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Lista de violência policial inclui a região
Morte do catador de papelão Juliano Diogo e de ex-interno da Febem Cleonder fazem parte de trabalho elaborado pela PUC
Nos dois casos, inquéritos foram arquivados sem apontar culpados pelas mortes; especialistas veem padrão na ação da polícia
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
Um jovem catador de papelão, de 26 anos, morto com seis
tiros pela Polícia Militar em Ribeirão Preto. Um ex-interno
modelo da antiga Febem que
volta à cadeia e morre por suspeita de negligência no CDP
(Centro de Detenção Provisória) de Araraquara. Os dois casos foram arquivados.
As duas situações recheadas
de indícios de abuso e erros cometidos por policiais na região
integram uma lista da violência
policial em todo o Estado. O
mapeamento foi organizado
pelo Observatório das Violências Policiais, ligado à PUC
(Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.
Na maior parte dos casos,
pesquisadores identificam padrões na ação da polícia, o de
"atirar primeiro para perguntar depois" e de o ferido chegar
morto após ser transportado
pelo carro da polícia.
O observatório selecionou
115 casos de tortura, violência e
abuso de policiais ocorridos
desde 1997, a partir de notícias
de 120 jornais paulistas. Na região, o mais recente deles é de
2006 que teve como vítima o
catador de papelão Juliano
Diogo, 26, que morava na favela
Simioni, em Ribeirão.
A morte ocorreu dois dias depois do início dos ataques do
PCC, dias em que se multiplicaram em todo o Estado denúncia
de mortos pela polícia sem uma
explicação aparente.
No caso de Juliano, a versão
da polícia é de que ele correu
com arma nas mãos e atirou
nos carros dos policiais militares. Nenhum deles se feriu, mas
Juliano morreu baleado.
Entretanto, a história contada por testemunhas é que quatro PMs desceram do carro e
abordaram Juliano. "Não deu
nem tempo de ele falar nada.
Chegaram atirando", disse uma
testemunha à Folha, na época.
Primeiro, foi um tiro no abdômen. Depois, disse a testemunha, o catador foi arrastado e
levou mais três tiros: na cabeça,
no peito e nas costas.
Ainda segundo a testemunha, depois de morto, os PMs
colocaram uma arma na mão
de Juliano e simularam disparos contra o carro policial. A
versão oficial é de que uma ambulância o socorreu. Mas a família e vizinhos dizem que foi a
polícia que o transportou.
Durante as investigações,
surgiram divergências nos depoimentos das testemunhas.
Em 2007, o inquérito da Polícia
Civil foi concluído sem indiciar
nenhum PM por entender não
haver provas de que houve execução policial. "Pelas provas,
houve homicídio, mas não caberia indiciamento", disse à
Folha na época o delegado Carlos Alberto Silva.
Em julho deste ano, o Ministério Público pediu arquivamento do caso, que foi acatado
pela Justiça. O promotor criminal José Roberto Marques disse que baseou seu pedido em
provas da perícia e em versões
contraditórias das testemunhas sobre fatos relevantes, como ter visto ou não os PMs
"plantarem" a arma nas mãos
de Juliano.
A reconstituição do crime
descartou que as testemunhas
pudessem ter visto com nitidez
a cena devido à distância que
estavam e à baixa iluminação.
Para a família de Juliano, o
arquivamento do inquérito soa
como impunidade. "A gente é
lixo para eles", disse a mãe, Irene Diogo, 51. Até hoje, eles esperam indenização do Estado.
Negligência
O outro registro é o de Cleonder Santos Evangelista, morto
aos 20 anos. Ele passou, em
pouco mais de dois anos, de garoto-símbolo do que seria uma
Febem bem-sucedida, quando
passou em direito em 2003, para vítima das condições do sistema prisional.
Começou o curso e escreveu
um livro. Mas voltou para a cadeia, onde morreu por pneumonia e falência múltipla dos
órgãos, em 2005, no CDP de
Araraquara.
Segundo familiares, Cleonder morreu por causa do tratamento recebido na prisão e de
negligência no atendimento. O
inquérito da morte foi encaminhado em 2006 para a Vara
Criminal de Araraquara e arquivado em março de 2007.
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