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"Suspeita" de vaca louca para Barrinha
Caixão com o corpo da dona de casa Elsa Reigota é lacrado; família crê em mal da vaca louca, o que é negado pelo Estado
Secretaria da Saúde afirma que a morte foi provocada pela Doença de Creutzfeldt-Jacob, a primeira registrada em São Paulo em 2010
VERIDIANA RIBEIRO
ENVIADA ESPECIAL A BARRINHA
Desde anteontem, a morte da
dona de casa Elsa Marina da
Silva Reigota, 54, tira o sossego
de quem vive em Barrinha. Em
junho, após ser submetida a
exames no HC, ela recebeu
diagnóstico "provável" de
Doença de Creutzfeldt-Jacob,
cuja variação foi associada à
síndrome da "vaca louca" ocorrida na Europa nos anos 90.
Apesar de o diagnóstico ter
sido divulgado pelo hospital em
junho, a família só começou a
ficar preocupada com as possíveis consequências anteontem,
quando ela foi enterrada. É que,
por recomendação do SVO
(Serviço de Verificação de Óbito), o caixão foi lacrado e o coveiro que fez o enterro foi
orientado a usar luvas, botas,
máscara e a cobrir os braços.
O velório também foi encurtado -menos de duas horas- e,
segundo o encarregado do cemitério, Geraldino Batista, 49,
o corpo só poderá ser retirado
do túmulo em dez anos, por recomendação do SVO. No enterro, compareceram cem pessoas, a maioria curiosas.
A Secretaria de Estado da
Saúde, entretanto, descarta a
possibilidade de ela ter sido vítima da doença e diz que não há
necessidade de ser adotada nenhuma medida especial.
"A gente fica com a cabeça na
lua, porque não sabe de onde
vem [a doença]. E se ela estiver
no ar? Passou um monte de
gente aqui em casa para visitá-la e a gente tem netos", disse o
viúvo, Rubens Reigota, 59.
A preocupação da família é
de a doença ser contagiosa após
a morte, já que nenhum representante de órgãos de saúde
deu informações sobre o que
aconteceu com Reigota.
A dona de casa teve os primeiros sinais da doença em
maio. Segundo a filha Leandra
Reigota, 30, a mãe começou a
ter dificuldades de locomoção e
a sofrer de "esquecimentos".
Primeiro, ela foi atendida em
Barrinha e, no mês seguinte, foi
encaminhada ao HC. No final
de junho, recebeu alta mas, segundo laudo do hospital, já com
"completa dependência de terceiros para todas as atividades
de vida diárias, como alimentação, hidratação, higiene".
Reigota passou os últimos sete meses em casa, exceto o período entre 12 de dezembro e 6
de janeiro, quando ficou internada no Hospital Estadual por
causa de complicações respiratórias. Ela morreu de pneumonia, de acordo com o atestado
de óbito dado à família.
Segundo o oncologista Ricardo Brentani, presidente do
Hospital A.C.Camargo, em São
Paulo, e fundador do Grupo
Brasileiro de Estudos de
Príons, "não existe registro de
doença da vaca louca na América do Sul nem em vaca nem em
cabra nem em ovelhas".
Brentani disse que a Doença
de Creutzfeldt-Jacob, que provoca mutação em uma proteína
abundante em neurônios
(príons), é de incidência "baixíssima" e seus sinais são muito
parecidos com a doença que ficou conhecida como síndrome
da vaca louca.
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, trata-se do primeiro caso em São Paulo no
ano. A pasta considera aceitável que haja até 40 casos por
ano da doença, embora a média
seja de sete a dez casos anuais.
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