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Presa tem que entregar o filho um dia após o parto
Pela lei, presa teria direito a ficar seis meses com bebê, mas faltam vagas
Superlotada, cadeia de Altinópolis tem ainda mais três grávidas e uma idosa de 69 anos entre as 105 detentas
DA ENVIADA ESPECIAL A ALTINÓPOLIS
Na cadeia pública de Altinópolis, a mais superlotada
da região em números absolutos, 105 presas vivem num
espaço projetado para 40.
Em meio a tantas histórias,
a de Danielle Caetano Monteiro, 21, mostra de forma clara a deficiência do sistema
carcerário do Estado.
Na última quarta-feira, ela
foi internada na Santa Casa
da cidade para ter seu segundo filho. No dia seguinte, foi
obrigada a entregar o bebê
para sua mãe.
"Fiquei só um dia e meio
com meu filho nos braços e
nunca senti dor como a de
ver minha mãe indo embora
com meu bebê. Tenho muito
leite e não posso dar de mamar porque nos afastaram."
Pela Lei de Execuções Penais, a presa que dá à luz tem
direito de permanecer junto
com o filho por até seis meses
em uma unidade apropriada
para que possa amamentá-lo. Depois, o bebê deve ficar
com familiares.
No entanto, o único centro
hospitalar do sistema penitenciário, em São Paulo, tem
apenas cem vagas e uma
grande fila de espera.
Outras três mulheres presas em Altinópolis estão grávidas -duas delas com oito
meses de gestação- e dizem
já terem sido informadas de
que não há vagas em São
Paulo. Portanto, também terão que entregar seus filhos a
parentes logo após o parto.
"Não gosto nem de pensar
que essa hora vai chegar.
Quero muito conseguir uma
vaga em São Paulo e ficar
com minha filha mais um
tempo", disse Karina dos
Reis Lima, 25.
"Essas presas não poderiam ficar sem os filhos. É responsabilidade do poder público resolver essa situação",
disse o coordenador regional
da Defensoria Pública de SP,
Victor Hugo Albernaz Júnior.
Ainda de acordo com ele, a
Defensoria vai para Altinópolis na próxima semana
analisar os processos e verificar se as presas podem receber algum benefício ou se
uma ação civil pública será
instaurada para que o Estado
cumpra a lei.
Em julho deste ano, um recém-nascido passou uma semana na cadeia de Tambaú
com a mãe, aguardando uma
vaga em São Paulo.
Na ocasião, a presa e o bebê só foram transferidos depois que a imprensa divulgou o caso.
Procurada, a assessoria da
SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) não se
manifestou sobre os casos.
CONDENAÇÕES
Algumas mulheres presas
em Altinópolis deveriam estar em penitenciárias, pois já
foram julgadas e condenadas. É o caso da costureira
Lindaura Souza da Silva, 69,
a mais idosa da cadeia.
Presa há nove meses por
tráfico de drogas, ela foi condenada a um ano e 11 meses
de prisão e deve cumprir toda
a pena na cadeia.
Já a presa mais jovem da
unidade, Ana Paula de Oliveira, 18, espera ser transferida depois do julgamento.
"A cadeia está muito
cheia. Durmo no chão, em
um colchão fininho, e divido
a cela com outras 14 companheiras. É muito triste viver
aqui. Não desejo essa vida
para ninguém."
(HÉLIA ARAUJO)
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