Ribeirão Preto, Sábado, 14 de Outubro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Próximo Texto | Índice

SUSPEITA
Seis aeronaves com indícios de tóxicos caíram em Morro Agudo e Guará desde 99; região tem 69 pistas clandestinas
Queda de aviões aponta nova rota de tráfico

Ernesto Rodrigues - 14.set.99/Folha Imagem
Restos do avião monomotor, modelo 710C, que caiu no dia 14 de setembro do ano passado em um canavial em Guará e pegou fogo


MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO

A Polícia Federal e a Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) apuram a existência de uma rota do tráfico internacional de drogas que passa por Morro Agudo (80 km de Ribeirão).
A suspeita é que a cidade esteja sendo usada para descarregamento de entorpecentes. Quatro aviões que carregavam drogas ou que tinham vestígios de tóxicos caíram em Morro Agudo desde fevereiro de 99. No mesmo período, outras duas aeronaves caíram em Guará (93 km de Ribeirão).
A rota que está sendo investigada pela polícia é considerada um "braço" da chamada "rota caipira", que tem Ribeirão como ponto central e é responsável pela distribuição da droga nas cidades da região norte do Estado.
Na última quarta-feira, um monomotor caiu em Morro Agudo, com 20 quilos de haxixe e três caixas de munição, usadas em armas israelenses e cuja comercialização no Brasil é proibida.
A explicação da polícia para a cidade estar sendo usada como rota para o tráfico internacional é a sua vasta extensão territorial e a grande quantidade de canaviais, o que facilita o pouso e a decolagem de aviões, principalmente monomotores.
A droga, de acordo com o delegado da PF Wilson Alfredo Perpétuo, é produzida por cartéis em países como Peru, Bolívia e Colômbia, que revendem para grupos distribuidores da região.
Uma das hipóteses da polícia é a de a droga estar sendo descarregada em Morro Agudo para ser distribuída em Ribeirão Preto, Barretos e São José do Rio Preto.
"Devido ao tamanho da área rural de Morro Agudo, dá para os traficantes descarregar e desaparecer sem sabermos", disse o delegado da Dise de São Joaquim da Barra, Hugo Anselmo Ravagnani.
Há casos de policiais que percorreram até 40 quilômetros para chegar a certos locais de Morro Agudo, o que possibilita aos ocupantes dos veículos, mesmo após as aeronaves terem caído, partirem antes da chegada da polícia.
Foi o que aconteceu na quarta-feira, quando o Cessna, prefixo PT-OJP, caiu ao lado de uma pista usada para pouso de aviões de defensivos agrícolas. O avião, encontrado à tarde por trabalhadores rurais, não conseguiu pousar e acabou batendo em canaviais.
A Dise de Morro Agudo investiga a possibilidade de o prefixo do avião ser "frio". A única pista dos donos é uma publicidade de uma oficina mecânica de Campo Grande (MS), local usado como escala de aviões que partem da região para o Peru e Bolívia. Além do prefixo supostamente inexistente, o avião não tinha placa de identificação.
Técnicos do DAC (Departamento de Aviação Civil) estiveram no local do acidente para fazer a perícia. O resultado deve ser divulgado em até 60 dias.
Em toda a região de Ribeirão, há pelo menos 69 pistas clandestinas para pouso de aviões, distribuídas em 26 cidades, o que foi alvo de investigação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) estadual do Narcotráfico.
Nos últimos três anos, a polícia apreendeu mais de 500 quilos de drogas por via aérea na região, volume que pode ser maior, de acordo com o deputado estadual Renato Simões (PT), da CPI. "Há falta de fiscalização do espaço aéreo regional, o que motiva o abuso. Os aviões voam baixo para escapar dos radares", disse o relator da CPI para o transporte aéreo.


Próximo Texto: CPI diz que pode destruir pistas clandestinas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.