Ribeirão Preto, Segunda-feira, 19 de Abril de 2010

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Crédito consignado cresce e vira problema para servidor

Em Franca, Barretos e Araraquara, mais da metade dos funcionários têm dívidas

Prefeitura de Franca criou programa de reabilitação financeira para ajudar servidores; especialista diz que é preciso limite

JEAN DE SOUZA
DA FOLHA RIBEIRÃO

"Fugiu um pouco do controle". Transformada em números, a frase dita pelo auxiliar de enfermagem Francisco (nome fictício) corresponde a um desconto de quase R$ 600 no salário líquido de R$ 1.100 que recebe da Prefeitura de Franca. O desconto é referente a parcelas de empréstimos consignados em folha feitos pelo servidor -ele tem pela frente mais 60 meses de "mordida" dos bancos antes de se ver livre das dívidas.
Francisco é um dos incluídos em um projeto de reabilitação financeira que vem sendo testado pela Prefeitura de Franca. Ele afirma ter recorrido à assistência por ver ameaçada a situação de sua família. "Tem um problema e você pega dinheiro, daí pega outro e vai acumulando, o rombo fica maior."
Na mesma situação de Francisco estão muitos outros funcionários públicos da região. Fácil e com juros mais baratos do que os praticados pelo mercado, o crédito consignado ganhou espaço. O crescimento dessa modalidade de empréstimo, porém, não está livre de riscos. Em importantes prefeituras da região, mais da metade dos servidores já tem parte de seus salários enviada diretamente aos bancos credores.
É o caso de Araraquara, onde 2.945 dos 5.291 servidores tiveram parte dos salários descontados por causa de empréstimos bancários em fevereiro. A proporção em Barretos é maior -em fevereiro, 2.227 dos 3.777 servidores tiveram retida uma parte dos rendimentos.
O problema é ainda maior em Franca. Desde janeiro, a prefeitura da cidade vem trabalhando para diminuir o estrago dos consignados no orçamento do funcionalismo. Para isso, decidiu adotar um programa de reabilitação que tem aulas de educação financeira e colocação profissional de parentes de servidores, para que eles ajudem a saldar as dívidas.
Segundo levantamento da Secretaria da Administração de Franca, pelo menos 200 servidores ultrapassaram o limite legal de 30% de desconto no salário para pagamento de dívidas. Dos 3.800 servidores de Franca, 1.900 têm empréstimos consignados.
"Há casos de servidores que estão recebendo R$ 20", disse o secretário da Administração Jerônimo Sérgio Pinto.
Para o professor da FEA-RP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto), da USP, Alberto Borges Matias, as prefeituras podem evitar os excessos no endividamento de funcionários criando limites mais rígidos. Foi o que aconteceu em Barretos, onde uma lei municipal fixa em 25% do salário líquido do funcionário o teto do que pode ser descontado pelos bancos.
"Outra ação do interveniente [prefeituras] é a criação de cursos de finanças pessoais e de um serviço psicológico de apoio a pessoas em dificuldades financeiras. Pode-se ter ainda um livrete de crédito responsável e consciente."


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