Ribeirão Preto, Domingo, 04 de Fevereiro de 2001

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CRISE CARCERÁRIA 2

Para especialista, transferências de detentos é demonstração de que prisioneiros comandam cadeias

"Amadorismo" permite privilégios a presos

DA REDAÇÃO, EM RIBEIRÃO
DA FOLHA RIBEIRÃO

O "amadorismo" com que são conduzidas as penitenciárias do Estado e a má formação técnica de diretores e da própria Secretaria de Estado da Administração Penitenciária permite muitos privilégios aos detentos, de acordo com o o coronel aposentado da PM José Vicente da Silva Filho, do Instituto Fernand Braudel.
"Para tentar manter a calma, os presídios fazem transferências de presos como eles (detentos) querem. Isso contribui para a formação de grupos dentro das unidades prisionais", afirmou.
Para Silva Filho, o fruto da relação de "vistas grossas" feita pela polícia com os detentos é tido como o motivo do surgimento de facções criminosas, como o PCC (Primeiro Comando da Capital) ou o CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade). Os grupos hoje estão presentes em praticamente todas as penitenciárias do Estado.
Silva Filho disse acreditar que os problemas nas unidades se agravam a cada dia e que só uma polícia específica poderia amenizar a situação.
"O sistema de prisões é muito frágil. É só ver a situação de Araraquara. O diretor chega, pega cinco presos, sai e ninguém pergunta nada. E se o diretor quiser, durante o dia, abrir o portão e mandar todos saírem? Ninguém perguntaria nada também?", afirmou o delegado da PF (Polícia Federal) de Ribeirão Preto Wilson Alfredo Perpétuo.
Para o delegado da PF, só existe problemas nas unidades carcerárias da região de Ribeirão porque falta autoridade para evitar que isso aconteça.
"Os bandidos agem livremente. Para entrar na cadeia, eu, que sou delegado, preciso passar por revista e não permitem que eu entre armado ou com celular. Como os bandidos têm isso? O sistema é altamente falho e tem que ser resolvido", afirmou Perpétuo.

Soluções
As propostas para se melhorar a segurança nas penitenciárias são várias, indo desde a criação de uma guarda especializada até a punição a funcionários que facilitarem fugas ou resgates.
"O funcionário que ajudar alguém a fugir cumpriria pena até que o preso que foi libertado seja recapturado. Se o detento não for pego novamente, o funcionário cumpre o restante da pena", afirmou Perpétuo à Folha.
O secretário de Estado da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, foi procurado durante a semana, mas não foi encontrado. (MARCELO TOLEDO E ROGÉRIO PAGNAN)


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