Ribeirão Preto, Quinta-feira, 20 de Novembro de 2008

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Efetivação no trabalho é sonho para uns bóias-frias e pesadelo para outros

DO ENVIADO ESPECIAL A DOBRADA

Safrista temporário ou empregado rural permanente? Os cortadores de cana da região se dividem quanto à proposta de "efetivação" que pode virar uma realidade no setor sucroalcooleiro.
Migrantes que vêm sozinhos para a região deixando em suas cidades, geralmente do Nordeste, mulheres e filhos consideram a medida ruim. Já os trabalhadores da região ou que se mudaram definitivamente para cá em busca de trabalho no meio rural consideram que a mudança seria a realização de um sonho. Sete bóias-frias vindos de Anajatuba, no interior do Maranhão, e que moram em uma casa no centro de Dobrada, cidade de 8.000 habitantes, não querem sequer pensar em ficar em definitivo na região.
"Se só tiver a opção de ficar como efetivo, prefiro voltar a trabalhar na roça, o que eu fazia lá no Maranhão. Pra quem é de longe, a melhor coisa é voltar pra casa, ficar uns três ou quatro meses, dar entrada no seguro-desemprego e depois voltar no ano seguinte", disse Raimundo Sampaio, 38, que deixou a mulher e uma filha a sua espera no Maranhão.
A opinião é compartilhada pelos seus companheiros de moradia, Jocimar Licar, 26, e José Carlos Martins, 23. Eles chegaram em janeiro, para o plantio e esperam voltar para casa no início de dezembro.
Pensamento contrário tem Domingos Vicente da Silva, 30, que veio de Arapiraca (AL) com a mulher, Valdice, e os dois filhos, Cauã e Natanael. Nem mesmo o "acerto", dinheiro recebido pela rescisão de contrato ao fim da safra, o seduz.
"Seria a realização de um sonho poder ter um Natal sossegado, sem ter que procurar emprego no outro ano. Eu e minha mulher [que também trabalha no canavial] pensamos assim".
A certeza de que vai receber o dinheiro da rescisão, que varia de acordo com a produtividade do trabalhador, mas gira em torno de R$ 2 mil, é a razão do esforço de alguns trabalhadores. Ednalva Inácio, 20, que mora com o marido em Dobrada e trabalha na usina Bonfim, prefere se manter como safrista devido ao "acerto".
"Prefiro do jeito que está, mesmo já morando por aqui. O dinheiro do acerto é essencial para nossa casa", afirmou a moça, que mora com o marido.
Existem ainda quem busque um conselho com os que já são efetivos: "Muitos já vieram me perguntar sobre a vida de efetivo. Eu digo que prefiro ela, pois sei que tenho meu emprego e, se não fizer nada de errado, ele vai estar lá", disse Cláudio Joaquim da Rocha, 52, natural de Pernambuco e contratado há cinco anos para o serviço de limpeza do campo na fazenda Palmares, em Guariba.


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