movimento fascista. Mesmo assim, em 32, a região já assistia ao
nascimento do movimento integralista, que, segundo eles, apresentavam traços do fascismo e
combatiam o liberalismo e o capitalismo.
Em Taquaritinga, o núcleo integralista era formado por cerca de
200 pessoas e tornou-se referência
para o movimento pela ligação
com Plínio Salgado, o chefe dos integralistas, que casou-se com a taquaritinguense Carmela Patti.
"Eles faziam passeatas e reuniões
toda semana", diz Nair Abbud,
que guarda a farda utilizada pelo
marido integralista Antonio Abbud e fotos do movimento.
Abbud chegou a ser preso durante 15 dias, acusado de participar do
movimento que pretendia depor o
presidente Getúlio Vargas, em
1938. Mesmo apoiado pelos integralistas, Vargas dissolveu o movimento em 37. O golpe fracassou e
os integralistas começaram a ser
presos e perseguidos.
Em Ribeirão Preto, que reunia
cerca de 2.500 militantes, os integralistas realizaram a primeira
conferência da região e se encarregaram de fundar os núcleos locais.
Os "camisas-verdes", como
eram conhecidos, também usavam
calças e gravatas pretas e um apito.
Na camisa, era usado o símbolo
chamado de Sigma, semelhante à
letra "E" ao contrário.
Em Araraquara (85 km de Ribeirão), dois líderes integralistas ainda defendem os princípios de Plínio Salgado: "Deus, Pátria e Família". Eles reúnem livros e artigos
sobre o movimento nacionalista.
"Não voto há 25 anos, desde que
ele (Salgado) morreu. Esses liberalóides acabaram com o país", disse
Paulo Nogueira de Arruda, que entrou no movimento com 14 anos e
sua mãe queimou sua farda com
medo que ele fosse preso.
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