Ribeirão Preto, Domingo, 15 de Agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Costureiras de sapato reclamam de dor

Pesquisa com pespontadeiras de Franca revela que esforço repetitivo causa tendinite e dor em ombros e pés

Tanto nas fábricas como no serviço informal em casa, trabalhadoras mal fazem pausas; muitos se apoiam em banquinhos

JULIANA COISSI
ENVIADA ESPECIAL A FRANCA

As denúncias de desgaste no trabalho não se limitam ao cortador de cana ou colhedor de laranja. Um estudo da USP de Ribeirão Preto aponta que as costureiras de sapatos da indústria calçadista de Franca sentem dores pelo trabalho repetitivo.
Na dissertação de mestrado orientada pela professora Vera Lúcia Navarro, foram ouvidas 30 mulheres, de diferentes idades e anos de experiência na atividade.
Também se escolheu mulheres que atuavam tanto dentro de uma fábrica regularizada, de pequeno e grande portes, como de forma terceirizada, por conta própria, em bancas de pesponto informais em casa.
A reclamação é a mesma de costureiras mais jovens e das mais experientes. Elas dizem sentir dores nas mãos e braços pelo movimento repetitivo, além de dores no pescoço, nas costas e também no pé que fica apoiado no pedal da máquina.
"Uma delas contou que passou por cinco cirurgias na mão decorrente de lesões por LER [Lesão por Esforço Repetitivo]", diz a terapeuta ocupacional Taísa Junqueira Prazeres, autora do estudo.
As condições de trabalho explicam parte do problema. A maioria conta trabalhar em um banquinho, sem apoio para as costas, ou em cadeiras de metal, como as de bar. Ficam sentadas por horas e as pausas são raras.
"Até quem trabalha nas fábricas conta que nunca foi orientada a parar e se alongar às vezes, como prevenção", diz a terapeuta.
São casos como o da pespontadeira Regina Célia Caetano, 47. Desde os 12 anos envolvida na costura de sapato, Regina sempre se sentou em banquinho sem encosto. Ela conta sentir dores nas costas e nas articulações (leia texto nesta página).
Os relatos também envolvem doenças como varizes nas pernas. A luz fluorescente que incide sobre a máquina também gera reclamação de dor nos olhos.
Segundo a professora Navarro, uma das razões do trabalho sem pausas é a forma de remuneração da funcionária. O salário é baseado no pagamento por produção, tal como o caso dos boias-frias da cana e da laranja que atuam no campo.
"É ruim pela intensidade do serviço e pela pressão. As empresas aumentam o contrato e exigem que os funcionários produzam mais, dentro de um prazo apertado", afirma Navarro.
Os informais, principalmente, abusam do limite do próprio corpo no fim de ano, porque sabem que a produção cairá até o Carnaval.
Presidente do Sindifranca, sindicato que reúne as indústrias, Carlos Brigagão diz que a orientação da entidade é que as associadas cumpram as normas de saúde do trabalhador exigidas na lei.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Em casa, pespontadeiros param apenas para comer
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.