Ribeirão Preto, Quinta-feira, 02 de Abril de 2009

Próximo Texto | Índice

Argentina derruba exportações de Franca

Calçadistas dizem que país vizinho, que foi o 2º maior importador em 2008, não comprou um só sapato brasileiro neste ano

Vendas para o exterior caíram 51% no bimestre; governo brasileiro diz que está atacando as barreiras protecionistas dos países

Silva Júnior/Folha Imagem
Funcionário de loja de materiais carrega saco de cimento


JEAN DE SOUZA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO

Agravadas pelo protecionismo adotado por países da América do Sul, as exportações de calçados das indústrias de Franca caíram 51,27% no primeiro bimestre deste ano. Só em fevereiro, as exportações foram 55% menores do que no mesmo mês do ano passado. O faturamento das empresas da cidade com as vendas ao exterior acompanhou o declínio e recuou 48,08% no período.
Além da diminuição da demanda em grandes mercados consumidores, como Europa e Estados Unidos, o setor tem sofrido com outro efeito colateral da crise econômica mundial. Nos últimos meses, barreiras protecionistas erguidas por países vizinhos, principalmente Argentina, Venezuela e Equador, têm impedido a entrada do produto francano, segundo o presidente do Sindifranca (Sindicatos das Indústrias de Calçados de Franca), José Carlos Brigagão.
A Argentina, segunda maior consumidora dos calçados de Franca no ano passado, é o maior exemplo. "Não entrou nenhum par de calçado nosso lá neste ano" afirmou Brigagão.
O aumento do prazo para a concessão de licenças para a importação de produtos, que têm de ser pedidas pelos compradores argentinos, é a causa da paralisia nas vendas para o país, segundo o diretor-executivo da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), Heitor Klein.
"A emissão da licença costumava ser de 60 dias, agora passa de 120", reclamou o negociador comercial da indústria Democrata Anderson Melo.
Maior exportadora francana para a Argentina em 2008, a Karlitos enfrenta situação mais grave. Segundo seu diretor comercial, José Milton de Souza, "não vai entrar nenhum dólar este mês". A empresa já demitiu 500 funcionários.
"A situação é ainda mais absurda no Equador", afirmou Klein. No país, foi imposto um exame laboratorial de materiais e um certificado de conformidade para os calçados.
Responsável pela compra de 1,4 milhão de pares de Franca no ano passado, 6,7% do total, a Venezuela também vem dificultando a entrada de calçados no país, segundo os empresários ouvidos pela Folha. Funcionário do departamento de exportação da Mariner, Alessandro Oliveira diz que o processo de emissão de cartas de crédito vem sendo dificultado pelo governo venezuelano.
O empresário José Rosa, da Anatomic Gel, diz ter produzido, na tarde de ontem, seu último pedido para a Venezuela. "Tenho 12 mil pares parados na fábrica", afirmou. Segundo ele, outros produtos estão parados no porto de Santos.
As barreiras protecionistas impostas ao calçado brasileiro vêm sendo enfrentadas, segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral. O secretário afirmou que conseguiu do governo argentino o compromisso de agilizar a emissão de licenças.
Do governo equatoriano, Barral diz ter conseguido que a implementação das certificações de qualidade seja adiada até o final do ano. Já sobre a Venezuela, o secretário disse que não houve queixa específica do setor calçadista.


Próximo Texto: Venezuelano diz que situação vai se agravar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.