Ribeirão Preto, Segunda-feira, 02 de Agosto de 2010

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Qualificação "puxa" mais salário rural

Remuneração de profissões mais simples, como safrista, cresceu menos do que a de cargos que exigem cursos

Mecanização na cana gerou dispensa de mão de obra; alternativa é buscar cursos de formação no campo

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

A história de João Daniel Consulini, 26, tinha tudo para repetir a do pai, cortador de cana. João foi boia-fria por três anos na usina Santo Antônio, em Sertãozinho, até que participou de um curso de qualificação na própria empresa. Hoje é motorista e recebe o dobro do salário.
Casos como o de João e o do colega Anderson Fabrício Elias retratam a evolução do salário rural na região de Ribeirão Preto. A remuneração de boias-frias cresceu em um ritmo menor do que a média estadual. Mas as funções mais qualificadas, como a de tratorista, pagaram mais.
É o que revela um estudo do IEA (Instituto de Economia Agrícola) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, com dados de 2000 a 2009.
Entre seis profissões avaliadas, as duas sem qualificação mais comuns na região são o mensalista (funcionário de fazenda) e o safrista. Nessas atividades, o salário cresceu menos.
Já para a função de tratorista, a demanda de usinas forçou a alta de salários.
"Como o corte de cana tem reduzido a demanda por mão de obra, a oportunidade passa a ser maior para as atividades mais especializadas como a de tratorista", disse a pesquisadora do IEA Maria Carlota Meloni Vicente, uma das autoras do estudo.
A diretora-executiva da Abag-RP (Associação Brasileira do Agronegócio de Ribeirão Preto), Mônika Bergamaschi, concorda que a mecanização tem dispensado mão de obra, e a alternativa é a qualificação.
"Para operar uma máquina hoje não basta qualquer pessoa que saiba dirigir trator. É evidente que exige outro tipo de formação", disse.

FORMAÇÃO
Foi a qualificação, e um salário melhor, o que buscaram João e Anderson, citados no início desse texto.
De cortador no campo, João foi chamado para ser auxiliar na usina e líder de equipe. Aí, o chefe lhe propôs participar do curso de motorista. "Eu só tinha a letra "B" na carteira de motorista [para dirigir carro]. Fui por minha conta mesmo na autoescola para tirar a letra "D" [para caminhão]." O salário dele passou de R$ 800 para R$ 1.600.
Já Anderson, 25, começou no campo colhendo laranja, com remuneração de R$ 500. Foi contratado pela usina Santo Antônio há quatro anos para plantar cana, com salário de R$ 800.
Anderson ganhou, então, um subsídio de R$ 1.000 da usina para obter a habilitação para dirigir caminhões. Há três meses, se tornou operador de máquina, com salário de R$ 1.600.
"Agora, quero fazer o curso para operar máquina colheitadeira, tirar a carta E, para caminhão maior e, se um dia Deus ajudar, chegar a encarregado", disse.


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