Ribeirão Preto, Quarta-feira, 14 de Abril de 2010

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Polícia indicia padre de Franca por estupro

Religioso de 74 anos foi denunciado por nove rapazes; ele está afastado por tempo indeterminado pelo bispo da cidade

Acusado nega tudo; a delegada afirma que depoimentos iguais a convenceram de que os rapazes foram vítimas


PAULO GODOY
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO

Depois de um inquérito que durou 20 dias, a Polícia Civil de Franca indiciou anteontem um padre da cidade por estupro e violência sexual mediante fraude. José Afonso Dé, 74, foi denunciado em março por quatro adolescentes com idades entre 13 e 16 anos.
Além dos quatro, outras cinco pessoas depuseram na Delegacia da Defesa da Mulher acusando o religioso de as molestar sexualmente. Afastado da atividade eclesiástica desde 26 de março por tempo indeterminado, o padre Dé negou ter abusado dos menores.
As denúncias contra o padre acontecem em meio a recentes escândalos envolvendo a Igreja Católica em diversos países. Em Franca, elas surgiram quando o conselho tutelar local levou os quatro rapazes até a DDM para formalizar a queixa contra José Afonso Dé.
Nos primeiros depoimentos à polícia, os rapazes disseram que os abusos aconteceram na casa paroquial com frequência semanal nos dois primeiros meses deste ano. Afirmaram também que, após o chá que servia à tarde, padre Dé os chamava, os beijava e passava a mão em seus genitais.
Os garotos chegaram a procurar seis padres e uma coordenadora paroquial para denunciar os abusos. Nenhuma providência foi tomada. No depoimento à polícia, alguns dos religiosos confirmaram que tinham conhecimento do que estava acontecendo, mas que esperavam a recuperação do bispo dom Pedro Luiz Stringhini, que havia sofrido um infarto no começo do mês passado, para tomar providências. A coordenadora disse que não acreditou no que ouvira.
Aos depoimentos iniciais, se seguiram outros cinco. Dois deles, com mais de 30 anos, disseram que sofreram abusos do padre há mais de 10 anos. Afirmaram ainda que o padre dava beijos forçados e passava a mão nos pênis deles.
Trinta pessoas foram ouvidas no inquérito, entre elas o bispo Stringhini.
A semelhança nos depoimentos dos acusadores convenceu a delegada de que os rapazes foram vítimas do assédio por parte do religioso.
"Na ausência de prova material, é a consistência do que foi falado e os detalhes desses depoimentos que serviram de base para o indiciamento", disse ela. O inquérito será remetido ao Ministério Público até o final de semana.
A Folha procurou as vítimas. Das nove, uma não atendeu as ligações e oito não quiseram falar com a reportagem. A mãe de um dos meninos disse que espera punição não apenas para o padre José Afonso Dé, bem como para os outros religiosos que ignoraram as denúncias.
"A revolta é muito grande depois de ouvir tudo o que ouvimos, principalmente porque só ficamos sabendo dos abusos na delegacia", disse a mulher, que mora no Vicente Leporace.
O filho dela, que é acólito -espécie de ajudante sacerdotal- voltou a frequentar a igreja, cujo responsável é o padre Idair Perina, um dos primeiros procurados pelos rapazes e que os teria aconselhado a esquecer tudo o que estava acontecendo.


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