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Polícia indicia padre de Franca por estupro
Religioso de 74 anos foi denunciado por nove rapazes; ele está afastado por tempo indeterminado pelo bispo da cidade
Acusado nega tudo; a delegada afirma que depoimentos iguais a convenceram de que os rapazes foram vítimas
PAULO GODOY
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO
Depois de um inquérito que
durou 20 dias, a Polícia Civil de
Franca indiciou anteontem um
padre da cidade por estupro e
violência sexual mediante fraude. José Afonso Dé, 74, foi denunciado em março por quatro
adolescentes com idades entre
13 e 16 anos.
Além dos quatro, outras cinco pessoas depuseram na Delegacia da Defesa da Mulher acusando o religioso de as molestar
sexualmente. Afastado da atividade eclesiástica desde 26 de
março por tempo indeterminado, o padre Dé negou ter abusado dos menores.
As denúncias contra o padre
acontecem em meio a recentes
escândalos envolvendo a Igreja
Católica em diversos países.
Em Franca, elas surgiram
quando o conselho tutelar local
levou os quatro rapazes até a
DDM para formalizar a queixa
contra José Afonso Dé.
Nos primeiros depoimentos
à polícia, os rapazes disseram
que os abusos aconteceram na
casa paroquial com frequência
semanal nos dois primeiros
meses deste ano. Afirmaram
também que, após o chá que
servia à tarde, padre Dé os chamava, os beijava e passava a
mão em seus genitais.
Os garotos chegaram a procurar seis padres e uma coordenadora paroquial para denunciar os abusos. Nenhuma providência foi tomada. No depoimento à polícia, alguns dos religiosos confirmaram que tinham conhecimento do que estava acontecendo, mas que esperavam a recuperação do bispo dom Pedro Luiz Stringhini,
que havia sofrido um infarto no
começo do mês passado, para
tomar providências. A coordenadora disse que não acreditou
no que ouvira.
Aos depoimentos iniciais, se
seguiram outros cinco. Dois deles, com mais de 30 anos, disseram que sofreram abusos do
padre há mais de 10 anos. Afirmaram ainda que o padre dava
beijos forçados e passava a mão
nos pênis deles.
Trinta pessoas foram ouvidas no inquérito, entre elas o
bispo Stringhini.
A semelhança nos depoimentos dos acusadores convenceu a delegada de que os rapazes foram vítimas do assédio
por parte do religioso.
"Na ausência de prova material, é a consistência do que foi
falado e os detalhes desses depoimentos que serviram de base para o indiciamento", disse
ela. O inquérito será remetido
ao Ministério Público até o final de semana.
A Folha procurou as vítimas.
Das nove, uma não atendeu as
ligações e oito não quiseram falar com a reportagem. A mãe de
um dos meninos disse que espera punição não apenas para o
padre José Afonso Dé, bem como para os outros religiosos
que ignoraram as denúncias.
"A revolta é muito grande depois de ouvir tudo o que ouvimos, principalmente porque só
ficamos sabendo dos abusos na
delegacia", disse a mulher, que
mora no Vicente Leporace.
O filho dela, que é acólito
-espécie de ajudante sacerdotal- voltou a frequentar a igreja, cujo responsável é o padre
Idair Perina, um dos primeiros
procurados pelos rapazes e que
os teria aconselhado a esquecer
tudo o que estava acontecendo.
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