Ribeirão Preto, Domingo, 07 de Março de 2010

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Só 15% da região tem Corpo de Bombeiros

Apenas 14 das 89 cidades da região de Ribeirão têm bases da corporação; principal entrave para expansão é financeiro

Cidades que não têm bases dependem de unidades vizinhas ou ainda de caminhões-pipa de prefeituras e usinas

Edson Silva/Folha Imagem
O encarregado Herminio Marques Neto limpa rua com caminhão-pipa da Prefeitura de Morro Agudo

VERIDIANA RIBEIRO
ENVIADA ESPECIAL A MORRO AGUDO

Eram pouco mais de 2h quando o encarregado de limpeza Herminio Marques Neto, 38, foi acordado às pressas para controlar um incêndio em Morro Agudo. Vestindo short e chinelos, ele buscou o caminhão-pipa da prefeitura e correu para apagar o fogo da casa onde morava a menina Ana Clara Micael, 3, que morreu carbonizada no último dia 21.
Naquela madrugada, Neto precisou desempenhar o papel postiço de controlador de incêndios porque em Morro Agudo, assim como em 80% das cidades paulistas, não há serviço do Corpo de Bombeiros.
"Na hora, a gente age por instinto mesmo", disse Neto, que não recebe roupa especial ou treinamento regular para desempenhar a função "extra".
De acordo com levantamento do 9º Grupamento de Bombeiros de Ribeirão Preto feito a pedido da Folha, somente 128 cidades das 645 existentes no Estado têm bases ou postos do Corpo de Bombeiros.
Já nas 90 cidades da região de Ribeirão, o índice é menor. Só 14 municípios, ou 15,7%, mantêm o serviço. O restante depende de ajuda de unidades do Corpo de Bombeiros de cidades vizinhas, dos caminhões-pipa das próprias prefeituras ou das usinas, que acabam desempenhando papel de "bombeiro" em cidades canavieiras.
Segundo o tenente Marco Palumbo, chefe da seção de Comunicação Institucional do Corpo de Bombeiros em São Paulo, o principal entrave para a expansão dos serviços da corporação no Estado é financeiro. Por lei, a implantação de bases ou postos dos bombeiros depende de um convênio entre Estado e município.
Assim, fica a cargo das prefeituras comprar combustível, manter viaturas, construir ou alugar imóveis para o funcionamento da base ou dos postos dos bombeiros. Assim, em cidades menores, as despesas inviabilizam o serviço.
Além de Morro Agudo, outro caso é do da Prefeitura de Fernando Prestes, que em dois episódios recentes precisou esperar a ajuda do posto do Corpo de Bombeiros de Taquaritinga, localizada cerca de 30 quilômetros de distância.
O auxilio "externo" foi acionado em 2007, quando a prefeitura decretou estado de emergência devido a uma chuva que alagou a cidade e matou um homem, e no ano passado, quando um carro caiu em uma cratera aberta pela chuva na pista de entrada da cidade.
"Fazer falta, faz. Mas nós somos tão pequenos que não temos a menor condição de ter um posto do Corpo de Bombeiros aqui", disse o prefeito Bento Luchetti Júnior (PSDB), que administra um orçamento anual de R$ 13 milhões, 1,14% do valor gerenciado pela prefeita de Ribeirão, Dárcy Vera (DEM), no ano passado.
Segundo Palumbo, o custo de uma base ou de um posto do Corpo de Bombeiros varia de acordo com o perfil de cada cidade. Em Ribeirão Preto, por exemplo, a prefeitura reservou R$ 1,3 milhão no Orçamento deste ano com essa finalidade. Em Taquaritinga, o governo, que mantém 18 bombeiros municipais, investe uma média de R$ 70 mil por mês para ter um posto da corporação.


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