Ribeirão Preto, Domingo, 03 de Abril de 2011

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Bollywood caipira

Apesar de pequena, a cidade de Batatais produz filmes desde a década de 90, acumula 34 títulos - entre eles dois longas - e sonha em se transformar num minipolo do cinema , a exemplo do que ocorre na Índia

MARCELO TOLEDO
EDITOR-ASSISTENTE DA
FOLHA RIBEIRÃO


Filmado com apenas uma câmera, com orçamento quase zero e sem ensaios, Batatais produziu seu primeiro longa-metragem do século 21 -o segundo da sua história.
Inspirado no norte-americano "A Bruxa de Blair", o filme "Meia-Luz - Você não Vai Querer Estar Lá" foi pré-lançado em fevereiro no único cinema da cidade e agitou a produção local.
Apesar de pequeno, o município de 56 mil habitantes tem um histórico de outros 34 filmes -32 curtas-, tendo começado a fazer cinema na década de 90, antes das câmeras digitais.
Com a nova obra, a cidade sonha em se transformar num minipolo de produções de baixíssimo orçamento, uma versão caipira de Bollywood -a indústria do cinema da Índia, conhecida por produzir anualmente centenas de filmes.
Usando planos-sequência (sem cortes), "Meia-Luz" narra em 75min a história de um palhaço que matou crianças numa propriedade rural que acabou amaldiçoada.
Um grupo de jovens é assustado por vultos, portas que se trancam e móveis que se mexem e caem, numa noite que, para eles, parece não ter fim. A câmera acompanha toda a ação e, por vezes, treme e desfoca.
Qualquer semelhança do roteiro inicial com a lendária "gangue do palhaço" (que raptava crianças usando uma Kombi branca na capital na década de 90) não é mera coincidência.
O bibliotecário Diego Leandro Marques, 24, roteirista do filme, conta que depois de participarem da oficina de cinema Meu Primeiro Filme, o produtor José Adauto Cardoso teve a ideia.
"O original surgiu da lenda urbana do palhaço", disse Marques, que é de São Paulo, palco da "gangue".
O filme foi rodado em 15 dias, envolveu 20 pessoas na produção, utilizou um grupo de teatro amador, teve orçamento de R$ 50 mil e efeitos nulos -a não ser que uma gaveta que se abre quando uma porta é fechada seja tido como um efeito especial.
A única locação foi uma propriedade rural, onde "Meia-Luz" foi rodado com 90% das cenas noturnas.

IMPROVISO
Cardoso afirmou que a essência das filmagens é a criatividade. "Não ensaiamos muitas vezes porque queríamos a espontaneidade dos atores", disse.
Nos anos 90, Cardoso rodou dois longas experimentais na cidade, "O Fantasma do Laranjal" e "O Mandioqueiro" -este, considerado um cult em Batatais.
A oficina, que rendeu os 32 curtas-metragens nos últimos quatro anos -sendo dez no ano passado-, é essencialmente prática. Após três reuniões, todos vão às ruas, fazer roteiro e filmar.
As aulas da oficina, que tem orçamento semestral de R$ 8.000 e é bancada pela prefeitura, ocorrem no Cine Plata, com capacidade para 216 pessoas.
Um novo grupo está sendo formado, com cerca de 50 interessados em produzir novas obras cinematográficas.


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