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Costureiras de sapato reclamam de dor
Pesquisa com pespontadeiras de Franca revela que esforço repetitivo causa tendinite e dor em ombros e pés
Tanto nas fábricas como no serviço informal em casa, trabalhadoras mal fazem pausas; muitos se apoiam em banquinhos
JULIANA COISSI
ENVIADA ESPECIAL A FRANCA
As denúncias de desgaste
no trabalho não se limitam
ao cortador de cana ou colhedor de laranja. Um estudo da
USP de Ribeirão Preto aponta
que as costureiras de sapatos
da indústria calçadista de
Franca sentem dores pelo
trabalho repetitivo.
Na dissertação de mestrado orientada pela professora
Vera Lúcia Navarro, foram
ouvidas 30 mulheres, de diferentes idades e anos de experiência na atividade.
Também se escolheu mulheres que atuavam tanto
dentro de uma fábrica regularizada, de pequeno e grande portes, como de forma terceirizada, por conta própria,
em bancas de pesponto informais em casa.
A reclamação é a mesma
de costureiras mais jovens e
das mais experientes. Elas dizem sentir dores nas mãos e
braços pelo movimento repetitivo, além de dores no pescoço, nas costas e também no
pé que fica apoiado no pedal
da máquina.
"Uma delas contou que
passou por cinco cirurgias na
mão decorrente de lesões por
LER [Lesão por Esforço Repetitivo]", diz a terapeuta ocupacional Taísa Junqueira
Prazeres, autora do estudo.
As condições de trabalho
explicam parte do problema.
A maioria conta trabalhar em
um banquinho, sem apoio
para as costas, ou em cadeiras de metal, como as de bar.
Ficam sentadas por horas e
as pausas são raras.
"Até quem trabalha nas fábricas conta que nunca foi
orientada a parar e se alongar às vezes, como prevenção", diz a terapeuta.
São casos como o da pespontadeira Regina Célia Caetano, 47. Desde os 12 anos envolvida na costura de sapato,
Regina sempre se sentou em
banquinho sem encosto. Ela
conta sentir dores nas costas
e nas articulações (leia texto
nesta página).
Os relatos também envolvem doenças como varizes
nas pernas. A luz fluorescente que incide sobre a máquina também gera reclamação
de dor nos olhos.
Segundo a professora Navarro, uma das razões do trabalho sem pausas é a forma
de remuneração da funcionária. O salário é baseado no
pagamento por produção, tal
como o caso dos boias-frias
da cana e da laranja que
atuam no campo.
"É ruim pela intensidade
do serviço e pela pressão. As
empresas aumentam o contrato e exigem que os funcionários produzam mais, dentro de um prazo apertado",
afirma Navarro.
Os informais, principalmente, abusam do limite do
próprio corpo no fim de ano,
porque sabem que a produção cairá até o Carnaval.
Presidente do Sindifranca,
sindicato que reúne as indústrias, Carlos Brigagão diz que
a orientação da entidade é
que as associadas cumpram
as normas de saúde do trabalhador exigidas na lei.
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