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Doméstica 2.0
Empregadas de Ribeirão
ganham até R$ 3.000
por mês graças ao ritmo de
duas a três faxinas
por dia, chegam a pagar
faculdade e a comprar
carro zero-quilômetro e
até apartamento
HÉLIA ARAUJO
DE RIBEIRÃO PRETO
O velho perfil da empregada doméstica, de baixa escolaridade e de família humilde, está deixando de ser uma
regra para se tornar exceção.
A nova era das domésticas
revela uma profissional moderna, que investe nela mesma, na família e em bens.
Algumas ganham até R$
3.000, têm carro zero-quilômetro e, entre outras atividades, fazem faculdade e pagam o estudo dos filhos.
Faxineira há dez anos, Marilaine Camargo, 35, está
dentro desse novo perfil.
Com o dinheiro das faxinas, ela comprou há dois
anos um Honda Civic e está
juntando dinheiro para comprar o próprio apartamento,
que ficará pronto em 2012.
"Trabalho bastante, normalmente das 6h30 às 22h,
mas ganho o suficiente para
comprar o que quero para
mim e para os meus filhos."
Camargo ganha em média
R$ 3.000 por mês, renda que
usa para pagar a faculdade
de um dos dois filhos.
"Agora meu objetivo é pagar o estudo deles. Tudo que
tenho devo ao trabalho como
doméstica e tenho muito orgulho disso", afirma.
O valor cobrado pela diária em Ribeirão varia de R$ 50
a R$ 200, dependendo do tamanho da casa e do tipo de
trabalho a ser feito. Muitas
fazem entre duas e três faxinas no mesmo dia.
"Hoje escolho onde e o que
vou fazer no trabalho. Não
gosto de passar roupas e só
trabalho onde isso não é exigido", diz a diarista Maria
Aparecida Souza, 58.
A diarista Tânia Leila Bento de Sá, 43, trabalha cinco
dias por semana. Há quatro
meses, colocou silicone nos
seios e fez plástica na barriga. Tudo foi pago com o ofício de doméstica.
Há 12 anos na profissão,
Tânia conta que foi graças às
faxinas que conseguiu criar
os quatro filhos, com idades
entre 11 e 19 anos.
"Meu marido saiu de casa
quando eu estava grávida da
minha caçula. Tinha uma vida boa e de repente perdi tudo. Fazer faxina foi a salvação da minha família."
Hoje ela e os filhos moram
em uma casa própria e têm
dois carros. A televisão de
plasma e os eletroeletrônicos
de última geração garantem
a diversão dela, dos filhos e
do novo marido, com que se
casou há dois anos.
"Às vezes fico até constrangida, porque vou fazer
faxina em casas muito mais
simples do que a minha."
Os filhos de Tânia estudam
em uma escola particular de
classe alta, mas eles não contam para os amigos que a
mãe é doméstica.
"Depois que fiz a plástica,
tive de me afastar e tenho feito poucas faxinas. Agora
meus filhos querem que eu
pare para fazer outras coisas.
Eles têm vergonha de falar
que sou doméstica para os
amiguinhos da escola."
Tânia, porém, tem dúvidas
se teria o mesmo padrão de
vida se parar de trabalhar.
"Ganho cerca de R$ 400
por semana. Em qual outro
emprego vou conseguir ganhar o mesmo? Não tenho estudo e sei que na minha idade é mais difícil conseguir
um bom emprego."
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