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ENTREVISTA DE DOMINGO
Para promotor, ambição
leva jovem à criminalidade
da Redação
O aumento da violência nos crimes cometidos por adolescentes é
um dos fatores responsáveis pelo
crescimento de mortes de jovens
egressos da Febem (Fundação para o Bem-Estar do Menor) de Ribeirão Preto.
Para o promotor Luiz Henrique
Pacini Costa, da Vara da Infância e
Juventude, há alguns anos, os adolescentes infratores eram de famílias pobres e cometiam principalmente pequenos furtos. "Hoje, os
meninos já entram no crime mais
grave, como o roubo à mão armada", afirma Pacini Costa.
No último dia 4, os jovens
L.C.S.T. e P.W.F.V., ambos de 17
anos, e Genoé Ferreira da Silva Jr.,
20, foram mortos em uma chacina
em um canavial na periferia de Ribeirão. Dois policiais militares são
acusados de matar os jovens e outros dois, de terem presenciado a
cena sem tomar atitude.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista do promotor.
Folha - O senhor já está investigando desde o ano passado a possibilidade de existência de um grupo que mata adolescentes que
saem da Febem. Por que o senhor
decidiu iniciar a apuração?
Luiz Henrique Pacini Costa -
Como nós tínhamos notado que
vários meninos egressos da entidade estavam morrendo com muita frequência, passamos a analisar
essa situação. O fato de não ter a
autoria do homicídio nos preocupa porque estamos vivendo um
momento de extrema violência.
Surge um descontentamento geral
e cria-se um clima propício para o
surgimento de movimentos que
acham que a justiça possa ser feita
com as próprias mãos.
Folha - A chacina do dia 4 poderia ter alguma relação com isso, já
que os dois rapazes de 17 anos tinham passagem pela Febem?
Pacini Costa - Tudo depende da
investigação. Eu não tenho a atribuição específica sobre esse caso,
mas como eu estava de plantão no
fim-de-semana, eu acabei tendo o
primeiro contato com a situação.
A minha preocupação inicial era
conversar com o taxista, que era a
principal testemunha que nós tínhamos até então, e com os familiares dos meninos. Nós também
fomos ouvir os policiais.
O que revela uma certa preocupação é que a decisão de ir para o
canavial foi muito rápida, muito
determinada dos dois policiais. Isso revela que já aconteceu em outras vezes; mesmo que não tenham
havido mortes, eles já deveriam ter
ido ao canavial para praticar atos
ilícitos, abusos ou agredido algumas pessoas. O que eu concluo é
que é estranho esse "ir ao canavial" e isso revela, não da parte dos
dois que denunciaram, mas dos
dois que estão sendo mais responsabilizados, uma coisa que aparentemente é rotineira.
Agora, o comando da Polícia Militar se mostrou muito preocupado com isso. Eles não estão medindo esforços para elucidar o caso.
Folha - Levantamentos mostram
que o número de adolescentes que
são assassinados depois que saem
da Febem tem aumentado. Foram
três meninos em 95, 12 em 96, 24
no ano passado e 26 em 98, até o
dia 8. O que está provocando o aumento?
Pacini Costa - Hoje em dia, qual
a perspectiva de um menino que
nasce em uma família desfavorecida? Ele tem uma escola que não é
estimulante, tem que trabalhar para poder conseguir dinheiro para
comer, não tem uma estrutura familiar que dê respaldo a ele e não
tem o Estado para suprir deficiências. Então, ele vai acabar necessariamente sendo empurrado para a
criminalidade. E a criminalidade
vai continuar crescendo porque
nós não estamos enfrentando isso
de uma forma correta.
Folha - A violência cometida pelo
adolescente hoje é diferente da de
alguns anos atrás?
Pacini Costa - Totalmente diferente. Mais ou menos em 92, nós
tínhamos uma manifestação do
comércio local dizendo que o problema eram os "meninos dos pés
no chão", que eram aqueles que ficavam no centro da cidade, praticavam pequenos furtos e que não
havia nada que pudesse ser feito.
Hoje, esses meninos não representam absolutamente nada na criminalidade porque eles não são ambiciosos. O que eles querem é ter o
que comer e ter um pouco para
comprar droga. A partir de 92,
emerge um novo tipo de violência,
uma violência que está sendo praticada em uma classe média baixa,
com um perfil diferente de moradia, escolaridade. Antes, as coisas
evoluíam de pequenos furtos a
coisas mais graves até chegar ao
roubo ou ao tráfico. Hoje não há
mais essa evolução. Os meninos já
entram no crime mais grave, como
o roubo à mão armada. A razão
disso, eu presumo que seja a propaganda maciça, o querer ter e não
poder, drogas e famílias sem estrutura.
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