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Jovem fuma por alívio e para imitar adulto
Pesquisa mostra que adolescentes começam a fumar cada vez mais cedo e buscam no vício saída para os problemas
Para garotas, principais
motivos são alívio e fuga da
solidão; entre meninos pesa
a influência de modelos e a
busca por autoafirmação
LEANDRO MARTINS
DA FOLHA RIBEIRÃO
Quando tinha 13 anos, o estudante Lucas (nome fictício) fumou o primeiro cigarro. Por influência de amigos mais velhos,
o cigarro passou a ser um companheiro constante.
Pouco tempo depois, quando
decidiu levar o vício para dentro de casa e abrir para a família
que já fumava, a revelação foi
seguida de muita discussão, insuficiente para que ele decidisse parar de fumar.
O perfil de jovens como Lucas, que começam a fumar cada
vez mais cedo e buscam no vício o alívio para problemas, é
cada vez mais comum, de acordo com estudo feita pela psicóloga Cassiana Moraes de Oliveira para o mestrado em psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP
de Ribeirão Preto.
Para o estudo, a psicóloga
acompanhou 80 estudantes de
15 a 18 anos, sendo 40 fumantes
e 40 não fumantes. Ela detectou que a iniciação precoce ao
fumo é cada vez mais frequente
e que a maioria dos jovens recebeu convites para experimentar o cigarro de amigos.
Hoje, aos 16 anos, Lucas afirma que até já tentou deixar o vício. Parou por duas semanas,
mas não conseguiu. Segundo
ele, a maioria dos amigos fuma,
o que dificulta a tentativa de se
afastar das tragadas. "A vontade também é grande, é vício
mesmo", afirmou.
Nos momentos de tensão,
quando fica nervoso por causa
de alguma briga ou em períodos
de provas na escola, o vício
aperta ainda mais. Nestes períodos, ele chega a fumar 12 cigarros por dia.
Já a estudante Luiza (nome
fictício), hoje com 14 anos, começou a fumar ainda mais cedo, aos 11. A influência dos amigos que já fumavam também foi
fator determinante para que
ela tivesse contato com o cigarro. Luiza mora só com a mãe,
que sabe do vício da filha, mas,
segundo ela, não gosta. "Ela
disse que eu ia trabalhar para
sustentar o vício."
Luiza também afirma que a
pressão e o estresse causados
por problemas do dia a dia fazem aumentar o consumo de
cigarro. "Se eu brigo com meu
namorado, fumo ainda mais",
disse, ao revelar que o namorado desaprova o vício.
Tanto Luiza como Lucas afirmam que, embora exista lei que
proíba a venda de cigarros para
menores, conseguem comprar
com facilidade.
A pesquisa apontou ainda
que há predomínio de motivações diferentes entre garotos e
garotas para o início do tabagismo. Entre as meninas, há a justificativa de que o fumo é usado
para o alívio de situações difíceis e compensação da solidão.
Já entre os garotos, há dois fatores principais: a influência de
modelos, como amigos e familiares fumantes, e a necessidade de autoafirmação.
A pesquisa também mostrou
maior proporção de mães sem
relacionamento estável no grupo de adolescentes fumantes, o
que sugere que jovens que vivem com famílias estáveis estão mais protegidos e menos
propensos ao fumo.
"É possível afirmar que ter
uma estrutura familiar saudável é um fator de proteção para
que o jovem não inicie o tabagismo", disse a pesquisadora.
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