Ribeirão Preto, Sábado, 09 de Janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Suspeita" de vaca louca para Barrinha

Caixão com o corpo da dona de casa Elsa Reigota é lacrado; família crê em mal da vaca louca, o que é negado pelo Estado

Secretaria da Saúde afirma que a morte foi provocada pela Doença de Creutzfeldt-Jacob, a primeira registrada em São Paulo em 2010


VERIDIANA RIBEIRO
ENVIADA ESPECIAL A BARRINHA

Desde anteontem, a morte da dona de casa Elsa Marina da Silva Reigota, 54, tira o sossego de quem vive em Barrinha. Em junho, após ser submetida a exames no HC, ela recebeu diagnóstico "provável" de Doença de Creutzfeldt-Jacob, cuja variação foi associada à síndrome da "vaca louca" ocorrida na Europa nos anos 90.
Apesar de o diagnóstico ter sido divulgado pelo hospital em junho, a família só começou a ficar preocupada com as possíveis consequências anteontem, quando ela foi enterrada. É que, por recomendação do SVO (Serviço de Verificação de Óbito), o caixão foi lacrado e o coveiro que fez o enterro foi orientado a usar luvas, botas, máscara e a cobrir os braços.
O velório também foi encurtado -menos de duas horas- e, segundo o encarregado do cemitério, Geraldino Batista, 49, o corpo só poderá ser retirado do túmulo em dez anos, por recomendação do SVO. No enterro, compareceram cem pessoas, a maioria curiosas.
A Secretaria de Estado da Saúde, entretanto, descarta a possibilidade de ela ter sido vítima da doença e diz que não há necessidade de ser adotada nenhuma medida especial.
"A gente fica com a cabeça na lua, porque não sabe de onde vem [a doença]. E se ela estiver no ar? Passou um monte de gente aqui em casa para visitá-la e a gente tem netos", disse o viúvo, Rubens Reigota, 59.
A preocupação da família é de a doença ser contagiosa após a morte, já que nenhum representante de órgãos de saúde deu informações sobre o que aconteceu com Reigota.
A dona de casa teve os primeiros sinais da doença em maio. Segundo a filha Leandra Reigota, 30, a mãe começou a ter dificuldades de locomoção e a sofrer de "esquecimentos".
Primeiro, ela foi atendida em Barrinha e, no mês seguinte, foi encaminhada ao HC. No final de junho, recebeu alta mas, segundo laudo do hospital, já com "completa dependência de terceiros para todas as atividades de vida diárias, como alimentação, hidratação, higiene".
Reigota passou os últimos sete meses em casa, exceto o período entre 12 de dezembro e 6 de janeiro, quando ficou internada no Hospital Estadual por causa de complicações respiratórias. Ela morreu de pneumonia, de acordo com o atestado de óbito dado à família.
Segundo o oncologista Ricardo Brentani, presidente do Hospital A.C.Camargo, em São Paulo, e fundador do Grupo Brasileiro de Estudos de Príons, "não existe registro de doença da vaca louca na América do Sul nem em vaca nem em cabra nem em ovelhas".
Brentani disse que a Doença de Creutzfeldt-Jacob, que provoca mutação em uma proteína abundante em neurônios (príons), é de incidência "baixíssima" e seus sinais são muito parecidos com a doença que ficou conhecida como síndrome da vaca louca.
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, trata-se do primeiro caso em São Paulo no ano. A pasta considera aceitável que haja até 40 casos por ano da doença, embora a média seja de sete a dez casos anuais.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Doença surgiu na Inglaterra, na década de 1980
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.