Ribeirão Preto, Domingo, 13 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTIGO
Violência gera violência

CID ANTÔNIO VELLUDO SALVADOR
No convívio diário com o cidadão comum, o que se percebe prematuramente é a ênfase creditada à violência física nos grandes centros urbanos, hoje qualificada como o grande temor da sociedade.
Porém, mesmo que a referida violência física realmente exista de forma alarmante, o que é ainda mais grave e constrangedor são os demais tipos de violência, os quais ficam escondidos, de forma velada, na hipocrisia da própria sociedade que os pratica.
Esses, sim, são os principais motivos da origem da agressão física, posto que essa é o fim, enquanto os outros são meios insidiosos de violentar o semelhante.
Tais violências são, por exemplo: a falta de atenção e amparo à criança desprotegida com relação a seu futuro e oportunidades; o desrespeito à pessoa humana assolada pela fome, miséria, carência e restrita opção de esperança; a falta de oportunidade ao pai de família em manter sua prole por meio de seu próprio esforço, destruindo sua dignidade e amor-próprio, e tantas outras impostas pelo desenrolar do cotidiano insensível, que acaba por soterrar a esperança do exercício pleno de cidadania, fatalmente desembocando no laboratório irreparável do crime e da marginalidade.
Essas são violências ungidas de excessivo maior rigor do que a propalada e relatada violência física urbana tão levada a público pela mídia, porque esta é tão só o resultado da geração da semeadura plantada no seio social.
Pelo que se nota, o problema da violência é de base e gerado em cadeia. Chamado de base, no que se concerne à educação como um todo, o que demanda dizer que tal situação somente poderá melhorar consideravelmente a baixos vencimentos e soldos auferidos pelos valorosos homens, na grande maioria, que compõem seus efetivos e que, diurnamente, arriscam suas vidas em incansável trabalho na segurança da sociedade, o que vemos é um quadro triste, além de preocupante; acidentes de trânsito matam e atingem proporções alarmantes jamais vistas, criminosos chamados do "colarinho branco" continuam impunes diante dos crimes noticiados pela imprensa; o terror continua se espalhando na população que forma milícias particulares.
A sociedade ribeirão-pretana é sabedora de que, por meio do governo estadual, seremos distinguidos com a construção de uma cadeia pública e uma penitenciária e, ironicamente, perguntamos: presente ou pesadelo?
Sabemos que a pena de reclusão em nosso país hoje tem cunho regenerativo, pelo menos esse é o fundamento legal e social.
Por outro lado, chamado de geração em cadeia, pois, partindo-se da premissa efetiva de que "violência gera violência" revidando-a, iríamos revigorá-la e torná-la mais poderosa.
Em nosso país, sabemos também que o ambiente deletério do cárcere, na condição existente, não atende com eficácia a sua finalidade precípua, a qual, absolutamente, não se modificará com a construção de outras unidades nos mesmos moldes. Quando muito, atenuará os não menos gravíssimos problemas oriundos de motins que vêm ocorrendo frequentemente nos últimos anos.
Diante da narrativa pouco esperançosa e um tanto sinistra é de se indagar se existe solução.
Felizmente existe, porém penosa e remota, enquanto os homens que detêm os mandatos nos Três Poderes da República não pensarem primária e prioritariamente no bem comum, desempenhando seus papéis com coragem e retidão, colocando o ser humano como o maior tesouro da nação.


Cid A. Velludo Salvador é presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Ribeirão



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.