Ribeirão Preto, Domingo, 03 de Janeiro de 2010

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Sidnei alega crise e adia obras em Franca

Tucano, que completou 1º ano do 3º mandato, adiou o novo pronto-socorro e o alargamento do canal do Galo Branco

Prefeito considera que União prioriza verbas para as cidades administradas pelo PT e que seu município industrial "é pobre"

Silva Junior/Folha Imagem
O prefeito de Franca, Sidnei Franco da Rocha (PSDB), em entrevista na prefeitura, em que analisou o 1º ano de seu 3º mandato

LEANDRO MARTINS
ENVIADO ESPECIAL A FRANCA

O aperto provocado pela crise fez a Prefeitura de Franca adiar obras que estavam previstas, como o novo Pronto-Socorro Municipal. Esse foi um dos fatos de 2009 na administração de Sidnei Franco da Rocha (PSDB), que encerrou o primeiro ano de seu terceiro mandato à frente da prefeitura. Sobre as críticas de que seu governo não tem um perfil ativo na busca por verbas em Brasília, ele disse que a culpa é do governo federal, que prioriza prefeituras do PT. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Folha.

 

FOLHA - O sr. vem de uma reeleição. Que avaliação faz desse primeiro ano de continuidade do governo?
SIDNEI FRANCO DA ROCHA - 2009 foi um ano difícil para o mundo inteiro e para nós. Nos primeiros quatro anos nós arrumamos a prefeitura, pagamos muitas dívidas e a expectativa era que nesse primeiro ano a gente pudesse avançar mais. Conseguimos, graças à austeridade e à economia de guerra que fizemos. Como no final de 2008 surgiu uma crise real, não uma marolinha, a gente já fez o máximo de economia possível para atravessar com caixa. Atravessamos com caixa na faixa de R$ 25 milhões e tivemos queda de arrecadação no ano de R$ 30 milhões.

FOLHA - O sr. disse que esperava avançar mais. Houve alguma obra que precisou ser adiada?
SIDNEI - Seguramos duas obras, que foi o alargamento do canal do Galo Branco e a construção do novo Pronto-Socorro Municipal. A gente teve que praticamente suspender para não gerar deficit. Faremos esforço para fazer agora, em 2010.

FOLHA - Em relação às enchentes, neste ano já houve problema...
SIDNEI - Essa do Galo Branco é uma obra antienchente importante. Juntam-se ali três córregos, o Espraiado, o Cubatão e o Bagres, então essa obra precisa ser feita. Não adianta fazer mais obras para cima, tem que fazer ali, que é o começo.

FOLHA - Há prazos?
SIDNEI - Não, porque estou pleiteando ajuda do Estado. Apesar que até fevereiro ou março chove muito, então não é aconselhável mexer no primeiro trimestre.

FOLHA - Mas nesse período chuvoso a população vai ter que continuar convivendo com o problema?
SIDNEI - Já sei para onde você está querendo levar a conversa, e não é por aí. Tem duas ou três enchentes por ano. Do ponto de vista de calamidade pública, não chega a acontecer. Até porque é desabitado ali. São só rodovias, chegadas e saídas, trevos. Causa transtorno para quem vai circular lá na hora da enchente, mas a enchente dura meia hora. De qualquer forma é um problema a ser atacado.

FOLHA - A oposição costuma falar que um dos pontos problemáticos do seu governo é a habitação. Há projetos habitacionais em vista?
SIDNEI - Estamos no Minha Casa Minha Vida, com três grandes núcleos, e com algumas áreas sendo estudadas para ceder para a CDHU.

FOLHA - Qual o número de habitações previstas nesses três núcleos?
SIDNEI - Mil e duzentos, mais ou menos. De mil a 1.500.

FOLHA - Qual é o deficit hoje?
SIDNEI - Nove mil e quinhentas [casas]. É engraçado porque a cada notícia que alguém fazia punha mil casas a mais. Então a gente resolveu recadastrar.

FOLHA - No prolongamento do Jardim Santa Bárbara há um núcleo em regime de mutirão inacabado. Por que ainda não foi concluído?
SIDNEI - Tudo o que você faz em regime de mutirão é lento. E ali o projeto inicial foi muito confuso, então nós pleiteamos junto à CDHU que modificasse o projeto. Neste começo de ano a obra vai ser concluída.

FOLHA - A infraestrutura que ainda falta naquele bairro, como o asfalto, depende da conclusão das casas?
SIDNEI - Não faz sentido asfaltar sem as casas prontas.

FOLHA - Em relação à busca de recursos com o governo federal, levantamento feito na Secretaria do Tesouro Nacional mostra que cidades como São Carlos e Araraquara, embora menores, conseguiram mais recursos. Por quê?
SIDNEI - De quem é o governo de Araraquara? E o de São Carlos é de que partido mesmo?

FOLHA - O sr. acha que essa diferença está vinculada unicamente à questão partidária?
SIDNEI - Nós do PSDB temos mais dificuldade junto ao governo federal. Isso está claro, é só comparar Franca, Araraquara, São Carlos e Ribeirão. Ribeirão ainda tem ligações mais fortes com o partido que está no governo por causa do deputado federal [Antônio Palocci Filho]. Nós não temos ligação nenhuma. Temos "n" projetos lá. Em entrevistas dos ministros e do presidente, sempre dizem o seguinte: "depende de projetos".

FOLHA - E em relação ao Estado?
SIDNEI - Nenhum reparo a fazer. Temos um bom relacionamento com o governador Serra, com seus secretários. Franca até poderia ser melhor aquinhoada, mas o governador não aceita meus argumentos, de que se há proteção do governo federal às prefeituras do PT, deveria haver uma proteção do governo estadual às prefeituras do PSDB. Ele não concorda.

FOLHA - É sabido que Franca depende muito de um setor, que é o calçadista. O que a prefeitura tem feito para ajudar esse setor?
SIDNEI - Muito. Vários projetos nós desenvolvemos, junto com Estado, governo federal, sindicato ou Sebrae. Franca é uma cidade de empreendedores. No começo do ano lançamos um projeto de empreendedorismo. A empresa, ao fazer inscrição na prefeitura, é convidada a participar de um ciclo de encontros. Havia um excesso de empresas que abriam e morriam rapidamente.

FOLHA - A diversificação da economia é uma das saídas?
SIDNEI - Nós fizemos agora uma feira experimental que foi um sucesso. Até o ano passado eram cem empresas de lingerie que ninguém sabia que tinha. A gente descobriu e agora já são 150. Diversificação é simples de falar, mas difícil de fazer. Você já viu em algumas cidades, entre elas Ribeirão e Limeira, placas na estrada dizendo "procure a prefeitura, venha para a cidade". Nós já somos industrial há 80 anos. Em termos de calçado masculino é a maior produtora das Américas. Tem que diversificar, mas antes tem que trabalhar para consolidar esse parque fabril para que daqui 30 anos não tenhamos que pôr placa na estrada.

FOLHA - E quanto aos setores de serviços e comércio?
SIDNEI - O primeiro lugar hoje é a prestação de serviços e, em segundo, o comércio. A prestação de serviços tem muito a ver com a indústria de calçados, mas o comércio, não. O comércio deixou de ser local e passou a ser regional. Toda a região ia para Ribeirão, agora uma boa parte vem para Franca. Porque não tem pedágios para Franca e para Ribeirão, tem.

FOLHA - Essa diferença também colabora para que, quando se compare os índices sociais das cidades, Franca apareça bem abaixo?
SIDNEI - Claro, toda cidade industrial é mais pobre.

FOLHA - E o que a prefeitura pode fazer para elevar esses índices?
SIDNEI - Uma administração muito austera, porque Franca, por ser industrial, arrecada pouco. Não dá para aumentar impostos. O Orçamento é um terço do de Ribeirão, e a população de Ribeirão não chega ao dobro da nossa. Nada de obras faraônicas, só as necessárias e simples, sem enfeitar o pavão.


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