Ribeirão Preto, Domingo, 11 de abril de 1999

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PERIGO NO AR
Condições precárias põem em risco passageiros da região, que tem o segundo maior movimento do interior
460 mil passam por aeroporto inseguro

Ernesto Rodrigues/Folha Imagem
Sala de operações da torre de controle do aeroporto de Araraquara, que está desativada


ALESSANDRO BRAGHETO
da Folha Ribeirão

Responsáveis pelo movimento de quase meio milhão de pessoas no ano passado, os aeroportos das principais cidades da região de Ribeirão Preto estão operando sem condições mínimas de infra-estrutura e segurança, colocando em risco passageiros e aeronaves.
Ausência de posto do Corpo de Bombeiros, falta de equipamentos e de funcionários são os principais problemas dos aeroportos.
Em menos de 20 dias, dois acidentes com aviões em Franca e Ribeirão deixaram um saldo de sete mortes e trouxeram à tona a estrutura precária dos aeroportos.
O próprio Daesp (Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo) considera a situação "gravíssima" e já planeja mudanças.
"Nenhum dos aeroportos da região de Ribeirão Preto possui um atendimento adequado dos bombeiros", disse Wagner César de Araújo, chefe de gabinete do departamento em São Paulo.
Segundo o órgão, os aeroportos da região contabilizam o segundo maior movimento do interior, com a circulação anual de 460 mil passageiros, 45 mil pousos e decolagens e pela movimentação de 2.400 toneladas de cargas.
Em três das principais cidades -Franca, Araraquara e Barretos-, os aeroportos não têm torre de controle ou posto de bombeiro.
Em alguns casos, o deslocamento de um carro de uma cidade para outra para apagar incêndios demora mais de dez minutos.
Mas o caso mais grave continua sendo o do aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão, que teve no ano passado 32.132 pousos e decolagens, o maior movimento de sua história.
O posto de bombeiros do local possui apenas dois funcionários (deveria ter pelo menos 20), sem equipamentos adequados ou treinamento específico para atendimento a incêndios em aeroportos.
"No acidente ocorrido na terça-feira com um Learjet 24, que deixou cinco mortos, os bombeiros tiveram dificuldades em apagar o fogo, o que acabou aumentando os estragos na pista e a consequente demora em liberar o aeroporto", disse o major Antonio Carlos Muniz, comandante interino dos bombeiros de Ribeirão.
Com a interdição da pista do aeroporto de Ribeirão para pousos e decolagens durante dois dias, os vôos tiveram de ser desviados para outras cidades, onde não há estrutura para os procedimentos.
"Recebemos em dois dias cerca de 20 aviões de grande porte a mais do que o previsto e tivemos dificuldades em atender todos os passageiros", disse Daniel Faleiros Borges, administrador do aeroporto de Franca.
O local possui só quatro funcionários e o deslocamento do veículo dos bombeiros, que fica fora do aeroporto, demora dez minutos.
Há cerca de 20 dias, um avião bimotor caiu no local, matando duas pessoas um minuto após decolar no aeroporto.
"A última reforma do aeroporto ocorreu em 1980. Sabemos das necessidades de mudança rápidas."
A situação do aeroporto de Araraquara é similar, com falta de funcionários, sem torre de controle e posto de bombeiros.
"Em casos de grande movimento como os dessa semana, quando aviões que pousariam em Ribeirão deslocaram suas rotas, temos um pouco de problema com o controle", disse Antonio Carlos Dinato, administrador do aeroporto.
Devido à falta de funcionários, o aeroporto não consegue funcionar 24 horas, o que seria necessário.
O aeroporto de Barretos também não possui funcionários suficientes nem posto de bombeiros e, na época da Festa do Peão de Boiadeiro, chega a receber 400 vôos entre pousos e decolagens por dia, movimento maior que o do Campo de Marte, em São Paulo.
"Somos obrigados a chamar reforço de outras áreas", disse o administrador do aeroporto, Antonio Carlos de Freitas.



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