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Migrante da cana pode ser extinto na região
Com safra maior e mecanização, usinas estudam substituir os acordos provisórios por contratos permanentes de trabalho
A Pastoral do Migrante de Guariba apóia a mudança, mas já registra críticas de trabalhadores que não querem mudar de regime
Silva Junior/Folha Imagem
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A cortadora Ednalva Inácio prefere manter contrato temporário |
ROBERTO MADUREIRA
ENVIADO ESPECIAL A DOBRADA
No próximo ano, as usinas da
região de Ribeirão Preto podem trocar os contratos temporários de trabalho com os safristas por contratos permanentes, com 11 meses de atividade e férias remuneradas de
30 dias no final da safra. Na
prática, a mudança pode significar o fim de uma figura que
habita a região há muitos anos:
o migrante da cana.
A informação é dos próprios
trabalhadores, do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Guariba, o maior da região de Ribeirão, e foi confirmada pela Unica
(União das Indústrias de Cana-de-Açúcar), que representa as
usinas.
O início da safra 2009/2010
está marcado para abril, mas
deve ser antecipado. "Muitos
[bóias-frias] já vieram comentar conosco essa possibilidade
de ter que ficar o tempo todo
aqui por conta do aumento do
período da atual safra, que deve
acabar só em dezembro, e a antecipação da próxima", disse o
presidente do sindicato, Wilson Rodrigues da Silva.
Além da extensão do período
de safra, que somado ao plantio
toma cerca de 11 meses do ano,
outro motivo apontado pela
Unica para a mudança é o avanço da mecanização.
"Com menos trabalhadores
[em virtude da mecanização do
corte], é possível dar esse privilégio aos que ficarem. Isso já
acontece isoladamente, mas
deve se consolidar neste próximo ano", afirmou o diretor regional da Unica, Sérgio Prado.
A Pastoral do Migrante de
Guaíra, que assiste aos trabalhadores que vêm de outros Estados, apóia a mudança, embora já receba reclamações de trabalhadores que se opõem a deixar de ser safristas.
Os trabalhadores que moram
na região com as famílias consideram a medida ideal, uma vez
que terão segurança e estabilidade, antes algo inexistente no
trabalho rural.
Já os migrantes não gostam
porque isso significa mais tempo longe da família e da terra
natal. "Muitos têm compromissos em suas cidades e já estavam acostumados com o sistema de safra", afirmou a irmã
Inês Facioli, da Pastoral do Migrante, em Guariba.
A integralização do contrato
dos safristas é legal, segundo o
procurador regional do trabalho Sílvio Beltramelli Neto, que
atua na região. "Do ponto de
vista legal, não há impedimento. No entanto, a situação de
exigir muito e remunerar pouco, peculiar da atividade rural,
causa esta aberração, que é um
trabalhador não querer a estabilidade", afirmou.
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