Ribeirão Preto, Domingo, 4 de abril de 1999

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RELIGIÃO
Pessoas a quem se atribuem milagres são consideradas santas por fiéis e peregrinos que visitam locais
População elege "santos" na região

Ernesto Rodrigues/Folha Imagem
Waldir Barbosa reza no túmulo da Alma Milagrosa


da Folha Ribeirão

A fé e o culto espiritual em busca de curas e graças divinas muitas vezes escapam do controle da Igreja Católica e fazem com que surjam "santos" populares, pessoas sem identificação definida que, aos poucos, vão conquistando fiéis.
O "santo" popular mais conhecido da região (deixando de lado o padre Donizetti, "abraçado" pelo Vaticano e já em processo de beatificação) é a Menina Izildinha, cujo mausoléu, localizado em Monte Alto, atrai pelo menos 300 pessoas por semana para diversos cultos.
Nascida em Portugal, em 1897, e morta aos 14 anos com leucemia, Maria Izilda Castro Ribeiro ficou conhecida como Izildinha e teve seu culto iniciado no Brasil quando seu corpo foi trasladado para Monte Alto em 1958 a pedido de seu irmão, um empresário.
De acordo com testemunhas da época, quando chegou ao porto de Santos, o caixão foi aberto e foi verificado que o corpo estava intacto, inclusive com o mesmo aroma das flores com ela enterradas.
Foi construído um mausoléu onde fiéis podem observar o caixão por uma redoma de vidro e fazer promessas e pedidos.
Todos os anos, a cidade organiza uma festa em homenagem à "santa", no período de 13 a 20 de junho, quando pelo menos 4.000 pessoas de vários Estados visitam o mausoléu e rezam novenas.
"Tive uma hemorragia no esôfago e fui curado pela Menina Izildinha. Por isso, fiz questão de montar meu comércio em frente ao santuário", afirma Wilson Flores Motta, proprietário da churrascaria "Izildinha".
No cemitério da Saudade, em Franca, a fé dos visitantes fez com que dois túmulos, um deles até sem identificação, se tornassem locais de cultos e pedidos.
A Alma Milagrosa atrai pelo menos 200 pessoas por semana em busca de curas e realizações de promessas.
De acordo com a própria administração do cemitério, não se sabe até hoje quem está enterrado no local. Fiéis dizem que se trata de uma mulher, possivelmente escrava, morta no final do século passado de maneira cruel.
"Meu filho teve câncer e quase morreu, mas a Alma Milagrosa intercedeu por ele, mesmo com os médicos dizendo que ele estava desenganado", afirma o sapateiro Waldir Barbosa.
Outro local de culto no cemitério é o túmulo de Maria Conceição de Barros, enterrada em 1928.
A lenda conta que ela teria sido morta pelo pai de um estudante que a engravidou e, após vários anos, acabou se tornando a "santa das gravidezes impossíveis".
Os túmulos dos padres José Teixeira, em São Carlos, e Santos Ramirez, em Ribeirão Preto, são também visitados por fiéis das cidades, mesmo sem o reconhecimento oficial da Igreja Católica.



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