Ribeirão Preto, Domingo, 13 de setembro de 1998

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Rios e vegetação favoreciam a sobrevivência do homem pré-histórico, segundo pesquisadora da USP
Região teve "superpopulação" de tribos

do enviado especial

A região de Ribeirão Preto deve ter sido superpovoada por tribos pré-históricas, atraídas pelo tipo de vegetação e pela abundância de rios, principalmente nas proximidades da cidade de Cajuru.
A conclusão é da arqueóloga Silvia Maranca, vice-diretora do MAE (Museu Arqueológico e Etnológico) da USP (Universidade de São Paulo).
"A mata e os rios forneciam a eles tudo o que precisavam para sobreviver", afirma a pesquisadora. Na semana passada, ela retirou três urnas em cerâmica, enterradas em uma fazenda de Cajuru.
As peças -primeiros artefatos cerâmicos encontrados na cidade- estavam a menos de 500 metros do rio Pardo e 80 centímetros abaixo do solo.
As urnas foram salvas pelo operador de máquinas Amiro Roela, funcionário da Usina Amália. Ele fazia terraplenagem em uma área da fazenda, quando bateu na peça pré-histórica.
"Perto do local em que retiramos os objetos ainda pode haver marcas de uma aldeia", afirma a pesquisadora da USP.
Ela diz ter feito vistoria no terreno, depois da escavação, sem encontrar mais vestígios de artefatos pré-históricos.
Dentro da urna, ainda foi encontrada uma ossada de um humano pré-histórico.
O material recolhido está no Museu de Arqueologia da USP, onde será recuperado e estudado. "Vamos devolver a peça depois para o museu da cidade", afirmou a pesquisadora da universidade.
A descoberta ajuda os arqueólogos a analisar como viviam as tribos pré-históricas.
Na região de Ribeirão Preto, já foram encontrados artefatos desse período, que datam de 500 anos antes do descobrimento do Brasil, em 1500, em São Simão, Cajuru e Monte Alto.
De acordo com a arqueóloga, as tribos migravam quando faltava alimento e dependendo das mudanças do clima.
As informações encontradas em Cajuru, em relação ao tipo de artesanato, serão comparadas com as que foram obtidas em Monte Alto.
É possível saber, por exemplo, se as peças pertenciam a um mesmo grupo. "A arqueologia tem como função reconstituir a vida do homem pré-histórico", disse.
Por enquanto, arqueólogos acham difícil precisar o nome das tribos que viveram na região. Isso porque os registros da população indígena no país começaram a ser feitos após a colonização portuguesa, a partir de 1530.
A data das peças desenterradas na região estão sendo submetidas ao teste do carbono 14. Por meio da medição da radiação, cientistas conseguem estimar a data em que houve a confecção.
Os artefatos já testados, que foram achados em Monte Alto, têm mais de 1.500 anos de existência, de acordo com o museu da cidade.

Garimpo
As escavações de Cajuru só serão retomadas caso apareçam novos indícios de tesouros arqueológicos, segundo a pesquisadora.
Hoje, existem pelo menos 25 sítios arqueológicos no Estado, sendo que 17 deles recebem a supervisão da equipe do MAE.
No total, 14 arqueólogos trabalham nessas buscas, divididos em regiões.
No próximo mês, pesquisadores do MAE devem inaugurar em Monte Alto o segundo museu do interior, em parceria com a prefeitura da cidade.
Cerca de 2.000 peças já foram recolhidas na região, entre pontas de lanças feitas em pedras, cerâmicas e machadinhas.
Além disso, teriam sido descobertos dez esqueletos. O acervo desse novo museu está sendo mantido em segredo.
Os arqueólogos da USP participam de escavações em três pontos do litoral paulista e outros seis no interior, sendo que metade deles ficam na região de Ribeirão Preto.
As descobertas na região de Ribeirão são fotografadas e filmadas para depois serem comparadas e estudadas pelos pesquisadores. (ALESSANDRO SILVA)


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