Ribeirão Preto, Domingo, 17 de Outubro de 2010

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Doméstica 2.0

Empregadas de Ribeirão ganham até R$ 3.000 por mês graças ao ritmo de duas a três faxinas por dia, chegam a pagar faculdade e a comprar carro zero-quilômetro e até apartamento

HÉLIA ARAUJO
DE RIBEIRÃO PRETO

O velho perfil da empregada doméstica, de baixa escolaridade e de família humilde, está deixando de ser uma regra para se tornar exceção.
A nova era das domésticas revela uma profissional moderna, que investe nela mesma, na família e em bens.
Algumas ganham até R$ 3.000, têm carro zero-quilômetro e, entre outras atividades, fazem faculdade e pagam o estudo dos filhos.
Faxineira há dez anos, Marilaine Camargo, 35, está dentro desse novo perfil.
Com o dinheiro das faxinas, ela comprou há dois anos um Honda Civic e está juntando dinheiro para comprar o próprio apartamento, que ficará pronto em 2012.
"Trabalho bastante, normalmente das 6h30 às 22h, mas ganho o suficiente para comprar o que quero para mim e para os meus filhos."
Camargo ganha em média R$ 3.000 por mês, renda que usa para pagar a faculdade de um dos dois filhos.
"Agora meu objetivo é pagar o estudo deles. Tudo que tenho devo ao trabalho como doméstica e tenho muito orgulho disso", afirma.
O valor cobrado pela diária em Ribeirão varia de R$ 50 a R$ 200, dependendo do tamanho da casa e do tipo de trabalho a ser feito. Muitas fazem entre duas e três faxinas no mesmo dia.
"Hoje escolho onde e o que vou fazer no trabalho. Não gosto de passar roupas e só trabalho onde isso não é exigido", diz a diarista Maria Aparecida Souza, 58.
A diarista Tânia Leila Bento de Sá, 43, trabalha cinco dias por semana. Há quatro meses, colocou silicone nos seios e fez plástica na barriga. Tudo foi pago com o ofício de doméstica.
Há 12 anos na profissão, Tânia conta que foi graças às faxinas que conseguiu criar os quatro filhos, com idades entre 11 e 19 anos.
"Meu marido saiu de casa quando eu estava grávida da minha caçula. Tinha uma vida boa e de repente perdi tudo. Fazer faxina foi a salvação da minha família."
Hoje ela e os filhos moram em uma casa própria e têm dois carros. A televisão de plasma e os eletroeletrônicos de última geração garantem a diversão dela, dos filhos e do novo marido, com que se casou há dois anos.
"Às vezes fico até constrangida, porque vou fazer faxina em casas muito mais simples do que a minha."
Os filhos de Tânia estudam em uma escola particular de classe alta, mas eles não contam para os amigos que a mãe é doméstica.
"Depois que fiz a plástica, tive de me afastar e tenho feito poucas faxinas. Agora meus filhos querem que eu pare para fazer outras coisas.
Eles têm vergonha de falar que sou doméstica para os amiguinhos da escola."
Tânia, porém, tem dúvidas se teria o mesmo padrão de vida se parar de trabalhar.
"Ganho cerca de R$ 400 por semana. Em qual outro emprego vou conseguir ganhar o mesmo? Não tenho estudo e sei que na minha idade é mais difícil conseguir um bom emprego."


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