Ribeirão Preto, Quinta-feira, 20 de Novembro de 2008

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Migrante da cana pode ser extinto na região

Com safra maior e mecanização, usinas estudam substituir os acordos provisórios por contratos permanentes de trabalho

A Pastoral do Migrante de Guariba apóia a mudança, mas já registra críticas de trabalhadores que não querem mudar de regime


Silva Junior/Folha Imagem
A cortadora Ednalva Inácio prefere manter contrato temporário


ROBERTO MADUREIRA
ENVIADO ESPECIAL A DOBRADA

No próximo ano, as usinas da região de Ribeirão Preto podem trocar os contratos temporários de trabalho com os safristas por contratos permanentes, com 11 meses de atividade e férias remuneradas de 30 dias no final da safra. Na prática, a mudança pode significar o fim de uma figura que habita a região há muitos anos: o migrante da cana.
A informação é dos próprios trabalhadores, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guariba, o maior da região de Ribeirão, e foi confirmada pela Unica (União das Indústrias de Cana-de-Açúcar), que representa as usinas.
O início da safra 2009/2010 está marcado para abril, mas deve ser antecipado. "Muitos [bóias-frias] já vieram comentar conosco essa possibilidade de ter que ficar o tempo todo aqui por conta do aumento do período da atual safra, que deve acabar só em dezembro, e a antecipação da próxima", disse o presidente do sindicato, Wilson Rodrigues da Silva.
Além da extensão do período de safra, que somado ao plantio toma cerca de 11 meses do ano, outro motivo apontado pela Unica para a mudança é o avanço da mecanização.
"Com menos trabalhadores [em virtude da mecanização do corte], é possível dar esse privilégio aos que ficarem. Isso já acontece isoladamente, mas deve se consolidar neste próximo ano", afirmou o diretor regional da Unica, Sérgio Prado.
A Pastoral do Migrante de Guaíra, que assiste aos trabalhadores que vêm de outros Estados, apóia a mudança, embora já receba reclamações de trabalhadores que se opõem a deixar de ser safristas.
Os trabalhadores que moram na região com as famílias consideram a medida ideal, uma vez que terão segurança e estabilidade, antes algo inexistente no trabalho rural.
Já os migrantes não gostam porque isso significa mais tempo longe da família e da terra natal. "Muitos têm compromissos em suas cidades e já estavam acostumados com o sistema de safra", afirmou a irmã Inês Facioli, da Pastoral do Migrante, em Guariba.
A integralização do contrato dos safristas é legal, segundo o procurador regional do trabalho Sílvio Beltramelli Neto, que atua na região. "Do ponto de vista legal, não há impedimento. No entanto, a situação de exigir muito e remunerar pouco, peculiar da atividade rural, causa esta aberração, que é um trabalhador não querer a estabilidade", afirmou.


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