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Crédito consignado cresce e vira problema para servidor
Em Franca, Barretos e Araraquara, mais da metade dos funcionários têm dívidas
Prefeitura de Franca criou programa de reabilitação financeira para ajudar servidores; especialista
diz que é preciso limite
JEAN DE SOUZA
DA FOLHA RIBEIRÃO
"Fugiu um pouco do controle". Transformada em números, a frase dita pelo auxiliar de
enfermagem Francisco (nome
fictício) corresponde a um desconto de quase R$ 600 no salário líquido de R$ 1.100 que recebe da Prefeitura de Franca. O
desconto é referente a parcelas
de empréstimos consignados
em folha feitos pelo servidor
-ele tem pela frente mais 60
meses de "mordida" dos bancos
antes de se ver livre das dívidas.
Francisco é um dos incluídos
em um projeto de reabilitação
financeira que vem sendo testado pela Prefeitura de Franca.
Ele afirma ter recorrido à assistência por ver ameaçada a situação de sua família. "Tem um
problema e você pega dinheiro,
daí pega outro e vai acumulando, o rombo fica maior."
Na mesma situação de Francisco estão muitos outros funcionários públicos da região.
Fácil e com juros mais baratos
do que os praticados pelo mercado, o crédito consignado ganhou espaço. O crescimento
dessa modalidade de empréstimo, porém, não está livre de
riscos. Em importantes prefeituras da região, mais da metade
dos servidores já tem parte de
seus salários enviada diretamente aos bancos credores.
É o caso de Araraquara, onde
2.945 dos 5.291 servidores tiveram parte dos salários descontados por causa de empréstimos bancários em fevereiro. A
proporção em Barretos é maior
-em fevereiro, 2.227 dos 3.777
servidores tiveram retida uma
parte dos rendimentos.
O problema é ainda maior em
Franca. Desde janeiro, a prefeitura da cidade vem trabalhando para diminuir o estrago dos
consignados no orçamento do
funcionalismo. Para isso, decidiu adotar um programa de
reabilitação que tem aulas de
educação financeira e colocação profissional de parentes de
servidores, para que eles ajudem a saldar as dívidas.
Segundo levantamento da
Secretaria da Administração de
Franca, pelo menos 200 servidores ultrapassaram o limite
legal de 30% de desconto no salário para pagamento de dívidas. Dos 3.800 servidores de
Franca, 1.900 têm empréstimos consignados.
"Há casos de servidores que
estão recebendo R$ 20", disse o
secretário da Administração
Jerônimo Sérgio Pinto.
Para o professor da FEA-RP
(Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de
Ribeirão Preto), da USP, Alberto Borges Matias, as prefeituras
podem evitar os excessos no
endividamento de funcionários
criando limites mais rígidos.
Foi o que aconteceu em Barretos, onde uma lei municipal fixa
em 25% do salário líquido do
funcionário o teto do que pode
ser descontado pelos bancos.
"Outra ação do interveniente
[prefeituras] é a criação de cursos de finanças pessoais e de
um serviço psicológico de apoio
a pessoas em dificuldades financeiras. Pode-se ter ainda
um livrete de crédito responsável e consciente."
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