Ribeirão Preto, Domingo, 04 de Junho de 2000


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SEGURANÇA 3
Em treinamento, guarda de Ribeirão Preto dá 120 tiros para poder sair às ruas; policial militar dispara 450
PM atira quase 5 vezes mais que GCM

DA REDAÇÃO, EM RIBEIRÃO

Um policial militar da região treina no mínimo quase quatro vezes mais do que um guarda municipal de Ribeirão Preto antes de sair às ruas.
Segundo a escola de soldados da PM de Jardinópolis, um policial dá, na pior das hipóteses, 450 tiros para poder usar um revólver e fazer a segurança na região.
A GCM (Guarda Civil Municipal) de Ribeirão, no entanto, atira 120 vezes antes de trabalhar nas ruas.
Comparando o tempo de formação, o guarda faz um mês de curso sobre teoria e prática de tiro, enquanto um PM realiza um ano de aulas, sendo 160 horas específicas para atirar.
A comparação fica ainda mais discrepante se for levado em conta o número mínimo de tiros dados por um policial dos EUA para sair às ruas armado: 3.500, ou seja, quase 30 vezes mais que a marca da Guarda Municipal de Ribeirão.
"Nem dá para comparar. Assusta", afirma o ex-deputado Hélio Bicudo, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos). Ferrenho crítico das guardas, ele defende a unificação das Polícias Civil e Militar.
"O armamento indiscriminado (das guardas municipais) é extremamente perigoso", afirmou a geógrafa urbana Sueli Andruccioli Felix, da Unesp de Marília.
Para um instrutor de tiros de polícias de todo o país -que não quis se identificar -, o mínimo aceitável para se usar uma arma é mais de 4.000 tiros.
Segundo ele -consultor de corporações de São Paulo-, quanto mais se atira, mais segurança o agente terá.
Mas talvez o que mais impressione é o fato de se questionar o uso de armamentos frágeis se comparados aos do crime organizado.
Numa região em que a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Narcotráfico apura ligações de quadrilhas locais com o crime organizado internacional, os revólveres calibre 38 da GCM nada representam frente aos AR-15 (ou M-16), ao FAL (Fuzil Automático Leve) e aos AK-47 dos traficantes.
Os equipamentos das quadrilhas só são inferiores aos do Exército brasileiro, mesmo assim levando-se em conta que a instituição militar tem armamento pesados (como canhões e morteiros, típicos de guerra).
"Para que ter guarda armada com 38, se o crime organizado carrega equipamentos infinitamente superiores?", diz o instrutor de tiro.

Despreparo
A falta de preparo no uso das armas tem estados relacionada a acusações contra as guardas no interior do Estado.
Em Campinas, por exemplo, uma CEI (Comissão Especial de Investigação) da Câmara apura o suposto abuso de poder da Guarda Municipal frente aos perueiros durante uma manifestação a favor do transporte alternativo no final do ano passado.
A discussão na cidade voltou à tona depois que houve uma chacina de três pessoas num lixão da cidade. Membros da Guarda Municipal de Campinas são acusados de participação no crime.
Em São Paulo, a Guarda Civil Metropolitana da capital se envolveu em processos em que foi acusada de excessos.
"Em um deles, houve confronto entre guardas e policiais militares em plena rua da capital", afirmou o sociólogo do NEV (Núcleo de Estudos da Violência) da USP Luís Antônio Francisco Souza.
"A arma representa mais segurança ou não? Minha resposta é não. Com ela, diferentemente do que se espera, o policial fica mais inseguro ainda", disse o psicólogo social Luiz Carlos da Rocha.
(LUÍS EBLAK)

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