Ribeirão Preto, Sábado, 19 de junho de 1999

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Falta de emprego cria "bolsão" de migrantes

Sem trabalho fixo e vivendo em favelas, milhares de pessoas representam o outro lado da migração
Lucio Piton/Folha Imagem
O migrante Cristóvão dos Santos, que veio da Bahia


da Folha Ribeirão

O pedreiro Cristovão dos Santos, 30, deixou a cidade de Gongogi, no interior da Bahia, para procurar trabalho em Ribeirão Preto.
Santos trouxe a mulher, a filha de 1 ano e a família do cunhado, Manoel da Paixão Silva, 29, que é casado e tem dois filhos.
Sem alcançar o objetivo, os sete moram em um cômodo que mede seis por quatro metros, no bairro Sem-Teto, zona norte, onde um horto florestal foi ocupado irregularmente. A área é considerada uma das mais violentas da cidade e um dos "bolsões" de migrantes.
A família do pedreiro representa o outro lado da migração. Anualmente, 11 mil migrantes chegam a Ribeirão e, sem trabalho fixo, vão morar em favelas e vivem de subempregos. Já são 27 mil pessoas morando em barracos na cidade.
"Eu até tenho conseguido trabalho, mas meu cunhado, que é mecânico, não tem achado nada", afirmou o pedreiro Santos.
Os dois saíram da Bahia porque não encontravam emprego.
O cômodo onde a família vive tem luz elétrica e água encanada, mas falta rede de esgoto e a escritura do terreno.
Desde que chegou, há um ano, Santos emprega boa parte do dinheiro que recebe nos "bicos" na construção de mais dois quartos, uma cozinha e um corredor.
Nenhum dos dois tem registro em carteira de trabalho.

Realidade
Segundo o Cetrem (Central de Triagem e Encaminhamento ao Migrante), as 11 mil pessoas que passam pela cidade todos os anos, desde 89, são um número estimado porque nem todos que chegam procuram ajuda do órgão.
Além disso, há pessoas que passam mais de uma vez no mesmo ano pelo Cetrem.
"A maioria dos migrantes nos procura por causa de emprego, mas não temos conseguido nem resolver o problema para os que moram aqui", disse Rose Ane Martins Imori, coordenadora técnica do órgão da prefeitura.
Segundo estudo do Cetrem, das pessoas atendidas no ano passado, 50% não tinham completado o ensino fundamental (1ª a 4ª série) e 20% eram analfabetas.
No Cetrem, os migrantes passam por uma triagem e são encaminhados principalmente para balcões de empregos e unidades de saúde. Eles podem ficar no máximo sete dias alojados.
Sem emprego fixo, eles acabam na casa de parentes e nas favelas que se espalham pela área urbana.
Censo realizado pela Secretaria da Cidadania e do Desenvolvimento Social, em 97, mostrou que 27 mil pessoas viviam em barracos de madeira ou em cômodos de tijolos, todos em áreas clandestinas.
O número é três vezes superior ao identificado pela prefeitura três anos antes. O levantamento deverá ser repetido este ano.
É como se houvesse uma cidade maior do que Cravinhos, que tem hoje 24 mil habitantes, só com habitantes de favelas.
O aumento do processo de favelamento coincide com o período em que o número de adolescentes apreendidos com drogas pela polícia cresceu 13 vezes.
De 94 até 98, por exemplo, a quantidade de garotos apreendidos por tráfico passou de 38 para 505, segundo a polícia.
No final do mês passado, a polícia e a prefeitura derrubaram barracos, na favela do Simioni, que estariam servindo como base para traficantes. (ALESSANDRO SILVA)

Motivos que atraem
Busca por emprego: 72%
Localização de parentes: 10%
Providenciar documentos: 7,5%
Tratamento de saúde: 7,5%
Outros motivos: 3%
Profissões: lavradores, serviços gerais e pedreiros
Escolaridade: 94% não completaram o ensino fundamental ou são analfabetos

Origem dos migrantes
Estado de São Paulo: 63%
Minas Gerais: 18%
Paraná: 4%
Goiás: 3%
Bahia: 2%
Outros: 10%
Estado civil
solteiro: 58%
amasiado: 13%
casado: 17%




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